Vira e mexe ouve-se alguém dizer que “não se arrepende de nada na vida” e, de outro lado, um que encara os erros passados como oportunidades de aprendizado.
Tirando a conotação religiosa da palavra, arrependimento traz sempre à mente a ideia de fazer diferente, de mudar no presente ou no futuro algo que deu errado no passado. É o sentimento que dá azo à transformação.
Com frequência, lembro-me das experiências que tive como gestor de uma equipe de atendimento ao cliente da Netflix alguns anos atrás. Analisar inúmeros episódios daquela época com a mentalidade que tenho hoje me faz pensar em arrependimento e fracasso. Explico.
Fracasso, porque houve pessoas que eu não consegui ajudar, não consegui fazer com que vissem as oportunidades de crescimento e desenvolvimento que eu via nelas – e isso me dá a sensação de que falhei; e arrependimento, porque teria encarado situações e pessoas de forma diferente, talvez teria ouvido mais, deixado que se expressassem mais.
É claro que anos depois, com o filtro da maturidade, a análise fria e desinteressada daquelas experiências outrora tão intensas e extenuantes se torna muito fácil. Àqueles que me referi ter falhado, é lógico que eles eram as pessoas mais difíceis de lidar na equipe, as pessoas mais desmotivadas, às vezes maus funcionários. Quando eu digo que fracassei não é porque fui displicente, mas porque não soube atingir um nível mais elevado de motivação e liderança. Quando digo que me arrependo, não é porque eu não dei meu melhor, mas porque eu realmente não sabia como agir, era imaturo, apressado, impaciente, tinha uma visão limitada das coisas.
Uma experiência marcante ocorreu certo dia quando recebi um e-mail avisando que a demissão da Gisele estava agendada para as 16 horas. Fiquei desalentado, incrédulo. Eu havia solicitado seu desligamento meses atrás, porém agora ela apresentava números muito melhores e estava bem entrosada com a equipe. Perguntei ao meu superior se poderia fazer algo, mas ele disse que não era possível voltar atrás. No intervalo, chamei a Gisele para conversar e eu – que já havia demitido mais de uma dezena de pessoas – comecei a chorar e não conseguia nem dizer a ela o que estava acontecendo. Após algum tempo ela disse: “é demissão? Eu estou sendo demitida?”. Ao final ela que me consolou, disse que estava tudo bem, e eu senti que estava mesmo.
Curiosamente, o caso da Gisele (e lógico que esse não é o nome real dela) me mostrou que eu não havia falhado com ela. Meu esforço e dedicação para mantê-la na equipe a despeito de sua dificuldade em acompanhar os resultados dos outros a ajudaram a ver que ela poderia fazer mais e, quando a demissão foi inevitável, essa compreensão a ajudou a perceber que suas habilidades poderiam ser utilizadas em outro tipo de trabalho, mas não que ela fosse incompetente.
O título acima é mais uma força de expressão do que de fato um sentimento genuíno de querer voltar ao passado e fazer diferente. Acredito que há um momento ideal para cada aprendizado e, se não tivesse sido naquela hora, teria acontecido em outro local, mas os erros precisavam ser cometidos de uma forma ou de outra, para que a circunstância que leva ao aprendizado ocorresse. As conversas desafiadoras, os desapontamentos, as advertências e até mesmo demissões foram e são essenciais para o crescimento individual e das organizações.
A capacidade de lidar com esses altos e baixos tem sido justamente o fiel da balança que determina os bons e maus funcionários entre as novas gerações. A resiliência só virou palavra da moda no mundo corporativo exatamente porque a falta dela tem escancarado a dificuldade que a geração atual tem de encarar os inevitáveis desapontamentos. A verdade é que, se arrependimento matasse, seria uma boa causa para se morrer!