A jornalista Liziane Virgílio veraneia na praia de Búzios, em Nísia Floresta, há mais de 30 anos. As caminhadas na praia fazem parte de um hábito antigo e sempre foi normal deparar-se com lixo no trajeto, o que fez surgir também o costume de levar sacolas para recolher os objetos descartados por outras pessoas como uma forma de diminuir o problema, mas logo percebeu que era mais grave do que pensava: “Certa vez fiz uma reportagem sobre o tema, e a entrevistada alertou para uma estimativa assustadora: no ritmo atual de poluição, em 2050 teremos mais plástico que peixe nos oceanos. Então, decidi começar a fazer mais que a minha obrigação de não jogar lixo nas praias. ”

Ela relata que decidiu tomar medidas individuais que teriam um grande impacto no seu cotidiano. “Comecei a recolher o lixo que outras pessoas deixavam, durante minhas caminhadas na praia. Não tenho ideia de quanto já recolhi, mas sei que é muito. A cada caminhada, nós voltamos com pelo menos 3 sacolas cheias de lixo. O que mais me assusta é que tem de tudo: canudos plásticos, garrafas e latas, embalagens e palitos de picolé são os mais comuns. Mas essa semana nós encontramos de hélice de ventilador a pneus, e fraldas descartáveis! ”



A jornalista lembra que o lixo na praia não é um problema novo, mas observa que com o passar das décadas tem se intensificado. Ela conta que, certa vez, recolhia lixo com a mãe e ouviram que o que estavam fazendo não mudaria muita coisa. “Claro que a coleta dos lixos deve ser uma ação em ampla escala, mas se cada um fizer a sua parte e recolher o próprio lixo, esse acúmulo de resíduos terá uma diminuição considerável”.
Mesmo com os desafios enfrentados, a jornalista usa as redes sociais como uma forma de desabafo e mobilização social, trazendo questões que podem colaborar na educação ambiental. “Eu acredito muito na força do exemplo. Minhas postagens nas redes sociais mostrando as coletas já servem para levantar uma discussão sobre o assunto e dar visibilidade ao tema. Alguns já disseram que vão começar a fazer o mesmo quando forem à praia. É um universo pequeno de pessoas, mas a ideia vai se espalhando”.
O IMPACTO DO LIXO NOS OCEANOS
Cada vez mais o debate sobre o impacto do aumento do lixo nos oceanos vem ganhando espaço na mídia e se tornando pauta também no cenário político. Anualmente, o 08 de junho é dedicado ao Dia Mundial do Oceanos, alertando para a problemática, em especial no Brasil que está entre os 20 países que mais contribuem com a poluição plástica nos oceanos, segundo um levantamento das Organizações das Nações Unidas (ONU).
O Rio Grande do Norte foi pioneiro na implementação da Lei nº 10439 de 16 de outubro de 2018, proibindo o uso de canudos plásticos em restaurantes, bares, quiosques e similares – apenas os biodegradáveis estão liberados. Agora o estado deu mais um passo na luta por um mar limpo com a assinatura do Compromisso do Estado do Rio Grande do Norte para a Proteção do Meio Ambiente Marinho e Ecossistemas Costeiros, firmado durante o lançamento da programação do meio ambiente, na última semana.
As leis existem em vários âmbitos, mas a fiscalização ainda é pouca – ou nenhuma – e também falta conscientização da sociedade na visão da bióloga Sthefany Ribeiro: “O problema vai além de uma lei estar em vigor, os resíduos sólidos causam transtornos não só no mar, mas chega as faixas costeiras e se torna um reflexo dos hábitos consumistas da sociedade. Há uma falta de percepção da sua responsabilidade como população e consumidor do ambiente, que é a praia, uma área de lazer compartilhada e pública”.
A bióloga alerta ainda para a poluição que a gente não vê: “Os componentes químicos desses materiais, também causam preocupação em decorrência da sua decomposição e os efeitos na biodiversidade marinha. O plástico contém substâncias químicas tóxicas que podem aumentar as chances de doenças e também afetar a reprodução dos animais. Quando eles consomem esses materiais plásticos, os animais não conseguem digerir e muitas vezes eles podem morrer constipados e por falta de alimento. Como o conteúdo plástico está dentro deles, o corpo entende que eles estão saciados, então eles vão enfraquecendo até morrer”.