Era setembro de 2022 quando o arquiteto Eduardo Grunauer, 62 anos, foi diagnosticado com um câncer em estado avançado e chegou a ser desacreditado pela equipe médica. “Primeiro, eu teria que me submeter a sessões de quimioterapia antes da cirurgia para a remoção da lesão. Foram várias sessões de quimio e três meses de recuperação do pós-operatório. Tive várias complicações: hemorragias, pseudo aneurisma na artéria, entre outras. Meu xixi chegou a ficar preto e meu fígado já estava parando”. Os médicos diagnosticaram um infarto do fígado, quadro pouco comum, que também acarretava problemas para os rins. “Passei por onze sessões de hemodiálise e só posso dizer que fui agraciado pela fé. Quando voltei curado, o médico disse que minha situação era muito grave e eu tinha escapado por um milagre”
Entre o diagnóstico, todas as dificuldades do tratamento e a cura, o agente da Pastoral da Comunicação (Pascom) da Igreja de Nossa Senhora de Lourdes, conta que se apegou às orações pedindo a intercessão do padre João Maria. Além dele, a esposa Kenya Grunauer também se entregou em orações, contando com apoio de toda a assembleia. “Nós somos irmãos, temos que rezar uns pelos outros”, falou Kenya que também é da pastoral e hoje testemunha a vivência de fé com a graça alcançada pelo marido.
A história vivida por Eduardo está entre as dezenas de relatos e documentos que serão analisados pelo Tribunal para a Causa de Beatificação e de Canonização do Padre João Maria Cavalcanti de Brito, instalado no último domingo (28), pela Arquidiocese de Natal
O TRIBUNAL
Os trâmites entre a Arquidiocese de Natal e o Vaticano, em relação ao Padre João Maria, iniciaram mais de 20 anos atrás, em 2002. E, desde 2004, o religioso possui o título canônico de Servo de Deus, conferido pela Igreja Católica aos que estão com processo de beatificação aberto.
Com a instalação do Tribunal, abre-se a fase diocesana do processo de beatificação, na qual serão analisados dados históricos e testemunhos acerca da vida e santidade do Padre João Maria, conhecido como o “anjo de Natal”. São histórias de cura e milagres atribuídos ao religioso que vão desde pedidos de ajuda para conquistar uma casa própria até casos como o de uma gestação que não poderia acontecer, mas vingou, a criança nasceu e cresceu cheia de saúde.
Os detalhes da documentação e dos relatos não podem ser revelados – a não ser por vontade própria do agraciado -, e foram colocados sob sigilo de 50 anos pelo Papa Francisco. Deste modo, apenas os membros do Tribunal conhecem o conteúdo para análise.
Dona Ocilia é ministra da Eucaristia e devota de Padre João Maria. Ela fala com emoção sobre a expectativa de uma futura canonização, enche os olhos de lágrimas e testemunha a humildade e a caridade do sacerdote como fonte de inspiração em sua vida. “Vontade de chorar de tanta alegria, de tanto amor de ver que padre João Maria vai se tornar santo e não vai demorar muito”.
O Tribunal para a Causa de Beatificação e de Canonização do Padre João Maria Cavalcanti de Brito, é composto por um Delegado Episcopal, um promotor, e notários titular e adjunto. Todos os membros são escolhidos pelo Bispo, de acordo com a formação técnica e delegados para agirem em nome do Bispo.
Há ainda a Comissão Histórica, que pode ter a presença de historiadores e outras pessoas da sociedade que analisam a documentação produzida para formar o relatório final.
SOBRE O PADRE JOÃO MARIA
Nascido em 23 de julho de 1848, na fazenda Logradouro do Barro, no município de Jardim de Piranhas (RN), aos 13 anos, ingressou no Seminário de Olinda (PE) e, depois, seguiu para o Seminário da Prainha, em Fortaleza (CE), para concluir os estudos teológicos.
Foi ordenado sacerdote em 30 de novembro de 1871, na Igreja de Santana, em Caicó (RN). Atuou em várias cidades no Rio Grande do Norte. Em Natal, foi pároco da Paróquia de Nossa Senhora da Apresentação, onde exerceu o ministério até o fim de seus dias.
A humildade e a caridade são as principais características que marcam a personalidade de Padre João Maria, conforme descrito por aqueles que o conheceram ou ouviram falar de sua vida. “Sua devoção e dedicação eram tão profundas que ele mesmo, em seu hábito clerical, chegava a auxiliar os enfermos, distribuir comida e confortar os necessitados. Sua história e seu exemplo continuam a inspirar gerações, mostrando que a humildade e a caridade são caminhos seguros para uma vida plena de significado e amor ao próximo”. Relatou o Pároco da Matriz Nossa Senhora de Lourdes, Pe. Inácio Henrique de Araújo Teixeira.
Padre João Maria faleceu em 16 de outubro de 1905, vítima da varíola.
Foi enterrado no Cemitério do Alecrim, mas parte de seus restos mortais estão na Igreja de Nossa Senhora de Lourdes, também conhecida como Igreja de Padre João Maria.
Ministra da Eucaristia na paróquia Nossa Senhora de Lourdes, Luciene de Almeida Ribeiro, conta que fez parte do grupo responsável por levar os restos mortais do religioso do cemitério para a igreja. “Meu relato foi logo que eu cheguei aqui. O Monsenhor Geraldo se reuniu com outros padres para tirar os restos mortais do Padre João Maria, pois ainda encontraram os ossos dele no cemitério. Eu fui responsável por trazer para cá. Eles estavam à vista, as pessoas vinham aqui olhar, mas logo com um tempo, eles foram colocados em um mausoléu. Foram muitas graças alcançadas que eu já presenciei e muita gente falou”.
Além disso, Luciene declara com alegria que ela mesma já teve graças alcançadas: “Já tirei nódulos do seio, já tirei câncer de pele. Eu pedi a intercessão e o Padre João Maria me concedeu essa graça. E assim, toda vida que eu vou para uma cirurgia, eu me entrego a ele e aos médicos. Que faça o que for melhor. E graças a Deus eu estou aqui falando desse assunto”.