Iniciada em abril de 2022, a construção do Complexo Turístico da Redinha, porta de entrada para o litoral norte, faz parte de um projeto de reestruturação com orçamento de R$ 25 milhões. Destes, quase R$ 11 milhões para o novo mercado, com término da obra inicialmente previsto para o próximo mês de setembro, conforme as placas no local. Mas, de acordo com a Secretaria Municipal de Infraestrutura e Obras (SEINFRA), isso só deve acontecer “até o segundo semestre de 2024”. Quando concluído, serão dois andares com 33 boxes, seis restaurantes, praça de alimentação, mirante, varanda panorâmica, píer e deck para embarcações.
A reestruturação e modernização do local gera altas expectativas para os operadores do turismo no estado, inclusive para os comerciantes da região. Muitos deles cresceram brincando pelo antigo mercado, considerado Patrimônio Cultural de Natal. Para eles, o Complexo Turístico da Redinha nutre a esperança de resgatar o turismo e consolidar a economia local, já que ali está a fonte de renda de várias famílias, como é o caso do comerciante Marcelo Barbosa, de 47 anos.
“Vai vir uma obra boa para todos nós, para a população, apesar do transtorno vem a melhoria. A gente precisava desse serviço, reformas foram feitas várias vezes, mas continuava tudo do mesmo jeito: fossas entupidas, tudo entupido, na semana, no fim de semana, etc. O pessoal vinha porque gostava de vir mesmo, mas não tinha qualidade”.
Marcelo é um dos cerca de 30 permissionários retirados do local que recebem uma assistência da Prefeitura de Natal no valor de R$ 1.200. Quantia que ajuda, mas é insuficiente para manter as famílias por ser inferior ao que antes era adquirido com o trabalho no mercado onde, apesar das condições precárias, os ganhos eram maiores: “Ainda é pouco, mas é bom enquanto a gente vai se organizando. Eles dão o auxílio e a gente vai batalhando”.
A batalha de Marcelo tem sido embaixo de uma tenda cedida pelo município, nas proximidades do Mercado da Redinha, lá ele vende peixes e frutos do mar como uma forma de garantir um complemento na renda da família. Cada um tem se virado como pode, inclusive vendendo ginga com tapioca na areia.
Luiz Antônio, 45, trabalha há mais de 29 anos no mercado e, assim como Marcelo torce pelas melhorias, mas conta que mesmo com a venda de frutos do mar, é difícil alcançar o rendimento anterior era de R$ 5.000 por mês: “Estamos sendo ressarcidos com R$ 1.200,00 e fomos contemplados com essa tenda para a gente manter o dia a dia da defesa familiar. O complemento da renda a gente tira aqui nas tendas. Se a gente fosse ficar só com esses R$ 1.200 aí que estava ruim, conseguimos essas tendas e os demais estão trabalhando. Se virando, a palavra é essa, estamos nos virando”
CAPACITAÇÃO OU EXCLUSÃO?
Enquanto anseiam pelas melhorias, comerciantes que não quiseram se identificar também relataram à reportagem do Diário do RN, algumas preocupações sobre o pós obra. Eles teriam sido informados que, para voltar a trabalhar no Mercado da Redinha, terão que fazer cursos de idiomas.
“Disseram para a gente que temos que fazer um curso, tudo por conta da prefeitura, mas tem um problema, uma grande quantidade de comerciantes não vai ter acesso por não ter tido acesso aos estudos. São trabalhadores humildes, nem todos vão ter essa capacidade que a Prefeitura está querendo”, relatou a comerciante que iremos chamar de “Maria”.
Além disso, “Maria” também pontua que há uma concessão sendo elaborada pela prefeitura e, dessa forma, comerciantes de “longa data” não precisarão pagar a concessão para a prefeitura. No entanto, a comerciante afirma que o valor para quem é “novato” no mercado vai girar em torno de R$ 35.000,00 a R$ 50.000,00.
Quando procurada pelo Diário do RN, a Prefeitura de Natal por meio de assessoria informou que “tem em seu planejamento a realização de cursos técnicos aos permissionários do futuro Complexo Turístico da Redinha. No entanto, nunca especificou que cursos seriam, nem tampouco que se tratariam de cursos de idioma. A questão ainda está sendo avaliada e será definida nos próximos meses, quando o Complexo estiver mais próximo da sua finalização e efetiva operação”.
A respeito dos questionamentos sobre a concessão dos espaços e também sobre os valores a serem pagos, não obtivemos respostas, até o fechamento desta matéria.
ANDAMENTO DA OBRA
Além do novo mercado, será construído um centro de artesanato com quatro lojas externas e cinco quiosques internos, no antigo Clube da Redinha. O projeto também contempla a Igreja de Nossa Senhora dos Navegantes, que terá nova cerca e o quebra-mar (espigão) ganhará um mirante.
De acordo com a SEINFRA, no setor da iluminação do entorno e da área do complexo, a Prefeitura chegou a 21%. Nas novas calçadas, com acessibilidade, atingiu a fase dos 30%, e no asfalto do entorno chegou à marca de mais de 70% de conclusão. O enrocamento na praia já pontua mais de 46% dos serviços feitos, com a requalificação do sistema de defesa costeira.