A família tradicional brasileira aplaude quando faz sinal de arminha, mas fica chocada quando faz sinal de prazer. Apologias às armas, sim, e ataque puritano contra a Madonna simulando masturbação. Violência, tá ok. Sexo, aí protejam as criancinhas. Isso me lembra quando eu tinha 13 anos e tentei alugar um vídeo pornográfico. O dono da locadora não permitiu, mas liberou que eu levasse o filme “Faces da Morte”, um documentário com mortes e assassinatos reais proibido em uma dezena de países. Aliás, jamais vejam isso.
Só esta semana tivemos pelos menos três bons exemplos do que importa para o Brasil do evangelistão, aquele que mistura religião com política e sonha em acabar com o estado laico. Um pastor evangélico acusado de estuprar uma criança de 9 anos que estava foragido da justiça foi preso por policiais da delegacia de São Francisco de Itabapoana, Rio de Janeiro. Nem um pio do chamado cidadão de bem para protestar contra a violência sofrida por uma criança nas mãos de um religioso. Nada.
O pastor Jonas Felício Pimentel, líder da igreja evangélica Tabernáculo da Fé de Goiânia, culpou crianças por sofrerem abusos sexuais. Algumas crianças que são vítimas de abuso sexual têm participação e culpa dos crimes, afirmou durante um culto. De novo, silencio sepulcral do envangelistão. Mas quando o pastor da Lagoinha (MG), Lucinho Barreto, confessou num culto só para homens que beijou a filha criança na boca e a chamou de “mulherão”, ai o evangelistão resolveu, enfim, se manifestar. Mas, pasmem, para defendê-lo. Teve até live com o deputado passador de pano Nikolas Ferreira (PL-MG).
A militância reacionária bolsonarista está focada numa guerra cultural que mira o professor, chamado de doutrinador. Mira jornalista, mira cientista e aponta suas armas também para os artistas, chamados de pedófilos. Claro, desde que representem valores progressistas, como a Madonna, a rainha da comunidade gay. Se for o cantor Leonardo exibindo mulheres seminuas num show sertanejo, ai está liberado. O conservador brasileiro é uma hipocrisia ambulante.