“A categoria vem com um acúmulo de perdas muito grande na rede municipal, e só na gestão de Álvaro Dias é de 64% em perdas. Então, a categoria está esgotada porque o salário vem congelado há muito tempo e ela (categoria) entende que os 7% são devidos a ela”, a fala é do coordenador geral do Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do RN (Sinte/RN), Bruno Vital, após a categoria aceitar a proposta de reajuste salarial de apenas 7% apresentada pela Prefeitura de Natal, enquanto amarga prejuízos que se aproximam de 67% em perdas.
Para quem está na linha de frente, dentro da sala de aula, o sentimento não é diferente, como enfatiza uma professora da rede municipal de ensino que, por medo de represálias, pediu a reportagem do Diário do RN para ter a identidade preservada: “O sentimento é de abandono por parte da gestão municipal, pois as perdas salariais somam mais de 67%. Enquanto o governo do RN nos concedeu todos os reajustes do piso salarial dos últimos anos, o prefeito Álvaro Dias, infelizmente, passou estes últimos anos sem receber a categoria de professores e propôs um reajuste irrisório em relação às perdas salarias. Como não tínhamos nada, a categoria aceitou”.
Erlon Araújo, professor da rede municipal desde de 2011 e diretor do sindicato, também reforça esse sentimento e relata o histórico de perdas da categoria: “É um sentimento de desvalorização desses 7% de atualização salarial, estamos amargando da gestão Álvaro Dias perdas salariais que se somam em mais R$30 mil ao ano. É um valor muito alto, um valor que faz falta no bolso de cada professor, cada professora”. O professor acrescenta ainda: “Esse amargo ele vem desde 2020, em que o ajuste foi de 12,84% e nós só recebemos 6,42%. No ano de 2021, tivemos zero reajuste. Já no ano de 2022, nós tivemos um reajuste vindo do MEC de 33,24%, que não foi repassado e agora (em 2023), um reajuste de 14,95%”.
NEGOCIAÇÃO
O acordo consiste na implantação do reajuste de 7% já a partir do pagamento do mês de julho, com o retroativo proporcional aos meses entre janeiro e junho de 2023 e deverão ser pagos no primeiro quadrimestre de 2024.
Contudo, o professor Erlon faz questão de afirmar que a luta não para: “ter acatado os 7% não significa que estaremos parando a luta, continuaremos buscando por nossos direitos. Não significa que estamos aceitando essa submissão à gestão Álvaro Dias. Aceitamos esse valor e vamos avançar ainda mais” e reforça: “não é esse valor que vai nos calar, que vai nos deixar conformado e impedir nossa luta”.
A formalização da aceitação da proposta entre o Sinte/RN e a Prefeitura do Natal aconteceu nesta quinta-feira (13) e será encaminhada para Câmara de Vereadores, em forma de Projeto de Lei em caráter de urgência para aprovação e regulamentação. No que diz respeito aos demais débitos com a categoria, ficou firmado que será implantado uma mesa de negociação, mas ainda não tem data para início do debate.

“Escolheram entre muito pouco ou nada”
O sentimento de desvalorização, relatado pelos educadores, é compartilhado entre os vereadores de oposição ao prefeito Álvaro Dias. A vereadora Brisa Bracchi (PT) afirma: “A gestão de Álvaro Dias nunca foi do diálogo e nem de respeito ao piso salarial da categoria previsto em lei. Os professores e professoras diante de tanta defasagem salarial foram obrigados a aceitar estes 7% e diminuir as perdas ou não aceitar e não ter nada. Não há dúvidas que essa proposta não é o suficiente, nem o que diz a lei, muito menos o que a categoria merece. Vale lembrar que aceitar a proposta não significa que a luta acabou, a categoria segue mobilizada na defesa do reajuste completo do piso salarial”.
O parlamentar Daniel Valença (PT) compartilha da ideia: “É importante destacar que a categoria aceitou a proposta, mas em clima de descontento e desesperança. A realidade é que a descrença é tão grande quanto a um olhar positivo da gestão Álvaro Dias para os servidores públicos, que os professores e professoras escolheram ente o muito pouco ou o nada”. O vereador faz ainda um comparativo a situação estadual: “As nossas professoras e os nossos professores do município recebem praticamente a metade dos docentes do governo do estado, e menos inclusive que outros municípios da região metropolitana”.