Álvaro Dias e Carla Dickson flagrados em eventos que discutiram formas para assediar trabalhadores e pacientes a votar em Bolsonaro
“Assédio eleitoral é crime eleitoral e ilicitude trabalhista”, afirmou o procurador regional eleitoral Rodrigo Telles, ao falar sobre os casos envolvendo o prefeito de Natal, Álvaro Dias (PSDB) e a deputada federal não-reeleita Carla Dickson (União Brasil), que participaram de eventos em que foram discutidas formas para os comerciantes e médicos assediarem seus funcionários e pacientes a votar no atual presidente Jair Bolsonaro (PL), no próximo domingo (30).
“Se comprovado os fatos, os dois casos se configuram como crime de assédio eleitoral e também de ilicitude trabalhista”, disse Telles, explicando que ambos são passíveis de sanções, conforme a gravidade de cada caso. O procurador regional eleitoral orienta a população que denuncie os casos de assédio eleitoral à Justiça Eleitoral e ao Ministério Público do Trabalho (MPT).
Na reta final da campanha para o segundo turno das eleições presidenciais, os casos de assédio eleitoral no Rio Grande do Norte vêm aumentando vertiginosamente, a cada dia, conforme o MPT/RN. Até esta segunda-feira (24), 28 denúncias já haviam sido recebidas pelo órgão, contra 27 pessoas ou empresas diferentes.
Um dos casos, denunciados pela deputada federal Natália Bonavides (PT) e o vereador de Natal Robério Paulino (Psol), ocorreu na quinta-feira (20), quando o prefeito de Natal Álvaro Dias promoveu encontro fechado com empresários, onde foram discutidas estratégias de apoio à reeleição de Bolsonaro e aumentar os votos deste na Capital. Um dos tópicos abordados pelos empresários no evento, e revelados pela agência Saiba Mais, estavam combinando modos para convencer seus funcionários a votar no candidato e como enganar o MPT, caso fossem denunciados.
Já neste domingo (23), a deputada federal Carla Dickson, que é médica oftalmologista, estava ensinando a centenas de médicos como assediar seus pacientes para que estes votassem no atual presidente. Conforme gravação feita pela Saiba Mais, ela aparece sorrindo e debochando, caso algum paciente não aceite a “orientação” de voto do médico assediador. Além de Álvaro, o secretário de Saúde de Natal, George Antunes e a médica Roberta Lacerda, derrotada nas urnas no último dia 2, estavam presentes no momento.
“Tem nada não, se perder aquele paciente, é por uma boa causa. Entrega o santinho do 22, bota 22 abraços para ele na receita (risos), faz alguma coisa, mas nós precisamos furar a nossa bolha. Porque aqui, eu estou diante de pessoas sábias que vão continuar construindo o nosso Brasil”, disse Carla Dickson aos médicos presentes, conforme o Saiba Mais. Procurada pela reportagem do Diário do RN, a deputada informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que não se pronunciaria sobre o caso.
Já o prefeito Álvaro Dias, questionado sobre qual orientação é dada aos munícipes que sofrerem assédio eleitoral de médicos dentro de uma unidade de saúde, consultório ou hospitais de Natal, respondeu: “Os procedimentos adotados em todas as unidades da rede de saúde pública do município são norteados por critérios técnicos e legais. Não há nenhuma orientação, de quem quer seja no Município, para que essa linha de atuação seja modificada, muito menos para ferir a legislação, que precisa ser obedecida permanentemente”.
CREMERN
O Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Norte (Cremern) analisará “oportunamente” o caso envolvendo a médica oftalmologista e deputada federal não-reeleita Carla Dickson, conforme nota oficial emitida nesta segunda-feira (24). A entidade afirmou que tem como funções fiscalizar e normatizar a prática médica, “estando a serviço da sociedade e dos médicos que atuam com ética e zelo pela profissão”.
“No tocante à declaração de Carla Dickson em evento realizado na Associação Médica na data de ontem (domingo), amplamente divulgado pelas redes sociais e mídia local, o Cremern registra que o fato em tela será analisado de forma colegiada oportunamente. O Cremern não pré-julga pessoas ou instituições pelos seus atos, até porque os procedimentos internos deste Conselho possuem caráter sigiloso, nos termos da legislação vigente”, informou.
CANAIS DE DENÚNCIA
Para isso, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) possui o aplicativo para celular Pardal, que permite o envio de denúncias de forma sigilosa, com a preservação da identidade do denunciante. E o site do MPT (www.mpt.mp.br) também recebe denúncias.