Por Renata Carvalho e Tulio Lemos
A deputada federal e pré-candidata a Prefeita de Natal, Natália Bonavides (PT), que figura entre os nomes mais citados entre as pesquisas eleitorais para o cargo, conversou com exclusividade com o Diário do RN, abordando temas sobre sua pré-candidatura, alianças, avaliações a gestões anteriores e atual.
DIÁRIO: Gostaria que a senhora falasse sobre a reunião entre a Federação PT/PV/PCdoB que ocorreu na noite de terça-feira (12)?
NATÁLIA: “Ontem (12), nós tivemos um momento muito importante da nossa pré-campanha, que foi um momento de conversar com alguns dos partidos com quem nós temos firmado esse diálogo para eleição de 2024. Além dos partidos que compõem junto com o PT, a Federação Brasileira da Esperança, tiveram também presentes o MDB, o PDT e o PRD. Inclusive parlamentares dos partidos que têm representação na Assembleia Legislativa ou na Câmara Municipal, foi um momento muito importante porque foi o resultado de alguns meses de diálogos que nós estamos tendo, sobre os nossos pontos em comum para um projeto de uma Natal que seja popular e democrática. Nós sinalizarmos algumas agendas que vamos fazer em conjunto, de seminário para debater programa, de visitas a comunidades junto com os parlamentares que são desses partidos, então foi um momento muito produtivo e muito importante também para essa nossa fase da pré-campanha”.
DIÁRIO: A continuidade desse evento será com a presidenta do PT Nacional, Gleisi Hoffmann, nesta sexta-feira?
NATÁLIA: “A vinda da presidenta Gleisi também vai ser um momento especial para nós. Todos esses partidos foram convidados para estar nesse momento. Na sexta-feira política com a presidenta Gleisi, virá gente de todo o Estado e sem dúvidas os partidos que vão com a gente. Um momento de diálogo, não só com a presidenta, mas com a nossa militância partidária. A presidenta vem aqui dialogar com governadora Fátima, dialogar conosco sobre a minha candidatura e sobre o cenário do Partido dos Trabalhadores Nacional. Além de trazer uma mensagem do Nacional sobre a nossa candidatura, uma candidatura competitiva que está com reais chances de estar no segundo turno, de disputar para ganhar. Ela vem trazer essa mensagem que é uma candidatura prioritária para o PT Nacional e do presidente Lula”.
DIÁRIO: Como é que está na avaliação do PT local e nacional a candidatura de Natália para a prefeitura de Natal?
NATÁLIA: “Eu tenho tido a verdadeira honra de ouvir, cotidianamente, de vários petistas históricos, que estão desde a fundação do partido, que nunca viram o nosso PT Natal tão unido em torno de uma candidatura. É diferente do que acontece em outras capitais. Acreditamos nesse progresso porque desde o começo do ano passado quando eu comuniquei ao partido que estava à disposição para ser candidata a prefeita para as eleições de 2024. Aconteceu uma reunião muito bonita, inclusive porque foi por aclamação todo mundo que estava ali no diretório ficou muito animado, era uma candidatura que era esperada desde 2020, quando o partido já tinha a vontade que eu tivesse sido candidata, mas aquele não era um momento, era um momento sensível que vivíamos, uma pandemia, eu era oposição ao terrível governo Bolsonaro. Então estava com muitas tarefas, muitas missões, na Câmara também tinha muito que consolidar ainda do nosso trabalho e acho que isso felizmente foi feito. E agora em 2024, o partido está muito unido não só no âmbito local, mas nacionalmente. Inclusive, a última vez que encontrei o presidente Lula, na semana passada, quinta-feira, no lançamento dessa fase do PAC, ele já me cumprimentou chamando de prefeita, de uma forma carinhosa; mas que politicamente acena que ele tem acompanhado o cenário político da nossa cidade e está muito animado também com a candidatura. Então, a gente está unido, não só dentro do partido, mas na federação e agora, felizmente, também de mãos dadas com um arco maior de partidos, mais diversos, que amplia aí a nossa presença na cidade e que eu estou muito animada para o que essa campanha vai representar pra Natal”.
DIÁRIO: O PT Nacional já definiu como será a participação do presidente Lula nas eleições municipais? Ele virá para Natal pedir voto para Natália?
NATÁLIA: “Olha, o PT Nacional está primeiro nessas definições das candidaturas. Mas, independentemente disso, a gente já tem tido boas sinalizações, eu tive recentemente com o Ministro Padilha e ele reafirmou que o Lula pretende vir para cá, inclusive o nosso convite é para que ele venha não só na campanha, mas antes. Porque tem muita coisa acontecendo aqui na cidade, que será a partir de recursos federais, agora mesmo no anúncio do PAC, nós vimos o tanto de recursos que Natal vai receber do governo Lula. Então, a gente quer que ele venha aqui participar da divulgação da vinda desses recursos”.
DIÁRIO: A senhora falou do presidente Lula, o ex-deputado Rafael Motta também fala em ser o candidato de Lula, como a senhora avalia essa situação?
NATÁLIA: “Eu sou daquela que acha que todo partido tem total legitimidade de fazer seus debates internos, de lançar suas candidaturas, acredito que é uma candidatura legitima. Então, em relação ao presidente Lula, ele naturalmente tem sua candidatura já definida em Natal, que é a nossa candidatura, que nós estamos construindo com esse leque de partidos. E no mais, acho que o PSB é um partido que compõe o governo federal, faz parte dos ministérios, do próprio vice-presidente. Então, naturalmente, chegará o momento em que nós estaremos discutindo em nível partidário, o PT e o PSB. Por óbvio que Lula já tem essa candidatura definida aqui em Natal, mas isso não tira legitimidade de candidatura nenhuma”.
DIÁRIO: Então, se está havendo conversa no Nacional, poderia haver aqui também, em Natal, o PT de Natália com o PSB de Rafael?
NATÁLIA: “Sem dúvidas, eu acho que chegará a hora de os nossos partidos conversarem, não tem dúvidas”.
Natália: “é natural que chegue a hora do PT e do PSB, sim, de conversarem também sobre Natal”
DIÁRIO: Ainda no primeiro turno? Já agora?
NATÁLIA: “Acredito que sim! Só não houve um diálogo ainda entre os partidos no âmbito local, porque até aquele momento o PSB vinha alinhado com essa gestão de Álvaro Dias, que consideramos extremamente nociva para cidade, que está desrespeitando o trabalhador. Mas, a partir do momento que o PSB se retira, acredito que o natural é que chegue a hora do PT e do PSB, sim, de conversarem também sobre Natal”.
DIÁRIO: A chapa Natália e Rafael é possível?
NATÁLIA: “Olha, a gente vai conversar sobre esse tema da vice com os partidos que estiverem compondo esse arco, está caminhando. Ontem, inclusive, foi uma das coisas que nós debatemos, que passado esse período que está aberto agora da janela eleitoral, que essa é a nossa tarefa agora nesse primeiro momento de cuidar da formação das chapas, passado esse momento, os partidos que estejam compondo com a gente vão junto com a gente para discutir esse tema de vice”.
DIÁRIO: A senhora acha que essa eleição vai ser nacionalizada ou municipalizada? E qual o peso que daria para esse embate Lula e Bolsonaro?
NATÁLIA: “Eu acho que vai ser mista, mas eu acho que o mais importante e o foco pelo menos do que nós vamos apresentar é o debate sobre os problemas da cidade. Nós estamos numa cidade em que um trabalhador que seja usuário do SUS está tendo que acordar de madrugada para tentar pegar uma ficha de atendimento, esse é um problema que está acontecendo em Natal, está acontecendo com as pessoas. A gente está numa cidade em que uma mãe que tenha conseguido um emprego, de repente não consegue uma vaga na creche para deixar seu filho, e não vai ter a oportunidade de ficar no seu emprego que poderia lhe dar autonomia. Então, esses problemas locais para mim são o centro de tudo, porque tem a ver com a vida das pessoas, com o sofrimento que as pessoas estão tendo, por terem seus direitos mais básicos negados. Por óbvio que ainda mais Natal seja capital, o trabalho nacional serve como esse guia, sim. Até porque, acho que as posições que se expressam nacionalmente dizem muito sobre qual vai ser o projeto político de um candidato. Eu, por exemplo, que estou alinhada com o presidente Lula, pretendo fazer a conexão necessária entre os problemas da cidade e o tanto que nós vamos buscar o governo federal para trazer recursos para a cidade, para trazer investimentos, para potencializar o que pode ser feito aqui”.
DIÁRIO: Deputada, a senhora tem dois desafios em relação a essa candidatura em Natal. Um é que o PT nunca ganhou uma eleição em Natal e que Natal rejeita o PT e nas pesquisas a senhora aparece como a candidata mais rejeitada. Como é que a senhora vê essa situação e como vencer esses desafios?
NATÁLIA: “Eu vejo com muita tranquilidade. Essa questão da rejeição, ela é esperada de aparecer em partidos que tenham história, em partidos que têm posição na mesa. Mas se você observar, a gente na verdade aparece com uma rejeição bem menor do que outras candidaturas historicamente desse campo tiveram. A gente na verdade começa a pré-campanha num patamar diferente, nós estamos realmente muito animados com esse novo cenário. Por exemplo, nas últimas eleições, o presidente Lula ganhou aqui em Natal. Eu fui a deputada federal mais votada em Natal por duas vezes. Tanto em 2018, quanto em 2022. Fui a mais votada na zona Norte, na zona Sul, na zona Leste, na zona Oeste, tendo votos em todas as urnas. Então, eu acho que sempre tive um acolhimento importante do nosso nome. Para além disso, eu vejo esse novo momento na cidade, em que a cidade apostou no presidente Lula em 2022, recentemente. E sem dúvidas vai estar aberta a escutar o novo projeto”.
DIÁRIO: Deputada, qual a avaliação da gestão Álvaro Dias?
NATÁLIA: “A Natal hoje é aquela que a gente ama, mas que a gente sabe que podia tanto mais. Natal é uma cidade incrível, linda, com um povo muito trabalhador, muito acolhedor e hoje a gente vê todos os dias oportunidades serem perdidas, a gente vê todos os dias o nosso povo ser tratado sem respeito. A prefeitura de Álvaro Dias não tem conseguido atender as pressões mais básicas do cotidiano. Por exemplo, não existe um aplicativo para o trabalhador não ter que acordar de madrugada para tentar pegar uma ficha para ser atendido. Imagine a humilhação do trabalhador desse que tem que estar no trabalho depois oito da manhã e que transporte esse trabalhador vai pegar para chegar no seu trabalho, as pessoas estão gastando as horas da sua vida, horas que podiam estar com sua família, que podiam estar em um horário de lazer, as pessoas estão gastando as horas que poderiam fazer isso, esperando por ônibus, ou dentro de ônibus, então a cidade está disfuncional. E o mais triste é ver como a gestão ela tem um olhar elitizado. A gente tem por exemplo trabalhadores da praia da Redinha sendo expulsos do local de trabalho, aqueles trabalhadores que fizeram a Redinha existir até agora. Então, o trabalhador de Natal ele tem sido muito desrespeitado. A gestão que infelizmente deixou muito a desejar e perdeu muitas oportunidades de resolver problema de nosso povo, destes que poderiam ser resolvidos de forma mais simples e o projeto que nós queremos apresentar para cidade é um projeto que caminha no sentido da dignidade do nosso povo, é de projetar a nossa cidade em outro patamar, no Nordeste, no Brasil e até mesmo internacionalmente. Se a gente for ver essa questão da falta de vagas em CMEI, esse início do sorteio de criança para ver quem vai ter a sorte de ter uma vaga começou na gestão Carlos Eduardo. Se a gente for ver esse problema da não licitação do transporte é esse desastre, esse caos que é o transporte público de Natal também não foi resolvido na gestão de Carlos Eduardo. Então Álvaro representa essa continuidade de problemas não resolvidos e com quais a gente convive há tanto tempos”.
DIÁRIO: Carlos Eduardo foi quatro vezes prefeito de Natal. Como é que a senhora avalia as gestões dele, e em paralelo por que o povo quer ele de novo? Ou pelo menos as pesquisas mostram que ele está liderando.
NATÁLIA: “Eu acho que uma pessoa que está há tantos anos no cenário político, tem um recall. Eu acho que é esperado ele aparecer, não é de uma forma como aparece nas pesquisas, mas também me parece que há uma finalização de um teto nesse crescimento. Nos últimos anos, as gestões que fizeram muito pouco, que não fizeram nada de extraordinário, que não resolveram problemas elementares. É isso que a gente quer quebrar, digo como um pacto de mediocridade, essas últimas gestões que fizeram um feijão com arroz, ou até menos, e que deixaram para trás a nossa cidade, enquanto a gente viu outras capitais vizinhas a nós, começaram a receber mais investimentos, a ter um aumento da industrialização na cidade, a ter um recurso no PIB, e a nossa cidade não, não aproveitou esse momento”.
DIÁRIO: Carlos Eduardo foi um prefeito medíocre?
NATÁLIA: “Eu acredito que essas últimas gestões, inclusive a dele, deixaram a desejar, e fizeram a nossa cidade perder oportunidades importantíssimas. A gente vê João Pessoa, por exemplo, tem se desenvolvido, como tem sido o investimento no turismo, a gente ver que a nossa cidade poderia estar em outro patamar. Na gestão de Carlos Eduardo, por exemplo, houve, contramão do que aconteceu no Brasil, houve um aumento da desigualdade social. Então, a gente quer fazer no sentido oposto, a gente quer aproveitar a gestão que está posta hoje no governo federal para vir todas as possibilidades de investimento na nossa cidade. Eu tenho conversado muito com nossos ministros, quando posso também com o presidente Lula, sobre como a nossa cidade tem tudo o que precisa para se reposicionar no nosso país.
DIÁRIO: Deputada, a senhora falou da gestão Carlos Eduardo. Mas, Carlos Eduardo, mesmo sendo do PDT na última eleição, terminou pedindo voto para o presidente Lula. A senhora não acha que isso pode acontecer, já que o partido dele também faz parte da gestão nacional do presidente Lula? De ele dizer que é o candidato de Lula também em Natal?
NATÁLIA: “Acho que o fato de Carlos Eduardo ter ocasionalmente apoiado Lula, nos faz lembrar também que em outro momento ele apoiou o Bolsonaro, eu acho que ele faz a escolha dessas alianças políticas mais por conveniência, pelo que é mais conveniente para o seu projeto pessoal.
E o presidente Lula não vai deixar margem para dúvidas de quem é a candidatura dele em Natal. Isso vai estar tranquilamente explícito”.
DIÁRIO: Carlos Eduardomerece um outro mandato?
NATÁLIA: “Eu acho que ele já teve a chance dele. Eu acho que ele teve a chance dele de resolver problemas estruturais, problemas históricos, se não resolveu, acho que a população de Natal vai acolher muito bem a ideia de dar chance a um outro projeto. Já que já houve essa tentativa e não houve a resolução, eu acredito que é o momento de nós lutarmos e trazer uma gestão que se tem e não naturalize jamais, uma criança sem vaga na creche, que não naturalize jamais o fato de que a prefeitura tem uma política absurdamente ineficaz de apoio ao emprego e ao trabalho, por exemplo. Então eu acho que há certos grupos políticos que já tiveram sua chance de tentar resolver esse problema, que não resolveram que a população, acredito eu, vai dar chance a nosso projeto”.
DIÁRIO: A senhora tem sido criticada em relação a alguns pontos. Como é que a senhora avalia a questão do MST, legalização das drogas, aborto? Como isso vai ser tratado em sua campanha?
NATÁLIA: “Olha, com muita tranquilidade, eu acho que a população aprecia o debate franco e sincero e eu acho que muitas vezes esses temas, eles são postos muito mais de forma eleitoreira, em torno de projetos e que servem, na verdade para tentar ganhar votos ao invés de tentar resolver o problema que ficou. Tive outro dia numa sessão que homenageou a MST na Câmara Federal e o próprio presidente da Câmara, que é uma pessoa insuspeita, que não pode ser dita como de esquerda, o presidente da Câmara mandou uma mensagem, reconhecendo a importância histórica do movimento, então eu acho que todos esses temas, quando estão debatidos, todo o ponto de vista da lógica e da política pública, baseada na evidência, e não de forma de eleitoreira, eles podem, sim, ser objeto de diálogo com a população”.
DIÁRIO: Deputada, a senhora sabe que hoje, a Assembleia derrubou a sessão em homenagem ao MST.
NATÁLIA: “Eu vi, até lamentei, vim agora no caminho para cá, que estava preso no engarrafamento, escutando no programa da CBN alguns comentaristas lamentando a não aprovação, por mais que discordassem do movimento. Porque era uma homenagem que era proposta pelo mandato da deputada. O movimento tem uma contribuição extraordinária no debate da alimentação saudável, da agricultura familiar, quem anda nos quatro cantos deste nosso Estado e de vários outros que não sabem quais são as condições de vida atuais de uns pequenos agricultores, daquele pessoal que tinha um alimento”.