Por Carol Ribeiro
“Agradeço especialmente ao presidente Lula a oportunidade e a responsabilidade de chefiar a empresa no começo desse nosso governo e dar partida no processo de transição para uma empresa de energia preparada para o futuro”, ressaltou Jean-Paul Prates em declaração divulgada através de vídeo nas redes sociais, em que se despede e destaca sua gestão à frente da Petrobras, destacando o processo de transição energética.
“Nesse breve período criamos a nova diretoria de transição energética e sustentabilidade. Conduzimos com sucesso um reposicionamento da empresa frente o mercado nos distanciando daquela orientação política anterior que militava contra a sustentabilidade da companhia. Ao mesmo tempo em que conseguimos mais apoio dos investidores como pode ser visto na valorização excepcional das ações”, afirmou.
Em sua saída da sede da estatal, Prates foi fortemente aplaudido por funcionários de setores diversos da Petrobras. Um vídeo divulgado por ele mostra a homenagem recebida pelos colegas.
Entre agradecimentos aos “petroleiros, petroleiras e à diretoria”, Prates listou, ainda: “Mantivemos um desempenho histórico refinarias ao passo onde voltamos a manter e expandir o nosso parque industrial do refino com foco e desenvolvimento e nos biocombustíveis, na petroquímica e dos fertilizantes. Nos reposicionamos no setor como uma multinacional robusta, vitoriosa e invejável com uma estratégia de mercado de competição buscando enfrentar o custo alternativo do cliente sem nos resignar ao maior preço possível”.
Filiado ao Partido dos Trabalhadores desde 2013, Jean-Paul Prates falou sobre sua demissão da presidência da Petrobras ao deixar a companhia, nesta quarta-feira (15). O executivo afirmou estar “triste” com a saída.
De acordo com informações do Jornal O Globo, Prates acrescentou que não sabe se continuará no PT, partido pelo qual foi senador da República entre o fim de 2018 e o início do ano passado.
Jean foi sacrificado pelo PT a primeira vez em 2022, quando abdicou da candidatura à reeleição no Senado em nome de uma aliança com o ex-prefeito de Natal Carlos Eduardo (PSD) para fortalecer a reeleição da governadora Fatima Bezerra (PT), passando a figurar na chapa senatorial como suplente do ex-prefeito.
Essa “costura” política e renúncia de Jean à sua pretensão de continuar Senador o aproximou do então candidato à presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Inclusive, como técnico da área, coube a Jean Paul escrever cada linha do programa de governo de Lula, nas áreas de energia, petróleo e industrial naval, em 2022, se credenciando para ser indicado para a presidência da Petrobras, numa comprovação de alinhamento de pensamentos no setor.
Agora, foi demitido após atritos com o governo e será substituído por Magda Chambriard, ex-diretora da Agência Nacional do Petróleo (ANP).
O CEO da Petrobras enfrentou, desde março, intensa fritura interna no governo, acumulando disputas com o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, e com o ministro da Casa Civil, Rui Costa, que almejavam ampliar o poder sobre a estatal.
Um dos principais pontos de divergência foi a distribuição de dividendos da estatal referentes a 2023. O governo esperava reter 100% dos dividendos extraordinários na divulgação dos resultados, com a intenção de forçar a estatal a investir em outras áreas e não distribuir esses recursos aos acionistas.
Conforme o Globo, ele ressaltou que a sua principal missão foi estabelecer uma política de preços para os combustíveis a pedido do próprio presidente Lula, de “abrasileirar os preços”.
“Principalmente deixamos uma política de preços que o presidente pediu, quando disse que ia abrasileirar os preços. O mercado entendeu, e a gente conseguiu explicar isso. Mostramos que a gente conseguiu fazer esses preços sem perder dinheiro. E isso favorece a economia, o governo, o cidadão e a cidadão, além de todas as áreas, como GLP, gasolina, diesel e no frete. Deixamos um legado importante”, disse Prates, ao deixar a empresa.
Perfil técnico
Além de político, Jean-Paul Prates é um advogado, economista, ambientalista e empresário.
Começou se dedicar ao setor de energia ainda na década de 80, com destaque para petróleo e gás, biocombustíveis e fontes renováveis, além de atuação em órgãos públicos, empresas privadas e entidades setoriais.
Ao longo de sua trajetória, acumulou funções na assessoria jurídica da Petrobras Internacional (Braspetro), fundou a Expetro, em 1991, consultoria especializada no setor, atuou na elaboração da Lei do Petróleo, em 1997, como consultor do Ministério das Minas e Energia do governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB).
Em 2001, elaborou um projeto de planejamento energético para o Rio Grande do Norte, com foco em fontes renováveis, especialmente eólica, e na revitalização do ramo petrolífero. A proposta foi adotada pelo governo de Wilma de Faria (então no PSB), em 2003.
De 2008 a 2010, o petista foi secretário de Energia e Assuntos Internacionais do Rio Grande do Norte.
Em 2014, após se filiar ao PT, integrou a chapa vitoriosa de Fátima Bezerra (PT-RN) ao Senado como suplente. Assumiu o cargo de senador em 2019, após saída de Fátima para assumir o Governo do RN.
Prates é fundador do Centro de Estratégias em Recursos Naturais e Energia (Cerne), instituição que se dedica à formulação de projetos para o setor. Também foi presidente do Sindicato das Empresas do Setor Energético do Rio Grande do Norte (Seern). Foi ainda diretor da CRN-Bio, empresa de consultoria ambiental.
No Senado, foi autor de projetos como o que regulamenta as atividades de captura e armazenamento de carbono e relator do Marco Legal das Ferrovias, além de leis sobre a produção de biogás em aterros sanitários e de mobilidade urbana sustentável. Prates criticou a privatização da Eletrobras e foi contrário às emendas sobre termelétricas e gasodutos que entraram no texto como “jabutis”.
Além da construção do Plano de Governo de Lula na área energética e petrolífera, o senador integrou a equipe de transição do presidente.