Por Emanuel Lacerda
Pai, esposo, professor, batalhador e referência. Essas são palavras que expressam um pouco da essência de um dos grandes nomes da comunicação potiguar, o jornalista Cassiano Arruda Câmara, que na última quarta-feira (13), celebrou 80 de vida ao lado de familiares e amigos.
Natural de Nova Cruz, Cassiano começou no jornalismo por acaso, conforme ele mesmo conta. Ao longo de 61 anos de profissão, ele carrega na bagagem passagens por jornais, rádios, TVs, agências de comunicação e as salas de aula da UFRN.
CARREIRA
Poucos sabem, mas o destino definido pelos pais para Cassiano era ser médico e, posteriormente, político. Ele até chegou a estudar Medicina, na Bahia. No entanto, o “acaso” o levou para o mundo da comunicação. Ele foi aluno da primeira turma da Faculdade de Jornalismo Eloy de Souza, precursora do curso de Comunicação Social da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
Arruda começou a carreira como repórter no jornal Tribuna do Norte aos 21 anos. Pouco tempo depois, devido à competência e dedicação, tornou-se diretor de redação. Paralelo a isso, ele atuava também na Vesper, uma agência de publicidade comandada por Luís Fernando, filho do historiador Luís da Câmara Cascudo.
Nessa mesma época, com a implantação da Ditadura Militar no Brasil, Cassiano viveu um dos períodos mais marcantes como jornalista, quando ficou preso por 49 dias com o então prefeito de Natal, Agnelo Alves, no Hotel de Trânsito de Oficiais da Base Aérea. No futuro, a experiência foi retratada no livro “Hotel de Trânsito”, resgatando histórias e vivências desse período.
Após a formatura da graduação, ele assumiu o cargo de professor da Universidade Federal e, por 31 anos, lecionou a disciplina Comunicação Publicitária. “Graças a Deus, nesses 31 anos, eu tive a oportunidade de lecionar em cerca de 60 turmas de jornalismo contribuindo para a formação de muitos profissionais”, relembrou.
Cassiano Arruda trabalhou no extinto jornal Diário de Natal, no Poti e em 2009, realizou o sonho de fundar o Novo Jornal.
No ramo publicitário, Arruda fez campanhas políticas vitoriosas para nomes como José Agripino e Wilma de Faria. Foi ele o responsável pela criação do slogan “Wilma nossa Guerreira” que ficou popular entre os potiguares.
O talento foi reconhecido nacionalmente, sendo condecorado por três vezes com o prêmio Profissionais do Ano, organizado pela Rede Globo, em 1984, 1991 e 2011.
Atualmente, Cassiano é um dos sócios da agência Art & C Comunicação Integrada, junto com o filho, Arturo Arruda. Além disso, o jornalista participa do programa RN no Ar exibido pela TV Tropical e na rádio CBN, no Rede Tropical de Notícias, sempre prezando por observações sobre os contextos político, cultural e socioeconômicos do Estado.
FAMÍLIA
Casado há 53 anos com Nilma Arruda Câmara, Cassiano tem três filhos: Laurita, Arturo e Jacinto. O casal já conta sete netos, que são o grande orgulho dos avós. “Junto com Nilma construí uma linda família que me enche de orgulho. Ela sempre foi a minha mola mestra e contribuiu muito para a consolidação da minha carreira, me proporcionando paz de espírito, me apoiando e sempre ficamos juntos nos momentos de êxito e fracassos. Meu casamento sempre me deu muitos motivos de satisfação e de viver”, comentou.
Dos três filhos, dois seguiram o pai na comunicação. Laurita é jornalista, titular do blog Território Livre. Arturo é publicitário. “Meu pai é uma referência para mim, e com certeza para os meus irmãos, Ele é um exemplo de um bom pai, de um bom filho, de um bom marido, de um cara que faz de tudo para ter a sua família por perto, para a família estar feliz. Nós somos muito orgulhosos da trajetória dele e temos muito orgulho em dizer que somos filhos de Cassiano Arruda”, reconheceu o filho.
Arturo e Cassiano trabalham juntos na agência Art & C Comunicação Integrada. O publicitário afirmou que trabalhar com o pai é muito prazeroso e que se sente privilegiado, mas lembra que nem sempre foi assim já que, no início da carreira, o fato de ser filho do Jornalista era uma grande responsabilidade.
“Aquela história de filho de peixe, peixinho é, fez com que eu tivesse uma responsabilidade gigante por escolher a mesma carreira do meu pai. No meu caso, ele era uma referência como publicitário e como sócio da maior agência de propaganda da época. Então, quando eu surgi com a mesma carreira, naturalmente se criou uma expectativa muito grande para que eu correspondesse à excelência do serviço dele. Hoje eu encaro com mais naturalidade, até porque a nossa agência se tornou uma referência no mercado de comunicação” desabafou.
CÂNCER
Em 2023 Cassiano enfrentou o câncer de próstata, doença muito comum entre homens acima de 70 anos. Ao todo foram realizadas cerca de 20 aplicações de radioterapia na Liga Contra o Câncer.
“A vida é feita de alegrias, tristezas e ansiedade. Quando eu ouvi que estava com câncer, fiquei muito assustado e ansioso e foi um momento muito difícil. Porém, como sempre faço exames de rotina, foi possível identificar ainda início e tive a graça de me curar”, comentou.
Cassiano frisou ainda a importância do apoio dos familiares para poder enfrentar essa dificuldade. Ele alertou também que os homens precisam realizar o exame do toque retal para o diagnóstico precoce possibilitando mais chances de cura.
50 ANOS DE REPORTAGEM
Em entrevista ao Diário do RN, Cassiano afirmou que após ter se curado do câncer quis retribuir à Liga pelo acolhimento durante o processo de tratamento e decidiu doar para a instituição toda a renda da venda do livro “Jornal de Cassiano Arruda: 50 anos de reportagem”.
“Eu finalizei esse livro em meados de 2019 e ia lançar em 2020, mas devido à pandemia eu tive que cancelar. Logo depois veio essa minha doença e mais uma vez eu tive que esperar. Agora, como agradecimento à Liga por tudo que me foi ofertado, estou fazendo a doação de 1.300 livros” disse Cassiano.
A obra reúne as reportagens que mais marcaram a carreira dele nas áreas de cultura, esportes, política, economia, ciência e tecnologia. A seleção de textos foi feita pelo jornalista Adriano de Souza.
“Tive uma grande surpresa com a qualidade do tratamento que recebi, sem distinção entre os pacientes. Me senti em dívida e, como forma de agradecer por tudo que recebi, resolvi doar os exemplares dos livros, que já estavam prontos, para que o valor arrecadado com a venda fosse para a Liga”, explica o jornalista.
O evento vai acontecer no Thomé Galeria & Bistrô, no dia 21 de março. Para Cassiano, a publicação eterniza fatos e personalidade que marcaram época, como a polarização política entre Dinarte Mariz e Aluízio Alves, a carreira do então jovem jogador potiguar Marinho Chagas que, aos 22 anos, atuava no Botafogo e até mesmo uma entrevista com um dos últimos fabricantes do carro-de-boi e a chegada da primeira prancha de surf em Natal.
IMORTAL
Ao longo de seus 80 anos, Cassiano produziu três livros: ‘Repórter da Roda Viva’, ‘Hotel de Trânsito’ e agora ‘Jornal de Cassiano Arruda: 50 anos de reportagem’.
Desde 2020, ocupa uma cadeira na Academia Norte-Riograndense de Letras. “Com o falecimento de Agnelo Alves, surgiu a vaga na Academia. Influenciado por um grupo de amigos, eu decidi me candidatar e fui eleito. Foi um momento muito simbóli