A natação brasileira se despediu do Mundial de Fukuoka, no Japão, sem ganhar nenhuma medalha. A competição ainda terá sete finais neste domingo (30), mas todos os brasileiros que participaram de eliminatórias dessas provas foram eliminados mais cedo. É a primeira vez em 16 anos que a equipe brasileira volta sem nenhum pódio de um Mundial. A última vez que isso havia ocorrido fora em 2007, quando o time zerou em Melbourne (Austrália).
Com uma sensível diferença: naquela competição o Brasil teve Cesar Cielo e Thiago Pereira, ainda jovens, de 20 e 21 anos, em quarto nos 100m livre e nos 200m medley, respectivamente. Os dois depois entrariam no panteão dos grandes da natação brasileira.
Agora a expectativa futura é mais baixa. O único com potencial equiparável, Guilherme Caribé, de 20 anos, ficou só em 12º nos 100m livre, sua prova principal, a 0s70 da marca que daria o pódio na final. Nos 50m, queimou largada nas eliminatórias.
O caminho até uma medalha não é construído da noite para o dia, é longo. Cielo foi ouro e bronze em Pequim-2008 porque um ano antes era finalista das duas provas no Mundial, pertinho do pódio. Os garotos de agora, podem, claro, chegar a Paris brigando no topo, mas têm um trajeto bem mais longo a percorrer.
Por enquanto, o único que diz “eu quero ser campeão olímpico em Paris” e tem demonstrado que pode é Guilherme Costa. Perto de fazer 25 anos, ele terminou em quarto os 400m livre, uma posição abaixo do bronze de 2022, mas mostrou que está na briga. Antes um especialista nas provas de fundo, abriu mão dos 1.500m porque tem se dedicado a distâncias mais curtas.
Pela primeira vez desde 2005, o Brasil não classificou ninguém à semifinal dos 50m livre. Bruno Fratus, que poderia estar lá, está machucado. Na sexta, passou por mais uma cirurgia de ombro, desta vez para “limpar” os resquícios da operação anterior. Apesar dos 34 anos, mira o ouro olímpico inédito — e, nele, assim como em Cachorrão, dá para confiar.
No feminino o caminho para a medalha é bem mais longo, e não por responsabilidade das meninas de agora, que têm que superar também décadas de menor investimento. É questão de curva. Se o masculino tem piorado, as mulheres têm melhorado, ainda que muitas vezes de maneira mais lenta e mais incosistente do que queríamos.
Gabrielle Assis bateu recorde nacional dos 200m peito, e Beatriz Dizotti melhorou seu recorde nos 1.500m livre, terminando a final em sétimo. A própria Bia fez o melhor da vida nos 800m livre, e Ana Carolina Vieira fez seu “PB” abrindo o revezamento 4x100m livre. Ainda assim é pouco para uma delegação que tinha 12 mulheres e potencial para muito mais.
A responsabilidade pela campanha muito ruim do Brasil em Fukuoka, porém, não é só dos atletas. Eles estão lá porque são os melhores do país, e é responsabilidade de toda a comunidade (atletas, clubes, treinadores, comissões técnicas) que o país que brigava por duas medalhas nos 50m livre hoje não consiga classificar ninguém à semifinal.
É também responsabilidade de quem está do lado de fora da piscina a culpa do que parece ter sido um erro coletivo de periodização. O Brasil costuma fazer seletiva mais de dois meses antes do Mundial. Desta vez reduziu a distância temporal entre um e outro, e os resultados foram ruins nos dois torneios.
Além disso, a CBDA tem culpa por ter inflado demais a delegação. E isso ficou claro na despedida do Mundial. O 4x100m medley feminino não fez por merecer ir a Fukuoka, foi convocado mesmo assim, e deu vexame terminando em 21º lugar as eliminatórias, só à frente de Tailândia e México.
A um ano de Paris, a natação brasileira precisa se reorganizar — e, de novo, estamos falando de clubes, confederação, comissões e nadadores. Não adianta culpar a torcida, o telão, ou cartola que já morreu. A modalidade é rica em estrutura, em recursos disponíveis nos clubes, e em talentos. E precisa entregar mais.
Demétrio Vecchioli – Colunista do UOL
Fonte: UOL Esporte