Revolta e desamparo, foi esse misto de incertezas que tomou conta dos responsáveis pelas 25 crianças internadas no Hospital Municipal Pediátrico Nivaldo Júnior, inaugurado em 2020, e fechado na madrugada desta terça-feira (13), sem qualquer aviso prévio. “São 35 leitos, mas tinham 25 crianças internadas, inclusive, os familiares que estavam acompanhando as crianças internadas foram pegos de surpresa ‘para onde vão os nossos filhos? ”, relata Érica Galvão, diretora do SindSaúde que seguiu narrando que a revolta das famílias se somava também a dos servidores que também foram surpreendidos: “Isso é uma desorganização, enquanto o prefeito festeja, faz festas juninas milionárias com bandas de fora, ele deixa as crianças e a população de Natal ao Deus-dará”.
Enfermeiro assistencial e coordenador da equipe de técnicos de enfermagem, Vicente Rodrigues, informou à reportagem que os servidores não sabem ainda como vão ficar, pois uma reunião marcada pela direção do hospital para esta terça-feira (13) foi cancelada e uma nova data ainda não foi ajustada. Ele também falou sobre como era o funcionamento da unidade: “Recebíamos as crianças reguladas pelas UPAS quando necessitavam de internação para tratamento mais prolongados a base de medicamentos injetáveis, orais, oxigenioterapia e acompanhamento da equipe multidisciplinar. Hoje (13), foram removidas apenas 2 crianças e outras tiveram alta, porém ainda temos algumas internadas, aguardando o desenrolar da situação”.

O coordenador ainda ressalta que no Hospital Municipal Pediátrico Nivaldo Júnior, não tinha UTI, não eram executava exames especializados, como ultrassonografia e Raio-X, e também não possuíam laboratórios. As crianças e adolescentes eram encaminhados para realizar esses procedimentos em outras unidades por meio de Transporte Sanitário.
O Hospital Municipal Pediátrico Nivaldo Júnior é oriundo do antigo Pronto Socorro Infantil Sandra Celeste que já funcionou no prédio onde hoje está a Maternidade Araken Pinto, antes Hospital Municipal de Natal. A unidade tinha 35 leitos, sendo 5 destinados à psiquiatria infantil – os únicos do município de Natal para essa especialidade – e tinha foco em internações prolongadas.
Por meio de nota, a Secretaria Municipal de Saúde de Natal (SMS) que, a partir desta terça-feira (13), todos os serviços da unidade estão sendo transferidos para o Hospital Maternidade Araken Irerê Pinto. A mesma nota informa que “A medida se dá em função da necessidade de racionalizar recursos humanos, estruturais e financeiros. Até para que o Município possa manter sua política de alto investimento no setor, o que hoje corresponde a mais de 33% do orçamento da Administração Municipal, mais que o dobro do índice obrigatório constitucionalmente (de 15% do orçamento) ” e segue também afirmando que “a medida adotada a partir desta terça garante a integralidade na prestação de todos os serviços que até então estavam sendo realizados no Hospital Nivaldo Júnior. O Hospital Maternidade Araken Irerê Pinto, portanto, passa a acolher as atividades pediátricas sem comprometer o atendimento aos usuários dessa especialidade na rede municipal de saúde”

Érica Galvão, diretora do Sindsaúde rebate a nota divulgada pela prefeitura de Natal: “A nota emitida pela SMS é uma mentira, que vão adequar o serviço aqui, não cabe, vai ficar tudo misturado, estão retirando lactário, expurgo, onde os bebês tomam banho vão fazer uma reforma, vão diminuir. Isso é um terror, isso não é contenção de gastos. Não investem em nada na saúde de Natal, pelo contrário, estão fechando serviços e sucateando. Foram retirados 6 leitos no primeiro andar da Maternidade Araken e vão misturar essas crianças do Nivaldo com recém-nascidos, crianças que acabaram de nascer com outras crianças que estão com doenças infectocontagiosas”.
“Vão misturar essas crianças com recém-nascidos, crianças que acabaram de nascer com outras crianças que estão com doenças infectocontagiosas”
Érika Galvão
Diretora do Sindsaúde
Segundo o Sindsaúde, na Maternidade Araken Irerê Pinto a divisão é feita da seguinte forma: no 1° andar estão alojados os recém-nascidos e salas de banhos; já no 2° andar tem as salas de partos de baixa e média complexidade e também estão alojadas as puérperas que tiveram bebês com alguma complicação. Em função da realocação de uma unidade para outra, 6 enfermarias foram desocupadas. “A gente está achando isso uma estupidez do prefeito. Como é que a gente vai colocar crianças internadas – se elas estão internadas é porque estão com um problema de saúde grave – com bebês que acabaram de nascer? A maioria dessas crianças tem doenças infectocontagiosas, pneumonia, bronquiolite, tuberculose, fora os 5 leitos psiquiátricos de crianças e adolescentes e a gente fica sem entender como é que eles vão colocar tudo isso no primeiro andar da maternidade que já está lotada e o segundo andar também”.
REPERCUSSÃO NA CÂMARA
Ainda na manhã de terça-feira, o vereador Daniel Valença (PT) postou sua indignação nas redes sociais durante visita a unidade quando a estrutura já estava sendo removida. Ao Diário do RN, o vereador contou o que pôde observar: “As mães muito assustadas, indignadas com tanto desrespeito e cobrando que Álvaro Dias recue da decisão. Desalento, talvez a expressão que melhor sintetize. E revolta de profissionais – mesmo com receio de retaliação – e das usuárias que conversamos”.
“As mães muito assustadas, indignadas com tanto desrespeito e cobrando que Álvaro Dias recue da decisão”
Daniel Valença
Vereador (PT)
A reportagem do Diário do RN também procurou os vereadores da Comissão de Saúde da Câmara de Vereadores de Natal. A vereadora Camila Araújo repudiou o fechamento da unidade: “É um tremendo absurdo o fechamento de uma unidade de saúde tão importante para o atendimento ao público infantil. Nosso mandato travou uma luta incansável em favor do Nivaldo Júnior, através de visitas, requerimentos, levando o debate para a Câmara Municipal, e hoje fomos pegos de surpresa com essa triste notícia. Hoje mesmo fiz um pronunciamento na Câmara repudiando o fechamento e cobrando do Executivo um plano de ação claro e objetivo para que os pacientes que dependiam desse hospital não fiquem desassistidos”.
O vereador Preto Aquino (PSD) afirmou que não tinha recebido nenhuma informação oficial da Secretaria de Saúde e afirmou que vai fazer alguns questionamentos: “Se é mudança de prédio, se é fechamento total, se ainda vai continuar atendendo, se vai continuar, onde vai ser? Quais vão ser as melhorias, os prejuízos e o que a secretaria tem a dizer?”.
Os também integrantes da comissão de saúde, vereador Herberth Sena (Presidente), vereador Aroldo Alves (Vice-presidente) e vereador Peixoto não enviaram respostas até o fechamento desta edição.
Na próxima quinta-feira (15), às 14 horas, haverá uma reunião do Conselho Municipal de Saúde que debaterá, dentre outras pautas, o fechamento do Hospital Pediátrico Nivaldo Jr e da Unidade de Saúde da Família, no Planalto. Os dois equipamentos foram fechados em menos de um mês.