Quando a draga Elbe se despediu de Natal, no dia 25 de janeiro, o ex-prefeito Álvaro Dias não esperou nem pelo atual gestor da capital para ‘inaugurar’ a obra. “Finalizamos a engorda da praia de Ponta Negra”, escreveu ele em primeira pessoa, na legenda do vídeo onde aparece ao lado do secretário de Meio Ambiente e Urbanismo, Thiago Mesquita, exaltando as belezas naturais e o potencial turístico e econômico da “nova Ponta Negra”.
“Agora, 50 metros de faixa de areia na maré cheia, 100 metros na maré seca, trazendo de volta tranquilidade, o conforto, o comodismo de todos aqueles que utilizam esta praia. Banhistas, turistas, natalenses e todos aqueles que amam a praia de Ponta Negra”, afirma no vídeo o ex-gestor.
Álvaro, porém, não tem a mesma pressa para explicar os problemas que se repetem na faixa alargada a cada chuva na capital. Situação que tem gerado grande repercussão uma vez que, se antes o uso da praia dependia da tábua de marés, agora depende da chuva.
A jornalista Daniela Freire, moradora de Ponta negra há mais de quatro décadas, usou as redes sociais para lamentar: “Cheguei pra morar com um ano de idade. Passei minha vida nessa praia e a vontade é de chorar ao ver o resultado dessa obra feita de qualquer jeito, de forma eleitoreira”.
No mesmo post, Daniela também relembrou os atropelos que antecederam o início da obra: “Com jazida retirada sem licença, obra realizada toda sem fiscalização ambiental porque a prefeitura disse que podia! Secretário responsável pela obra e então prefeito mentindo descaradamente sobre todo o processo”
O vereador Daniel Valença cobrou investigação e demonstrou preocupação com a aproximação do inverno, com chuvas mais rigorosas: “No final do ano passado fizemos um requerimento para instalação de uma CEI (uma CPI municipal) sobre a engorda de Ponta Negra. Se na época já existiam inúmeras questões a serem respondidas por meio de investigação da CEI, imaginem agora, com o estrago que as chuvas de verão (que nem se comparam ao que vem pela frente) já causaram a uma obra malfeita, ainda mais sem drenagem pluvial adequada. A cidade do Natal merece que a obra seja investigada profundamente e eventuais crimes ambientais sejam responsabilizados”.
A vereadora Brisa Bracchi lembrou que “quando a gente brigava na Câmara perguntando se haveria recursos para drenagem, diziam que estávamos querendo atrasar a obra porque éramos contra a engorda”
A deputada federal Natália Bonavides também usou as redes sociais para denunciar impactos negativos da obra: “Quando dissemos lá atrás que a obra precisava ser feita, mas do jeito certo, foi para que não acontecesse essas coisas que hoje estamos vendo na nossa praia”.
Alagamentos devem se repetir até conclusão da drenagem, afirma secretário
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O primeiro alagamento na área da engorda de Ponta Negra foi registrado no início da manhã do dia 13 de janeiro, após uma madrugada de chuva intensa na capital. Naquele momento, o secretário de Meio Ambiente e Urbanismo de Natal (Semurb), Thiago Mesquita, explicou que o problema ocorreu por uma falha na conexão entre dois pontos de drenagem. À época, o secretário também afirmou que o transtorno se repetiria com novas chuvas até que a empresa responsável providenciasse o ajuste das conexões. Na sequência, adotou o discurso de que os alagamentos são esperados porque a água da chuva fica empoçada na praia para que infiltre lentamente na areia, o que estaria previsto na concepção do sistema de drenagem.
Nesta quinta-feira, além dos alagamentos – que avançaram por um trecho bem maior tomando quase toda a extensão da praia – uma vala também se abriu, levando parte da areia, na área próxima ao Morro do Careca.
Em entrevista, no início da tarde desta quinta-feira, no Palácio Felipe Camarão, o secretário Thiago Mesquita afirmou que “houve abertura manual, por pessoas, de uma pequena vala, na boa intenção de escoar mais rápido a formação dos lagos. Isso acabou comprometendo a estrutura do local. A água desceu num volume muito grande e formou uma voçoroca”.
As voçorocas são buracos formados na terra por causa da erosão causada pela chuva, fenômeno previsto por especialistas durante o conturbado processo de licenciamento ambiental.