Construído em 1855 o Cemitério do Alecrim tem grande valor histórico-cultural, uma vez que a história contida naquele chão conta narrativas que perpassam o tempo. Logo na entrada do cemitério, os túmulos de Juvino Barreto, pioneiro da industrialização no RN, do maior religioso popular da cidade, Padre João Maria, além do mausoléu de Pedro Velho, político e fundador do jornal A República, podem ser vistos. Além de personagens importantes que repousam no cemitério, que possui dados históricos, avanços da arquitetura e trabalhos artísticos nos túmulos que têm representações de Jesus, santos e figuras mitológicas.
O projeto de Chão Sagrado surgiu há mais de 20 anos, com Abimael Silva, livreiro e um dos organizadores da obra, entre visitações, curiosidades e muita pesquisa. Somente em 2019 ele levou o projeto à Danielle Brito, produtora cultural e também organizadora da obra, para que juntos, eles pudessem tirar a ideia do papel e transformá-la em realidade.
Abimael conta que a obra trata-se de mais um registro sobre a história do povo norte-rio-grandense: “O Cemitério do Alecrim é onde está boa parte da nossa história, da antiga e da moderna, não é só um livro sobre a história do Cemitério do Alecrim, também é um livro da história de Natal e do RN. Ele resgata desde o começo de tudo, toda a história da construção em 1855 e até o presente momento, então ele é fundamental. Tenho consciência da importância desse trabalho”.
Segundo a produtora Danielle Brito, por trabalhar com patrimônios, gostar de estudar e pesquisar sobre o assunto, a ideia de Abimael a interessou bastante, e juntos eles pensaram na proposta de como o livro seria, mas o trabalho foi fruto de muita dedicação e pesquisa, um processo que inicialmente, ela pensou que seria fácil: “Os túmulos perderam a identificação, foram retirados os nomes dessas pessoas, a gente teve que checar, verificar direitinho se era aquilo mesmo. A gente achava que não seria um trabalho difícil, mas foi”.
Danielle afirma que a pesquisa do cemitério para localizar, documentar e identificar alguns túmulos demorou em média 2 anos, e o processo foi dificultado pela pandemia da Covid-19, mas que assim que eles puderam retomar às visitações no local, três vezes na semana eles se debruçaram em fatos históricos, jazigos, túmulos e curiosidades locais. “A intenção do livro e do filme é trazer a memória dessas pessoas, que fazem parte de algum de nós, como também fizeram parte da cidade”, reforça a produtora.
O lançamento da editora Sebo Vermelho, Chão Sagrado, reúne fotografias de Canindé Soares e João Maria Alves. A obra é acompanhada do filme κοιμητήριον –
Um registro histórico-cultural
A edição tem um QR Code que leva ao documentário Lugar do Sono Eterno, do diretor Augusto Lula: “Penso que é um primeiro olhar sobre o primeiro Cemitério público de Natal, no bairro do Alecrim. No Cemitério do Alecrim, Chão Sagrado do Sono Eterno, estão nossos antepassados, anônimos ou não anônimos. Chão Sagrado de contemporâneos do passado no nosso futuro Sono Eterno”, afirma o diretor.
Além disso, há um roteiro sugestivo que inclui mapa e localização dos túmulos de figuras importantes e ilustres personagens do estado. O lançamento do livro, com 162 páginas, será nesta quinta-feira (13), a partir das 18h na Fundação Capitania das Artes. O filme κοιμητήριον-Lugar do Sono Eterno será apresentado durante o lançamento, em duas sessões às 18h30 e 19h30.