“General Girão, vão esperar até quando para acionar os CACs? Têm CACs prontos. Acione, general! Coloque-os em treinamento militar intensivo. Temos muitos fuzis à disposição, não nos deixe sair como bandidos”, escreveu o empresário George Washington de Oliveira Sousa, acusado de tentar explodir uma bomba nas proximidades do Aeroporto Internacional de Brasília em 24 de dezembro passado, em mensagem de celular enviada ao deputado federal General Girão (PL), inconformado com a derrota do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A mensagem foi enviada para o parlamentar no dia 11 de dezembro, antes do dia planejado para o atentado. Em 25 de dezembro, foi registrado a primeira arruaça em Brasília, quando golpistas incendiaram a capital contra a diplomação de Lula, de acordo com matéria publicada pela revista Fórum, nesta segunda-feira (10).
Conforme material enviado pela Polícia Civil do Distrito Federal à CPMI do 8 de Janeiro no último dia 22 de junho, o acusado enviou mensagens ao General Girão e também ao senador Eduardo Girão (Podemos-CE), apelando para o uso dos CACs (Colecionador, Atirador Desportivo e Caçador) em apoio à ação que planejada realizar.
O conteúdo das mensagens foi enviado à CPMI dos Atos Golpistas e George Washington, além de ter tentado explodir a bomba no aeroporto de Brasília na véspera de Natal, falou sobre outras ações violentas, como um suposto assassinato de Lula por meio de um atirador sniper. Mesmo sabendo dos planos do militante, os dois parlamentares não avisaram as autoridades até onde se sabe.

Ao obter acesso ao celular de George Washington, a Polícia Civil do DF avançou nas investigações e descobriu detalhes como o fato deste planejar colocar a bomba no caminhão-tanque, deixando claro que este já era o plano desde o início. Ele foi preso no mesmo dia, com um arsenal com, pelo menos, duas espingardas, um fuzil, dois revólveres, três pistolas, centenas de munições e uniformes camuflados, além de cinco emulsões explosivas e afirmou, na ocasião, que “queria dar início ao caos”.
“PRESENTE DE NATAL”, diz Girão
A matéria faz menção ao fato do General Girão, quatro dias antes da data em que George Washington planejava explodir a bomba no Aeroporto de Brasília, ter dito a extremistas bolsonaristas que estavam acampados em frente ao 16º Regimento Interno, em Natal, que “Papai Noel vai chegar” e que “Essa semana está começando as festividades de Natal. Então, espero que todo mundo aqui tenha sido um bom filho, um bom pai, um bom irmão, uma boa esposa, e botem o sapatinho na janela que o Papai Noel vai chegar! Acreditem em Papai Noel!”, sendo respondido por gritos e aplausos.
A explosão do aeroporto, segundo George Washington, geraria um caos social na capital do país e seria o estopim para uma “intervenção federal” no Judiciário e na Segurança Pública, que permitiria a Bolsonaro, hoje inelegível, driblar o resultado das eleições e permanecer no poder. Mas deu errado, e agora George Washington “saiu como bandido”, conforme temia na conversa com o parlamentar.
STF DETERMINA INVESTIGAÇÃO
Na última sexta-feira (7), o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, determinou a abertura de inquérito contra General Girão por associação criminosa, incitação ao crime e abolição violenta do Estado Democrático de Direito, em atendimento a pedido do Ministério Público Federal (MPF) e da Polícia Federal. No prazo inicial de 60 dias, será investigado se Girão incitou os atos golpistas em Brasília, quando extremistas bolsonaristas invadiram depredaram e vandalizaram as sedes do Congresso Nacional, do Palácio do Planalto e do próprio Supremo.
“General Girão, vão esperar até quando para acionar os CACs? Coloque-os em treinamento militar intensivo. Temos muitos fuzis à disposição”
George Washington
Terrorista
Em nota, o deputado se defendeu, afirmando nunca ter incitado nenhum ato violento ou antidemocrático. “Eu respeito e sempre respeitarei, rigorosamente, a Constituição Federal e provarei minha inocência”, disse, nesta segunda-feira (10).
Conforme as denúncias, Girão usou ativamente suas redes sociais, “em claro abuso da liberdade de expressão e da imunidade parlamentar, para encorajar condutas que atentavam contra a ordem democrática”.
“Em postagem um mês antes da invasão dos prédios do STF, do Congresso Nacional e do Palácio do Planalto, o réu já instigava a violência contra as instituições, especialmente o Congresso. A vontade do réu em ver a concretização de um golpe de Estado, como se sabe, quase se consumou pouco mais de um mês de tal postagem, havendo nexo de causalidade entre conduta e dano”, ressaltou o MPF, para quem o deputado foi importante articulador e motivador dos atos criminosos.
“Em relação às mensagens localizadas no celular do acusado e direcionadas a mim, informo que minhas redes sociais são públicas e abertas”
General Girão
Deputado federal
Entre as primeiras medidas determinadas pelo STF, estão o depoimento de Girão à Polícia Federal; a preservação de publicações sobre os atos golpistas feitas por ele e seu envio à PF, uma nova análise das postagens do parlamentar e, em seguida, a análise de implantação de medidas cautelares. Já entre suas postagens deste, atacou as instituições e relativizou os acampamentos em frente aos quartéis do país. Há ainda postagens que, segundo a PF, demonstram uma “reiterada tentativa de descrédito” da Justiça Eleitoral.
GIRÃO NEGA CONVERSAS
“Nunca lhe proferi palavra alguma”, afirmou o deputado federal General Girão (PL) nesta terça-feira (11), ao negar qualquer tipo de relacionamento com o acusado George Washington ou de ter trocado mensagens com este.
“Primeiramente, não houve em nenhum momento ligação da minha pessoa ao acusado. Ele esteve presente em uma audiência pública no Senado Federal, onde eu também estive, junto com outra dezena de parlamentares. Não o convidei, não fui eu quem autorizei sua entrada e nunca lhe proferi palavra alguma. Em segundo lugar, em relação às mensagens localizadas no celular do acusado e direcionadas a mim, informo que minhas redes sociais são públicas e abertas para comentários e mensagens diretas”, afirmou o parlamentar.
Girão garantiu receber todo tipo de mensagens por meio de suas redes sociais e que não tem como controlar o teor destas, nem garantir que sejam visualizadas ou respondidas, por ele ou por sua assessoria.
“A mensagem atrelada ao processo não foi visualizada. E, pelo seu teor antidemocrático, se fosse visualizada, certamente, seria descartada, pois não condiz com a atuação do meu mandato, do meu caráter e nem com a Constituição”, disse Girão.