O soldado Luan Felipe Alves Pereira, que aparece em um vídeo jogando um homem de uma ponte, na Cidade Ademar, na zona sul paulistana, já foi indiciado por matar um motoqueiro, com 11 tiros, em 26 de março do ano passado. Na ocorrência de homicídio, cujo processo foi extinto em janeiro deste ano, a versão de Luan, que alegou legítima defesa, foi aceita pelo Ministério Público (MPSP) e Tribunal de Justiça (TJSP) paulistas.
À época, em depoimento à Polícia Civil, o soldado afirmou que patrulhava o bairro Piraporinha, em Diadema, na Grande São Paulo, juntamente com um parceiro das Rondas com Motocicletas (Rocam). Foi nessa região que eles se depararam com Maycon Douglas Valério, de 31 anos, que guiava sem capacete e sem camiseta uma moto. O soldado afirmou ter dado ordem para o suspeito parar, que teria sido negada, e uma perseguição se iniciou.
Alguns metros adiante, Maycon desembarcou da moto e seguiu fugindo a pé. Luan também deixou a viatura e correu atrás do suspeito. O parceiro do soldado não o acompanhou para ficar de olho no veículo de Luan, pelo fato de estarem em uma região, segundo os policiais, perigosa.
Tiros e morte
Em uma viela, segundo registrado pela câmera corporal do soldado, Maycon deixou cair um revólver no chão. O suspeito tentou pegar a arma e foi alvo de 12 tiros, dos quais 11 o atingiram no peito e na face. Um laudo da Polícia Técnico-Científica mostra que há somente um ferimento, no lado esquerdo do pescoço, resultante de dois tiros, que transfixaram e saíram pelo rosto do suspeito. O próprio soldado Luan afirmou ter dado 12 tiros para revidar a “injusta agressão” de Maycon.
O soldado e seu parceiro, ainda em depoimento, afirmaram que Maycon estava vivo e, por isso, foi encaminhado para um hospital da região, onde morreu oficialmente. Outro laudo da Polícia Científica indica, com base na análise da câmera corporal do PM, que a arma dele efetuou 11 tiros. Outros dois sons foram captados, mas não foram confirmados se seriam disparos e se foram dados pelo suspeito.
O promotor João Otávio Bernardes Ricupero, alegando que as circunstâncias do homicídio foram “esclarecidas”, promoveu o arquivamento do inquérito policial em 24 de janeiro deste ano.
Repercussão
Nessa terça-feira (3/12), o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) o secretário da Segurança Pública, Guilherme Derrite, criticaram a ação do policial que arremessou o suspeito da ponte. Segundo Tarcísio, o PM que aparece no vídeo “não está à altura de usar a farda” da corporação.
“A Polícia Militar de São Paulo é uma instituição que preza, acima de tudo, pelo seu profissionalismo na hora de proteger as pessoas. [O] policial está na rua para enfrentar o crime e para fazer com que as pessoas se sintam seguras. Aquele que atira pelas costas, aquele que chega ao absurdo de jogar uma pessoa da ponte, evidentemente não está à altura de usar essa farda”, disse Tarcísio em publicação nas redes sociais.
Em vídeo, Derrite disse que “nenhum tipo de desvio de conduta” por parte de policiais do estado será tolerado. “Quero dizer para todos vocês que essa ação não encontra respaldo nenhum nos procedimentos operacionais da Polícia Militar e eu determinei ao comando da Polícia Militar o afastamento imediato de todos os policiais envolvidos nessa ação”, afirmou.
Luan Felipe Alves Pereira está atualmente afastado das ruas. Além dele, outros 12 foram transferidos para atividades internas por conta do caso.
Fonte: Metrópoles