A virada do ano é um marco. Quando os fogos estouram e o relógio marca meia-noite, 1° de janeiro, muitas pessoas se agarram à crença de deixar um ano velho para trás e dar boas-vindas a um ano novo, repleto de conquistas e uma oportunidade para recomeçar, traçar novos planos e dar continuidade ao que se foi planejado e não alcançado no ano anterior. Porém, não são todos que veem a virada de ano como uma guinada de fato, as incertezas, medos e inseguranças rondam aqueles que não conseguiram alcançar seus objetivos, tiveram frustrações no emprego, relacionamentos e problemas familiares no ano que está acabando. Essa cobrança para se alcançar o novo, muitas vezes pode comprometer a saúde mental, pois algumas pendências emocionais podem se tornar mais um peso que não irá estourar junto aos fogos, mas sim, se enraizar e se transformar em um tormento para o ano seguinte.
“Em 2022, meus maiores planos eram entrar no mercado de trabalho após o mestrado e a saída da casa da família e foram minhas realizações mais rápidas, concretizadas graças ao processo de terapia que vinha realizando desde 2021. Nesse período, aprendi a não expectar muito para o ano que vai entrar, porque me afeta muito, então, determino pequenas realizações para que os objetivos sejam sempre superados”, relata Samuel Leandro, professor de dança e coreógrafo. Para ele, 2023 trará uma grande mudança em sua vida, mas é necessário se organizar, planejar e manter a calma com a onda de mudanças que sua vida terá. “A ansiedade para o ano que vem gira em torno de economizar para a mudança e me reestabelecer em outro estado e por enquanto não é algo muito presente na minha rotina, devido a uma série de atividades que estavam sendo realizadas esse ano. ”
As cobranças, às vezes, podem atrapalhar o processo de construção desse novo “eu” pautado em 365 dias de oportunidades, para mudanças e renovações, mas que nem sempre são os caminhos mais eficazes para essas metas, se forem moldadas por ansiedade ou qualquer fator que torne uma angústia, uma perturbação mental, é necessário saber a hora de buscar pela ajuda de um profissional.
A psicóloga Jayany Queiroz explica o que é essa síndrome. “A síndrome de fim de ano é uma ansiedade com essas expectativas; um novo ano, novas coisas. E ela pode ser amenizada ao estabelecer metas, planos, para o ano seguinte, mas tendo em mente que é um novo ano, um novo ciclo, mas para isso, as coisas de 2022 precisam ser concluídas e os ciclos encerrados. ” Para ela, é necessário compreender que as metas e objetivos servem para dar direcionamento à vida, mas que as pessoas devem ser realistas, pois cada coisa tem o seu momento e precisam dar prioridades ao traçar metas e planos.
Para Bruna Gomes, mãe e autônoma, há outras responsabilidades para se pensar na virada do ano e na hora de tirar alguns sonhos do papel. “Acabei abrindo mão de fazer algo que realmente queria por medo de ficar desempregada e isso me levou a zona de conforto que na verdade não era tão de conforto. Quando se tem filho, a gente acaba criando uma casca que nada mais é sobre você, é sobre o cuidado com seu filho. Mas a culpa é dele? Não, não é. É que acabo pensando nas emergências que podem ocorrer e isso me levou a não me arriscar demais. Eu tinha algumas metas em relação ao empreendimento neste ano, mas os medos, e a insegurança me fizeram recuar”, relata.
Nesses casos, a psicóloga lembra que é importante rever as prioridades e entender que alguns ciclos devem ser encerrados no ano anterior, para que as realizações do ano seguinte possam ser concretizadas. “Sonhos não são inalcançáveis, porém existe um tempo para cada coisa. Entender qual é o seu momento hoje, qual é a sua realidade, o que você pode alcançar e assim traçar suas metas”.
Jayany traz reflexões profundas que podem ajudar na hora de focar nos objetivos e prioridades, escolhas que se fazem de forma consciente ou não, mas que podem mudar o rumo dos planos para o futuro. “É necessário se perguntar: será que as escolhas que você tomou esse ano te aproximaram dos seus valores e da vida que você quer construir? Como foram as escolhas desse ano? Não tomar uma decisão também é uma escolha”, finaliza.