Por Carol Ribeiro
O eleitor separa a eleição municipal da estadual e federal. A posição é unânime entre os especialistas que conversaram com a reportagem Diário do RN sobre a influência da polarização nacional nas eleições municipais que se aproximam. A pesquisa DataVero/93FM, realizada em Mossoró e divulgada nesta terça-feira (16), questionou os mossoroenses sobre a influência do apoio de Lula (PT), de Bolsonaro (PL) e de Fátima Bezerra (PT) nas suas intenções de votos.
Sobre o apoio do presidente Lula, 70,20% responderam que não influencia, 25,66% disseram que sim e 4,14% não sabem ou não responderam. Sobre o apoio da gestora estadual e a influência do voto, 76,32% disseram que não faz diferença, 19,37% disseram que sim, influencia, e 4,30% não sabem ou não responderam. Já 78,97% disseram que o apoio de Bolsonaro não influencia o voto, 18,21% responderam que ‘sim’ e 2,81% não sabem ou não responderam.
A pesquisa entrevistou 600 pessoas nos dias 13 e 14 de abril de 2024. A margem de erro é de 3% para mais ou para menos. O nível de confiança é de 95%. O número de registro no TER é RN-00041/2024.
O analista político Bruno Oliveira explica que esse é um padrão. Embora o fenômeno da polarização entre a direita e a esquerda tenha acontecido além do Brasil, também em outros lugares do mundo, a eleição municipal considera mais os fatores locais.
“Se a minha rua está calçada, se o esgoto está a céu aberto, se o transporte público está funcionando direito, se a segurança das pessoas está sendo atendida de maneira eficiente, se a saúde está funcionando. Esse fator acaba tendo mais peso do que as questões e temas que a gente pode chamar de costumes, aqueles temas que que mais ideológicos, a questão do aborto, a descriminalização das drogas, questões que acabaram tomando uma parte significativa da pauta nacional por conta desse acirramento”, esclarece.
Segundo ele, fora do padrão, existem alguns casos em que num município existe uma candidatura forte do polo mais à esquerda e uma candidatura forte do polo mais à direita. “Nesses municípios eu acredito que o fator nacional vai ter mais peso. Não é o caso de Mossoró”, pontua Bruno.
O analista político Walter Fonseca observa que toda política de transferência de voto tem que ter um representante e este não é o caso de Mossoró, que não tem um representante forte nem da direita, nem da esquerda.
“Tem que ter um nome para dar liga. Lula não tem esse nome em Mossoró. Historicamente em eleições para prefeitura de Mossoró o PT nunca chegou a mais de 6%. Vai transferir para quem? Do PT não tem nenhum nome. Tem um nome possível? Lawrence (Amorim, presidente da Câmara Municipal)? Que tentaram, para fazer um contraponto. Tony? Não emplacaria. Rosalba? Olha a dificuldade de discurso”, avalia.
Do outro, a análise é semelhante; o bolsonarismo não conta com um representante mossoroense.
“Allyson nunca foi um bolsonarista. Ele fez uma aliança muito forte com Rogério Marinho (PL), mas nunca declarou que é Bolsonaro. E durante essa campanha já houve o afastamento dele e de Rogério, que é o ícone bolsonarista no Rio Grande do Norte. Então o voto bolsonarista raiz, por mais que seja fraco e eu acho que é fraca a candidatura de Genivan (Vale), seria se houvesse influência transferida para Genivan e eu não vejo ainda nenhum fator que me indique esse sentido”, afirma Fonseca.
Para o professor, a característica é própria de Mossoró. “Mossoró é muito chapliniana nesse sentido. Chaplin dizia que a vida é um aspecto local”, completa.
Já o cientista político, Daniel Menezes, analisa que a pouca influência do bolsonarismo e do lulismo na campanha municipal não acontece só em Mossoró, mas em todo o Rio Grande do Norte.
“Normalmente o que acontece é que o eleitor sabe separar bem o que é a eleição municipal, o que é a estadual e federal. Como a gente muitas vezes fica preso nas redes sociais, nós ficamos com a impressão de que a disputa entre Lula e Bolsonaro tem peso nas disputas municipais, mas isso na prática não acontece mesmo num Estado como o Rio Grande do Norte, que é um Estado lulista”, explica.
Em relação especificamente a Mossoró, a tendência é que os resultados se mantenham independente de ideologia, mas observando a avaliação da gestão.
“Algo que é dado também para a ciência política é que prefeitos bem avaliados se reelegem ou fazem sucessor. A primeira pergunta que o eleitor se coloca quando ele vai para eleição é a seguinte: eu devo manter este governo ou não devo manter? Se ele está bem avaliado, o eleitor mantém. No caso de Mossoró, ele (o eleitor) não vai atrás de outros nomes, porque o prefeito está bem avaliado”, diz.
Ele destaca que o prefeito Allyson Bezerra entende essa avaliação e já baseia sua articulação eleitoral a partir disso.
“Ele normalizou as contas do município. Serviços melhoraram com ele em relação a administração anterior. Então, isso tem um peso muito mais forte na prática do que a disputa nacional. Tanto é que ele se deu ao luxo de recusar apoios para não ter que ceder a cadeira de vice-prefeito, na formação da chapa, porque ele entende que está bem avaliado”, avalia.