Mesmo sendo classificada como uma doença rara, a Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) acomete cerca de 140 mil pessoas por ano, em todo o mundo. Ainda sem uma cura determinada, cientistas de diversos países se debruçam em busca de métodos para o diagnóstico e prognóstico precisos e a melhora da qualidade de vida do paciente. No Brasil, um grupo de pesquisadores potiguares apresenta uma nova abordagem utilizando inteligência artificial para aprimorar o prognóstico do declínio funcional dos pacientes com ELA.
Parte dos resultados obtidos está publicado no artigo “Previsão da progressão da ELA usando modelos de aprendizado profundo autorregressivos”, https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S2666521225000511, da revista Intelligence-Based Medicine. A publicação é mais um resultado obtido em cooperação internacional entre Brasil e Portugal, envolvendo o Laboratório de Inovação Tecnológica em Saúde (LAIS) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, o Núcleo Avançado de Inovação Tecnológica (NAVI) do Instituto Federal do Rio Grande do Norte, e o Centro de Informática e Sistemas da Universidade de Coimbra (CISUC ), um dos principais centros portugueses de investigação em Informática e Tecnologias de Informação.
De acordo com Fabiano Papaiz, um dos autores do artigo e autor da tese de doutorado na qual o tema foi abordado, este artigo foi o primeiro a utilizar previsão de séries temporais auto-regressiva, de múltiplos passos e múltiplas saídas para a realização do prognóstico da ELA.
Os dados temporais dos pacientes foram baseados na Escala de Avaliação Funcional da ELA (ALSFRS), que é um questionário de avaliação respondido a cada consulta e que avalia a incapacidade funcional dos pacientes relacionada à progressão da doença. A variação da pontuação total da ALSFRS é comumente usada para monitorar a evolução da doença ao longo do tempo. “Nosso estudo apresenta uma abordagem inovadora baseada em inteligência artificial para prever a pontuação da ALSFRS para os próximos 12 meses (mês a mês) utilizando dados de pacientes coletados durante os três primeiros meses após o diagnóstico da doença”, enfatizou o pesquisador.
O estudo desenvolvido por pesquisadores brasileiros superou os resultados de trabalhos anteriores utilizando um conjunto significativamente menor de variáveis de entrada e, dessa forma, demonstrando uma maior eficácia. “Com os resultados promissores obtidos, nossa abordagem poderá auxiliar médicos na elaboração de tratamentos personalizados e no planejamento de recursos, além de servir como critério de inclusão ou exclusão em ensaios clínicos”, explicou Papaiz.
De acordo com o professor do Departamento de Engenharia Informática da Universidade de Coimbra, Joel Arrais, as pessoas com ELA que utilizam os sistemas públicos de saúde serão beneficiadas diretamente com os resultados da pesquisa. “O modelo permite prever, por exemplo, quando um paciente poderá necessitar de cadeira de rodas ou apoio respiratório, facilitando o planejamento antecipado de equipamentos e serviços. Esta previsão personalizada pode contribuir para evitar internações desnecessárias, acelerar o acesso a cuidados apropriados e promover uma maior autonomia e bem-estar para os doentes”, destacou.
O médico e professor Mário Emílio, que também é pesquisador do LAIS e participou do desenvolvimento do artigo, apontou que os resultados do estudo vão auxiliar nas tomadas de decisão dos médicos dos pacientes com ELA. “Ele pode auxiliar os médicos a ajudar os pacientes a manter um certo grau de autonomia, com um cuidado personalizado, e ajudá-los a planejar suas vidas (tomada de decisões). Além disso, a utilização do modelo tem o potencial para utilizá-lo em desenhos de ensaios clínicos, o que, espera-se, levará a uma descoberta mais bem-sucedida de tratamentos eficazes para pacientes com esta doença devastadora”, explicou.
Todo o desenvolvimento da pesquisa sobre o tema teve início no RevELA, projeto desenvolvido pelo LAIS em parceria com o Ministério da Saúde. Com o interesse dos pesquisadores, as pesquisas foram expandidas como mais um tema a ser estudado em nível de doutoramento, na cooperação internacional com a Universidade de Coimbra.
Para o diretor executivo do LAIS, e coautor do artigo, Ricardo Valentim, esse é mais um exemplo da importância de pesquisas em cooperação internacional, numa perspectiva de produzir impactos e de melhorar as condições de vida dos pacientes com esclerose lateral amiotrófica. “É uma contribuição para o desenvolvimento da saúde no contexto mundial”, finalizou.