O racismo é, sem dúvida, o relevo mais significativo da deformação do caráter humano. Nada pode ser pior que você estabelecer tratamento de inferioridade a partir da cor da pele do outro. É sobre isso, é sobre respeito aos negros.
Vivemos num país em que a cor da pele determinava o futuro das pessoas: nascer preto era já vir ao mundo transformada em mercadoria, fadada a uma ‘vida’ miserável e humilhante sob todos os aspectos.
Oficialmente, a escravidão foi abolida. O problema é que não há lei que mude a essência de um escravocrata, de um racista moderno. A lei fará com que ele não exponha seus primitivos e abomináveis instintos em público. Mas ele, ela, continuam os mesmos podres de espírito em suas entranhas alheias às leis ou regras.
Aliás, o surgimento de várias e sucessivas leis municipais, estaduais e federais para tentar punir os racistas, só mostra o quanto nossa sociedade ainda é apodrecida, suja e atrasada.
Afinal, por que precisamos de leis para obrigar um ser humano a respeitar outro, quando o que os difere é apenas a cor da pele?
A resposta é que aqueles que acham ter superioridade pelo fato de ter uma pele clara são geralmente inferiores em quase tudo e usam a melanina como arma ou proteção de sua insignificância moral, espiritual e de caráter.
Os escravocratas modernos se revestem do manto da hipocrisia e calçam os sapatos do cinismo para evitar expor o que realmente são e pensam. Eles são escravos de seu racismo interior, numa luta constante nos pelourinhos da alma podre, nos quilombos das mentes doentias. São intensas chicotadas do capitão do mato que habita nos latifúndios de corpos brancos, em contínuas batalhas para manter todo o ódio pelos negros, amarrado internamente sob as brancas cortinas invisíveis da falsidade humana.
O racismo, o ódio aos negros, tem aumentado na proporção que os negros alcançam sucesso e exibem suas cartas de alforria pelo talento, competência e caráter. São alforriados não mais pela falsa generosidade de brancos ou pelo pagamento de sua liberdade.
O preço da alforria é imensurável. Não há senhor ou doutor que tenha dinheiro suficiente para pagar pela nova alforria dos ex-escravos da servidão e da dependência. A alforria moderna vem do conhecimento e da educação, que quebram as correntes do desprezo e da indignidade.
Quando digo que o racismo é a maior deformação do caráter humano é porque todas as diferenças ou divergências a respeito de qualquer situação são discutíveis e aceitáveis, mesmo que mantenhamos nossa convicção.
Porém, o desprezo humano pela cor da pele, esse pecado é capital e merece toda repulsa possível sempre. Simplesmente pelo fato de que não é a pele que estabelece caráter ou personalidade. Cada um é o que é ou o que quer ser, independente da cor de sua pele.
Fiquemos sempre atentos aos racistas ‘bem-humorados’ que vomitam seus esgotos interiores sob a falsa motivação da piada.
Temos que combater permanentemente toda e qualquer forma de racismo, as explícitas e as piores, que são as subliminares.
Que tenhamos Consciência Negra sem medo de leis ou punição. Essa é a meta.
Por Tulio Lemos