“Neste dia de domingo, o céu está lindo, já estou partindo (…)” e foi assim, como na canção, que a cultura potiguar se despediu do cantor, instrumentista e compositor Paulo Souto, mais conhecido entre fãs e amigos como Txio Paulinho, faleceu aos 52 anos, no último domingo (11). Desde junho de 2021, Txio Paulinho estava em tratamento contra um câncer de cólon retal e com frequência realizou vaquinhas para conseguir custear seu tratamento e suas produções musicais. Sim, ele nunca parou de produzir. No ano de 2020, em plena pandemia da Covid-19, Txio Paulinho completou 50 anos e lançou o álbum “50”. Em 2021, logo que descobriu a doença, resolveu transformar todo momento difícil que estava passando em um projeto musical, o “Sagitário em Câncer”. Segundo o próprio contava, essa era uma forma de cura para a alma e alternativa para arrecadar fundos para o seu tratamento, além de ser uma forma de retribuir aos seus fãs tanta gratidão e apoio neste período.

Ícone da cultura potiguar, estava à frente da Banda DuSouto há 20 anos, transformando em música o sentimento de ser um potiguar. Uma trajetória musical que marcou gerações, como contou o jornalista e amigo Isaac Ribeiro, em entrevista ao Diário do RN: “Paulo fazia parte de uma banda chamada Humanos quando foi convidado por Gustavo Lamartine para entrar para o General Lee, à época. Assumindo o baixo no lugar de Ângelo. À medida que se entrosava com o grupo foi passando a compor cada vez mais. Com a banda já se chamando General Junkie, Paulo passou a fazer experimentos com a linguagem da embolada e o coco de embolada”.

Com a banda DuSouto, Paulo colocou em prática toda essa mistura de ritmos, conforme lembra o amigo: “DuSouto surpreendeu com a mistura de dub, ragga, drum’n’bass, samba e levadas regionais, com letras que fazem uma crônica da cidade e de seus costumes, tipos e personagens”, representando a mistura do povo potiguar, o carisma e a diversidade. “Paulo sempre esteve mais à frente, antecipando ideias e comportamentos. É um dos principais criadores de uma linguagem contemporânea potiguar, dos anos 1990 até os dias atuais, interferindo de forma sublime na música feita em Natal, influenciando amigos e artistas de seu tempo”, concluiu o jornalista Isaac Ribeiro.

“Fica uma lacuna na nossa cultura, na música pop potiguar e na nossa vida. Um par da nossa sandália Havaiana se foi”
Margot Ferreira
Jornalista
A jornalista e amiga de Paulo Souto, Margot Ferreira, enfatizou como essa autenticidade de Paulo Souto era fundamental: “Paulo foi um rebelde. Uma rebeldia tão bendita que resultou em sua autonomia profissional, criando uma nova banda, com seu nome e com a sua cara. Seus companheiros da música estão de luto assim como seus fãs, amigos, familiares… quando cheguei em Natal, antes do jornalismo, Paulo já estava nos palcos dizendo a que veio. Fica uma lacuna na nossa cultura, na música pop potiguar e na nossa vida. Um par da nossa sandália Havaiana se foi.
“Um baita compositor, cantor, instrumentista e transformou em música o que é ser potiguar”
Ana Morena
Instrumentista e produtora cultural, Ana Morena também lamentou a partida precoce do músico: “Perdemos uma das figuras mais queridas, talentosas e importantes da música potiguar. Paulo sempre com sua forma divertida era um baita compositor, cantor, instrumentista e transformou em música o que é ser potiguar, uma pessoa que quer se divertir, amar e ser amado, tomar umas coisinhas, uns negocinhos e principalmente ser feliz. Pessoas como ele são raras e ele fará muita falta! ”
Fãs, amigos e admiradores de seu trabalho prestaram inúmeras homenagens nas redes sociais, agradecendo pelo trabalho e suas músicas que marcaram época deixando a certeza de que a lacuna no cenário musical jamais será preenchida, o legado de ‘Txio Paulinho’ perpetuará por mais e mais gerações, com sua irreverência, suas músicas e seu estilo ousado de falar sobre a cultura e hábitos potiguares.