Manfried Sant’Anna, 87 anos, ascendência alemã e cigana, ícone do humor brasileiro, se consagrou na memória afetiva de milhões de brasileiros que o conhecem por Dedé Santana. Ao lado de Renato Aragão, a dupla é a memória viva do que sobrara do quarteto de sucesso de Os Trapalhões, composto também por Mussum e Zacarias, o programa foi sucesso desde quando surgiu na Rede Tupi, nos anos 1970.
Dedé Santana esteve em Natal durante o período de 8 a 11 de dezembro, a convite do artista circense, o palhaço Fuxiquinho, sucesso nas redes sociais, levando o humor feito no circo para a internet. Dedé veio à Natal 4 vezes; a primeira, há mais de quarenta anos. Na última sexta-feira (8), ele recebeu o Diário do RN no hotel Aram Natal Mar Hotel, na Via Costeira, onde ficou hospedado e foi no restaurante do hotel que entre goles de suco de cajá e risadas, o humorista partilhou com a equipe suas memórias e agradeceu a receptividade que recebeu. Mesmo durante a entrevista, a todo momento as pessoas pediam para tirar foto e tietar Dedé.
“A cidade está mudada, está muito linda, uma coisa linda. E o povo nem se fala, né? Têm me acompanhado, me recebido em todo lugar, eu estou muito animado com a cidade. Tem 30 anos que Os Trapalhões está fora do ar e o povo na rua continua igual. Acho que por isso que estamos no Guinness Book, no livro dos recordes americano, como o conjunto que mais tempo permaneceu no ar”.
Filho do palhaço Picolino e da contorcionista Ondina, Dedé já trabalhou em várias funções no circo e, ao longo de sua carreira, já atuou como ator, humorista, apresentador, roteirista e cineasta.
“Eu me defino palhaço. Sou um palhaço de cara limpa, foi o prêmio que eu ganhei em São Paulo quando eu tinha 17 anos de idade. Eu entrei e esqueci de pintar a ‘cara’. Na verdade, eu trabalhava numa fábrica e num circo e eu cheguei muito atrasado para o espetáculo. Me arrumei correndo e naquela distração, entrei de cara limpa e o povo riu muito mais comigo de cara limpa do que com a cara-pintada, aí nunca mais eu pintei a cara. Eu me considero um palhaço de cara limpa”.
A influência circense de seus pais, pulsante na vida de Dedé desde os 3 meses quando participou de um espetáculo junto a eles, anos depois deu frutos. Desde 2015, Dedé Santana é embaixador do circo no Brasil, unindo paixão à luta para que os circos sejam valorizados.
A passagem por Natal também marcou duas apresentações do humorista no “Fuxiquinho Circo Show” no sábado (9) e no domingo (10), que estava ao lado do Ginásio Nélio Dias, na zona norte de Natal.
“O circo passou por muita dificuldade. A pandemia derrubou, fechou circos, muitos passavam fome. Você chegava na cidade e o prefeito não deixava entrar, aí na cidade que estava não deixava ficar, cortavam a água, luz para o circo, a pandemia foi terrível e acabaram muitos circos. Mas, agora graças a Deus, está melhor. Eu faço tudo para o circo no Brasil não acabar, eu não quero que o circo acabe no Brasil”.
As mudanças do humor feito no Brasil
O programa Os Trapalhões estreou no ano de 1974, aos sábados, na Rede Tupi e em 13 de março de 1977, estreou na TV Globo aos domingos, antes do Fantástico. O programa apresentava uma sucessão de esquetes humorísticos e se consagrou pela popularidade no Brasil. Com décadas de trabalho e muito sucesso, Dedé analisa as mudanças no humor feitas no Brasil ao longo das décadas.
“O politicamente correto amordaçou todo mundo. Você não pode mexer com cor, não pode mexer com gay… Eu adorava quando o Renato brincava com esse ‘negócio’ de gay comigo, eu me sentia bem. Era uma brincadeira porque eu fui palhaço de circo, eu considero o humor dos Trapalhões de palhaço de circo, então, ninguém fazia nada por maldade, ali era tudo na brincadeira mesmo”.
Como era ser um trapalhão
“Era muito mais engraçado nos bastidores, entre a gente era muito engraçado. Eu sinto muita falta disso, de estar com eles, de brincar, de viajar com eles… Mussum e o Didi brincavam um com ou outro o tempo inteiro, eu me divertia mais que o público, eu ficava por trás. Eu era o cara mais sério da turma”.
Os Trapalhões também fizeram sucesso nas telas do cinema e conquistaram recordes de bilheteria nacional. O primeiro filme, Na Onda do Iê-Iê-Iê, contava apenas com a dupla Didi e Dedé. Com o quarteto clássico, foram produzidos vinte e um filmes, começando com Os Trapalhões na Guerra dos Planetas (1978) até Uma Escola Atrapalhada (1990).
Mesmo após os desentendimentos com Renato Aragão, Dedé afirma que a relação com Renato está melhor, que o considera como um irmão e que uma família, vez ou outra, acaba brigando.
Como Dedé Santana lida com a fama
“Engraçado, eu vou te falar uma coisa e você pode pensar que eu estou mentindo, mas a verdade é que eu nunca me senti famoso, eu me sinto conhecido. As pessoas me conhecem, mas celebridade, famoso, não, te juro. As pessoas hoje pensam em ser artista, mas não é para ‘dar para o público’, eles querem ser artista para serem famosos, celebridades, e isso não rola, como a juventude diz. A gente tem que pensar no público, no trabalho”. Além disso, Dedé Santana destaca o que mais gosta de fazer, além do circo. “Eu gosto muito de direção de cinema, eu dirigi vários filmes, tenho me identificado muito com a direção. Eu dirigi um filme nos Estados Unidos sem saber falar em inglês, com um intérprete, eu me identificava muito com direção e muitas vezes eu dirigia os Trapalhões. Eu não queria ficar na frente da tela, eu queria ficar por trás”.