Por Robson Bezerra
O município de Macau, localizado na Região da Costa Branca, a cerca de 180 km de Natal, completa 150 anos de emancipação política na próxima terça-feira, 9 de setembro. Em mais uma oportunidade, o município reafirma sua importância política no cenário estadual e celebra com a Festa do Sal. Socialmente, a celebração reforça os laços comunitários ao integrar diferentes segmentos da sociedade em uma série de eventos cívicos, religiosos e esportivos que convidam toda a população a revisitar suas memórias e construir um futuro. Economicamente, o tradicional evento movimenta o comércio, turismo e fortalece a economia baseada na extração do sal, pesca e eventos festivos.
Programação especial conta com shows, cultura e esportes
A celebração, iniciada em 1º de setembro, se estende até 9 de setembro, e inclui a programação da Semana da Pátria, contemplando atividades cívicas como o hasteamento das bandeiras e desfile cívico-escolar, além de eventos culturais e religiosos que evocam tradição e fé. A Festa do Sal, na Praça da Conceição, terá atrações como a “Feira Literária de Macau (FLIMA)”, “Festa do Reencontro” com presença da Deusa do Forró, arrastões e o tradicional Moto Fest, um evento que já se tornou marca da cidade.
Festa do Reencontro Macauense
Criada em 2007, a Festa do Reencontro chega agora ao seu 18º ano de realização e será marcada por música, encontros e homenagens no período em que a cidade também comemora um século e meio de emancipação política.
Mais do que um evento musical, a festa é um momento de encontro entre macauenses que vivem em diversas partes do Brasil e retornam para rever amigos e familiares. “É uma festa muito falada, que todo ano dá muita gente. É quando realmente se encontram os macauenses que moram em Natal, Rio, São Paulo, Santos e em várias regiões do país. É um reencontro de histórias e de laços que unem todos nós”, reforçou Fernando Lopes
De acordo com Fernando Lopes, organizador da festa, a programação está confirmada para o dia 6 de setembro, a partir das 20h, com a Banda Filarmônica da cidade abrindo o evento. “A festa do reencontro foi iniciada em 2007. Nós estamos com 18 anos de festa e hoje ela é um sucesso.
Começa às 8 horas da noite, depois vem Laércio Banda Mix, em seguida a Deusa do Forró, e de madrugada a Trap Dance. A festa vai até 5 da manhã, no encerramento”, detalhou.
Feira Literária de Macau (FLIMA)
O aniversário de 150 anos de emancipação política de Macau também será marcado pela realização da FLIMA (Feira Literária de Macau), nos dias 5 e 6 de setembro, na Praça da Conceição. Idealizada pela produtora cultural e curadora literária Doroteia, a programação reunirá escritores, editores, jornalistas e artistas potiguares em uma grande celebração da cultura. “O que eu posso falar sobre o aniversário de Macau é que eu estou presenteando a minha cidade com a FLIMA. Estou trazendo os maiores escritores, editores e jornalistas do Rio Grande do Norte”, afirmou Doroteia.
Entre os convidados confirmados estão nomes de destaque como Vicente Serejo, Ciro Pedrosa, Tadeu Oliveira, Abimael Di Sebo, Luísa Azevedo, além de Conte Han, Silvia Ione e Dona Regiane Cardoso. A proposta é aproximar a população da literatura potiguar e abrir espaço para debates, lançamentos e rodas de conversa. “É um presente para Macau e um momento de encontro com a nossa própria identidade cultural, valorizando quem faz literatura e arte no estado”, completou a curadora.


Mata Sete
Durante a FLIMA, o jornalista e sociólogo potiguar Tadeu Oliveira lança seu mais novo trabalho intitulado “No Auge do Mata Sete: Vida, Prazer e Desamor na Ilha do Sal”, no MMarias Café, na Praça da Conceição. A obra chega ao público justamente no período em que o município celebra seus 150 anos de emancipação política, reunindo memórias de um tempo em que a cidade respirava a efervescência cultural, social e econômica da região salineira.
Segundo o autor, o livro é fruto de um processo de pesquisa e memória. “O livro é um trabalho que a gente tem desenvolvido. Já em Macau, acho que é o terceiro da série que eu chamo de ‘O selo de grau’, da minha editora mesmo. Neste livro, estou falando de uma história, um momento muito rico de Macau, que são os anos 60 e 70, que na realidade começou em 58, por aí. Foram três décadas muito fortes que marcaram a cidade e que eu fui buscar compreender como jornalista e sociólogo”, explica Oliveira.
A obra resgata a atmosfera do lendário bairro Mata Sete, cenário de encontros, diversão e também desigualdades sociais. “O livro responde bem a uma pergunta que me fazia: o que era o Mata Sete? Ele foi muito além do que a literatura policial mostrava. Era um ambiente de construção, de jogos, de entretenimento, que reunia gente de todo lugar. A classe popular ficava no Mata Sete, a classe média na Coreia e a elite na Lua. Era um espaço de grande circulação de pessoas, marcado pela força da produção salineira”, detalha o autor.
Para Oliveira, revisitar essa memória é também refletir sobre a identidade de Macau. “O Mata Sete é muito além de um ponto de boemia. Ele traduz um período em que Macau pulsava com intensidade, onde corria muito dinheiro e as pessoas se encontravam para viver, beber, conversar e sonhar. É uma dessas memórias que devemos preservar, porque revelam muito da cidade e do seu povo”, conclui.
Prestes Exclusivo
Também na programação da FLIMA, no MMarias Café, o jornalista e historiador Vicente Serejo lança “Prestes Exclusivo”, que reúne a íntegra de uma entrevista concedida pelo líder comunista Luiz Carlos Prestes, em 1987, quando Serejo atuava como diretor de redação do antigo Diário de Natal. “Foi a primeira entrevista que fiz com Prestes. Uma conversa longa, de mais de uma hora e meia, em que ele mesmo, no final, disse: ‘acho que terminamos, não é?’”, relembra o autor.
A entrevista, publicada originalmente em três páginas de O Poti no dia 25 de outubro de 1987, ficou esquecida por décadas até ser resgatada pelo editor Ciro Pedroza. Para Serejo, a decisão de publicar a íntegra do material à época foi corajosa. “Quando voltei à redação e revelei o furo ao diretor Luiz Maria Alves, ele me disse: ‘Não vou vetar a entrevista de um homem que tem a biografia quase do tamanho do século XX’. E assim foi publicada na íntegra”, contou o jornalista em entrevista ao Diário do RN.