“Lutar contra o racismo estrutural é uma missão constante” afirma Lia Araújo, diretora de mulheres da União Estadual de Estudantes (UEE) e conselheira estadual de juventude, ao compartilhar o compromisso do Coletivo Nacional Enegrecer no Rio Grande do Norte, sobre a importância de lutar diariamente contra o racismo.
O Enegrecer, pioneiro no estado ao se propor a ser um espaço de diálogo para e com a juventude negra, surgiu em 2013. O movimento se originou da luta por cotas raciais, estabelecendo uma pauta política vigorosa contra o racismo estrutural. “Foi a partir dessa mobilização que começamos a construir uma agenda política contra o racismo”, explicou Lia.
A diretora explica que existe um trabalho de formação com cada membro: “A base do nosso trabalho está na formação, organização e luta contínua. É essa persistência que mantém nosso movimento constante”.
Atualmente, o coletivo tem representação em conselhos estaduais como CEJUV (juventude) e CONSEPPIR (igualdade racial), desempenhando um papel na fiscalização de políticas públicas e na denúncia de casos de racismo institucional. “Ocupamos vários espaços, desde o movimento secundarista até conselhos estaduais e periferias, mas ainda há uma sub-representação da juventude negra nos espaços de poder”, ressalta.
Além da atuação em diversos setores, como movimento secundarista, universidades e espaços políticos, o Enegrecer continua a luta pela aplicação das cotas étnico-raciais no ensino superior, considerando-as uma ferramenta crucial para democratizar o acesso à educação superior e reduzir desigualdades. “Entendemos que as cotas democratizam o acesso à universidade, diminuindo desigualdades de ingresso”, defende.
Recentemente, a sanção de mudanças na lei das cotas pelo presidente Lula foi celebrada como uma vitória. “Isso é um marco importante para o movimento estudantil e negro, uma conquista por políticas de reparação histórica”, declara Lia Araújo.
Às vésperas do Dia da Consciência Negra, Araújo reforça a importância de reconhecer a contribuição histórica dos negros. “Desconstruir o mito da democracia racial é essencial para a criação de políticas de reparação”, sublinha.
A líder do coletivo destaca ainda o contexto histórico dessa data: “O dia de consciência negra tem a função de lembrar ao povo brasileiro que temos sangue, luta e trabalho de negros e negras. Dia 20 de novembro marca a morte de Zumbi dos Palmares, a liderança que organizou a resistência em um dos maiores quilombos da história do nosso país, por isso manter a memória coletiva é também uma forma de resistência ao racismo. O mito da democracia racial distorce as relações reais na nossa sociedade, ele faz com que achemos que não existam políticas e opressões que tornem desiguais as existências de não-brancos no Brasil. Desconstruir com esse pensamento faz o Estado produzir dados e políticas de reparação para com o povo negro”.

