Um levantamento do Instituto QualiBest aponta que 73% dos brasileiros apresentaram queixas como insônia, irritabilidade e cansaço extremo nos últimos dois anos. Apesar disso, 75% avaliam seu emocional como bom ou ótimo. No Dia Mundial da Saúde Mental, celebrado nesta sexta-feira (10), especialistas defendem que o contraste entre a percepção e a realidade reforça a urgência de ampliar o diálogo sobre o tema.
De acordo com o estudo, que traçou um panorama da saúde mental da população brasileira, a sensação de “estar bem” muitas vezes mascara sintomas persistentes de desgaste emocional. Entre os principais, aparecem insônia (40%), fadiga (34%) e irritabilidade (32%). Para o professor de psicologia da Estácio, Zacarias Ramalho, essa contradição está relacionada à forma como as pessoas compreendem e administram suas próprias emoções.
“Ninguém é ausente de sentir emoções. Elas são um mecanismo de autorregulação do sujeito, precisamos delas para nos equilibrar. O que muda é a forma como lidamos com esses sentimentos, e é isso que pode sinalizar um sofrimento emocional. Autocuidado começa com a identificação do que nos causa desconforto, e isso pode vir antes mesmo de um tratamento formal”, explica o psicólogo.
O trabalho como gatilho para o adoecimento emocional
Ainda conforme a pesquisa do Instituto QualiBest, o ambiente profissional aparece como um dos fatores mais impactantes para a saúde mental da população economicamente ativa: 85% dos entrevistados apontaram o trabalho como um dos principais gatilhos para o adoecimento emocional. Entre as causas mais citadas, estão a sobrecarga de tarefas (41%), baixa remuneração (37%) e falta de empatia (34%).
E embora muitas pessoas tentem equilibrar as próprias emoções por meio de práticas de autocuidado, Zacarias destaca que o apoio das empresas é essencial para quebrar o ciclo de esgotamento. “As organizações podem agir de forma simples, mas efetiva, promovendo campanhas de autocuidado e treinamentos que estimulem o diálogo e a empatia”, reforça.
Um novo olhar para dentro das empresas: a NR-1 e o cuidado como cultura
Diante desse cenário, a atualização da Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1), que estabelece diretrizes de segurança e saúde no trabalho pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), surge como um instrumento para fortalecer a atenção à saúde mental nas organizações. Isso porque, segundo especialistas, a norma convida as empresas a repensarem suas práticas e a construírem ambientes mais saudáveis e humanos.
Um exemplo é a Rui Cadete Consultores Associados, uma empresa potiguar de assessoria contábil onde o cuidado com a saúde mental já é uma realidade, antes mesmo da NR-1 e das obrigações legais. De acordo com Ana Claudia Medeiros, consultora de Gestão e Gente, o maior desafio é transformar o cumprimento da norma em um movimento genuíno de cultura organizacional.
“Mais do que atender a uma exigência legal, queremos que o cuidado com a saúde mental seja algo orgânico, que faça parte da essência da empresa. E isso começa com a mentalidade dos donos e líderes”, afirma a consultora.
O compromisso da Rui Cadete, segundo ela, inclui uma série de ações com foco na capacitação da liderança e na atualização dos programas médicos. “Neste ano, a empresa tem realizado um levantamento das ações voltadas à saúde mental, com atualização do canal de denúncias, treinamentos especializados com a liderança e revisão dos programas médicos internos.
E completa: “Até 2026, novas medidas serão implementadas, consolidando o bem-estar emocional como um dos pilares estratégicos da organização”, finaliza.