Há coisa de duas semanas, o Ministro da Fazenda Fernando Haddad disse que o “problema é que o nosso Estado tem muito chupim. É muita gente chupinhando (sugando) o orçamento público e não sobra espaço orçamentário para fazer a grande política, como os países asiáticos fizeram”.
O Ministro não deixa de ter razão, afinal dos 46% do PIB brasileiro gastos pelo Estado, 39% são gastos primários. Benefícios sociais consomem 15% e funcionalismo 11%. No governo federal, INSS, funcionalismo e programas sociais consomem de 15% a 16% do PIB.
Faço um adendo: o governo federal vem diminuindo o gasto com pessoal. Dados da Secretaria do Tesouro Nacional apontam que em 1997 era de 4,2% do PIB e em 2024 foi de 3,1%. A tendência tem sido de queda, mas ainda é necessário fazer ajustes, porquanto o custo com o funcionalismo público federal em 2024 ter sido de algo próximo a R$ 370 bilhões, valor que representa as despesas recorrentes com pessoal do Poder Executivo Federal, incluindo salários, benefícios e outras remunerações. Segundo matéria do Poder 360, os “gastos recorrentes com funcionários públicos da União somaram R$ 370,6 bilhões em 2024. Esse foi o maior valor desde 2021, quando totalizou R$ 389,1 bilhões, em valores corrigidos pela inflação. O governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) registrou o 2º ano de alta seguido nas despesas com o pessoal e encargos sociais. As despesas com o funcionalismo caíram em 2020, 2021 e em 2022, principalmente por causa do congelamento de reajustes salariais no período da pandemia de covid-19. Tiveram alta de 0,54% em 2023 e de 1,23% em 2024, ao considerar a variação real. Os dados são do Tesouro Nacional”.
Na contramão estão gastos com previdência, Benefício de Prestação Continuada (BPC) e Bolsa Família. Antes da pandemia, o Bolsa Família recebia R$ 32,8 bilhões por ano. Em 2023, foram R$ 146,4 bilhões, 346% a mais. A Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2025 estabeleceu um montante de R$ 158,6 bilhões para o Bolsa Família e R$ 113,6 bilhões para o BPC e o Renda Mensal Vitalícia (RMV) e R$ 972,4 bilhões para custear os benefícios do Regime Geral de Previdência Social (RGPS).
A sangria maior, porém, não é nas contas do governo federal. Em matéria do Globo, o jornalista Alexandre Martello, citando estudo dos economistas Bráulio Borges e Manoel Pires, do Instituto Brasileiro de Economia (IBRE), da Fundação Getúlio Vargas, põe o dedo na ferida: “Os gastos dos estados e municípios dispararam após a pandemia da Covid-19 e superaram em muito as despesas do governo federal – o que contribuiu para dificultar o trabalho do Banco Central no controle da inflação”.
Aí estão os chupins mencionados por Haddad.
O governo federal e seus aliados, no Executivo e no Legislativo, estavam jogando na fogueira o político de esquerda mais palatável para as pessoas de centro e o mais adequado para, na ausência de Lula, representar a esquerda: Fernando Haddad.
As medidas do Presidente dos Estados Unidos Donald Trump, propondo elevação de tarifas, além de garantirem a Lula o discurso de defesa da pátria, parece ter devolvido Haddad ao ninho petista, fornecendo a argamassa que uniu o Partidos dos Trabalhadores, seus satélites e aliados de ocasião.