Por Pedro Lúcio (@pedroluciojor)
O aumento significativo dos itens alimentícios nos últimos meses vem mudando o perfil de consumo do brasileiro. Quanto menor a renda familiar, maior o malabarismo para garantir comida na mesa. Em Natal, conforme dados do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), que produz a Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos (PNCBA), a cesta básica subiu 3,07% em dezembro passado. Esta é a terceira maior alta entre as capitais brasileiras acompanhadas pelo levantamento, atrás apenas de Fortaleza (3,7%) e Salvador (3,64%).
No acumulado do ano, Natal teve um aumento de 10,35%. Segundo o presidente da Associação dos Supermercados do Rio Grande do Norte (Assurn), Gilvan Mikelyson, esse aumento pode ser atribuído a uma combinação de fatores, como a alta dos preços das matérias-primas, o aumento dos custos de transporte rodoviário e a diminuição na oferta de fertilizantes, decorrente do conflito entre Rússia e Ucrânia, na Europa. Além disso, o cenário de incerteza em relação às políticas econômicas que podem ser adotadas pelo novo governo e a distância de Natal para os centros produtivos afetam os custos finais praticados na Capital.
“A situação poderia estar ainda pior, mesmo com a volatilidade dos preços, os supermercados não têm repassado todos os reajustes para que o consumo não seja interrompido, estamos diminuindo nossas margens e reavaliando os estoques”, completou o presidente da Assurn.
Segundo o levantamento, são necessárias mais de 106h de trabalho para pagar uma cesta básica em Natal. Os impactos são sentidos por toda classe trabalhadora, principalmente pelas famílias de baixa renda, que já enfrentavam dificuldades financeiras antes da pandemia e, agora, precisam gastar uma parcela ainda maior de sua renda com alimentação. Quem comprava produtos de marcas mais caras e de maior qualidade, passou a comprar produtos de marcas de qualidade inferior, e outros, ainda partiram para o consumo de produtos “genéricos” para substituí-los.
Esses itens tendem a ser mais baratos ou de preço razoavelmente abaixo do original por possuírem, em sua composição, ingredientes “secundários” que substituem os principais. Um exemplo é a mistura láctea condensada de leite, feita de soro de leite e amido, e que tem disputado espaço com o leite condensado. O doce de leite concorre com o doce de soro de leite sabor doce de leite. “Em geral, são produtos mais prejudiciais e com qualidade nutricional menor, porque contêm mais açúcar, gordura e conservante do que o produto original”, explicou a nutricionista Adriana Fernandes.
A população carente é quem acaba fazendo o consumo destes produtos de menor qualidade, tendo em vista o preço menor deles, o que pode aumentar os riscos de doenças cardiovasculares e diabetes, como elucidou a nutricionista Luanna Ribeiro.
“O consumo excessivo de gorduras pode elevar os triglicerídeos, o colesterol, o que provoca alterações hormonais, assim como o consumo excessivo de açúcares, que acaba elevando os níveis de glicose, o que provoca uma maior produção de insulina e pode acarretar numa resistência a ela”, finalizou Luanna.
Para os especialistas, são necessárias medidas para controlar o aumento dos preços da cesta básica e garantir a segurança alimentar da população. Que pode incluir o aumento da produção nacional de alimentos, a implementação de medidas para reduzir os custos de transporte e armazenamento, e o desenvolvimento de políticas públicas para ajudar as famílias de baixa renda a lidar com esse problema.