Quatro pessoas morreram na queda de um avião de pequeno porte na cidade de Aquidauana, no Pantanal de Mato Grosso do Sul (MS), na noite dessa terça-feira (23). Entre as vítimas fatais do desastre aéreo estão figuras proeminentes da arquitetura e do audiovisual.
O acidente, que envolveu um avião de pequeno porte, resultou na morte de todos os quatro ocupantes da aeronave, conforme confirmado pelo Corpo de Bombeiros. Além de Kongjian Yu e Luiz Fernando Feres da Cunha Ferraz, as outras vítimas foram identificadas como o documentarista Rubens Crispim Jr. e o piloto Marcelo Pereira de Barros.
Kongjian Yu era amplamente reconhecido como um dos maiores arquitetos do mundo. Já Luiz Fernando Feres da Cunha Ferraz, cineasta e documentarista de prestígio, e Rubens Crispim Jr., também documentarista e diretor, atuavam na Olé Produções. Marcelo Pereira de Barros foi identificado como o piloto e proprietário da aeronave.
De acordo com a Olé Produções, Luiz Ferraz era o responsável pela direção das gravações do documentário chamado “Planeta Esponja”, em colaboração com o professor Kongjian Yu, da Universidade de Pequim, e o diretor de fotografia Rubens Crispim Jr. Eles estavam no Pantanal exatamente para gravações do documentário.
A produtora lamentou o acidente e agradeceu “as inúmeras mensagens de carinho e solidariedade recebidas neste momento de dor”.
O que sabemos sobre as vítimas
Kongjian Yu
De origem chinesa, era considerado um dos maiores arquitetos do mundo. Nascido em 1963, na província de Zhejiang, ele possuía um currículo acadêmico e profissional extenso e altamente premiado. Ele era doutor em design pela Universidade de Harvard em 1995.
Sua excelência foi reconhecida internacionalmente, sendo eleito membro da Academia Americana de Artes e Ciências em 2016, e recebendo títulos de Doutor Honorário pela Universidade de Roma (2017) e pela Universidade Norueguesa de Ciências Biológicas (2019).
Yu Kongjian era o Reitor e Professor da Escola de Arquitetura e Paisagismo da Universidade de Pequim. Em 1997, após retornar à China, ele fundou o Instituto de Arquitetura Paisagística e a Escola de Arquitetura e Paisagismo da Universidade de Pequim, além de fundar a Turenscape.
Sua abordagem inovadora era focada na ecologia, sendo pioneiro na teoria do padrão de segurança ecológica e do “antiplanejamento”. Ele propôs a teoria e o método de construção sistemática de “cidades esponja”, explorando princípios ecológicos e métodos de paisagismo para o controle de inundações urbanas e a gestão de águas pluviais.
Seus projetos de design são mundialmente reconhecidos pela “combinação perfeita de ecologia e arte”. Ele publicou mais de 30 livros e 300 artigos e foi nomeado “NbS Global Navigator” pela União Mundial para a Conservação da Natureza (IUCN). Em 2025, ele foi listado como Líder Global em Sustentabilidade pela Forbes.
Ao longo de sua carreira, Yu Kongjian recebeu inúmeros prêmios, incluindo o Prêmio Internacional de Arquitetura Paisagística Oberlander, a Medalha Sir Jericho – Prêmio pelo Conjunto da Obra da IFLA, e o Prêmio Internacional do Royal Architectural Institute of Canada (RAIC). Ele considerava o design urbano e paisagístico como “a arte da sobrevivência”.
Luiz Fernando Feres da Cunha Ferraz
Luiz Fernando Feres da Cunha Ferraz foi um cineasta brasileiro e documentarista. Ele era um diretor especializado em projetos de documentário e não-ficção, buscando diversas formas de linguagem documental para contar suas histórias.
Desde 2007, Luiz Ferraz produzia e dirigia na Olé Produções, além de realizar trabalhos em parceria com outras produtoras do mercado.
Entre seus trabalhos mais notáveis, ele assinou a direção da série indicada ao Emmy Internacional para WBD/HBO, intitulada “Dossiê Chapecó: O Jogo por Trás da Tragédia”. Ele também dirigiu a popular série “To Win or To Win” para MBC/Shahid. No Brasil, dirigiu a série “All or Nothing: Seleção Brasileira de Futebol” para a Amazon Prime Video, onde foi responsável pelo Episódio 4 e pela segunda unidade.
Para a National Geographic Channel, Luiz Ferraz dirigiu o documentário “O Incêndio do Museu Nacional” e as séries “Explorer Investigation” e duas temporadas de “Mundo Selvagem”. Através da Olé Produções, ele dirigiu e produziu o documentário “Paisagem Concreta”, sobre o arquiteto Alvaro Siza.
Como produtor, ele assinou documentários premiados como “Um Par pra Chamar de Meu”, vencedor de melhor documentário no 50º Festival de Gramado e “Tudo é Projeto”, sobre o arquiteto Paulo Mendes da Rocha, eleito melhor documentário pelo público na Mostra de SP em 2017.
Rubens Crispim Jr.
Rubens Crispim Jr. era documentarista, diretor de fotografia e produtor independente. Com mais de duas décadas de experiência no setor audiovisual, ele era o fundador da Poseidoscorp, produtora com quase vinte anos de atuação.
Crispim Jr. possuía formação em Artes Plásticas pela ECA-USP e ganhou projeção após vencer o reality show “Projeto 48” do canal TNT em 2006, lançando o curta-metragem “Os 400 Golpes”.
Seu trabalho mais recente e notável foi o filme “O Bixiga é Nosso!”, que conquistou o prêmio de Melhor Filme pelo Público na Mostra Competitiva Territórios e Memórias da Mostra Ecofalante 2024.
Nas redes sociais, Rubens se orgulhava do trabalho por refletir um compromisso em valorizar as histórias, a memória e os defensores do bairro do tradicional bairro do Bixiga, no Centro de São Paulo.
Ao longo de sua trajetória, Rubens Crispim Jr. colaborou com grandes empresas de comunicação, incluindo Discovery Channel, National Geographic, TV Globo e TV Cultura. Outros projetos de destaque incluem o filme “Segue o Baile Bixiga 70” e a direção e fotografia dos documentários das exposições da Pinacoteca de São Paulo. Ele se definia como um “artesão da imagem”.
Marcelo Pereira de Barros
Marcelo Pereira de Barros foi identificado pelas autoridades como o piloto e proprietário da aeronave.
Nas redes sociais, Marcelo já fez posts expressando sua gratidão pela realização do sonho em ser “piloto pantaneiro”.
O que sabemos sobre acidente
O Corpo de Bombeiros Militar foi acionado por volta das 20h10 para atender a ocorrência. De acordo com a corporação, após os trabalhos das polícias, as quatro vítimas do sexo masculino encontradas em óbito foram retiradas das ferragens e os corpos foram entregues aos cuidados da funerária e Polícia Civil.
A operação de busca e resgate durou cerca de 9 horas, devido a distância e as condições de acesso ao local, envolvendo 3 militares e uma viatura.
Segundo segundo a corporação, o acidente ocorreu no momento em que a aeronave realizaria o pouso na fazenda Barra Mansa. Ainda não há informações sobre o que causou a queda.
Em nota, a FAB (Força Aérea Brasileira) confirmou o acidente com a aeronave de matrícula PT-BAN no município de Aquidauana.
“Investigadores do SERIPA IV (Quarto Serviço Regional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos) — órgão regional do CENIPA, com sede em São Paulo (SP) — foram acionados para realizar a Ação Inicial da ocorrência. Durante a Ação Inicial, profissionais qualificados e credenciados aplicam técnicas específicas para coleta e confirmação de dados, preservação de elementos, verificação inicial dos danos causados à aeronave ou pela aeronave, além do levantamento de outras informações necessárias à investigação”, diz a nota.
Conforme consulta ao Registro Aeronáutico Brasileiro da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), o avião estava no nome de Marcelo Pereira de Barros, que pilotava a aeronave e foi uma das vítimas da queda. Ainda conforme o registro, a situação da aeronavegabilidade era normal e o avião não tinha autorização para táxi aéreo.
O que diz a Polícia Civil
A PCMS (Polícia Civil de Mato Grosso do Sul), por intermédio do DRACCO (Departamento de Repressão à Corrupção e ao Crime Organizado) e da Delegacia de Polícia de Aquidauana, informou que foi acionada para atender a ocorrência, que se deu em uma zona rural do município.
“Equipes da PCMS, incluindo peritos criminais, estão em campo para a realização dos procedimentos de praxe e o levantamento de dados preliminares”, diz a nota.
*Com informações da CNN