A sucessão de Natal é marcada por sinalizações antes das definições. O caso mais explícito de indefinição e que fala via sinalizações é o prefeito da capital, Álvaro Costa Dias. O gestor tem evitado falar sobre política e o tema sucessão municipal não tem sido abordado em público pelo chefe do Executivo. Porém, Álvaro fala de maneira indireta e manda recados.
O recado mais recente do prefeito de Natal foi dado ontem pelas redes sociais do gestor ao abordar a mais recente viagem a Brasília. Álvaro usou duas fotos para ilustrar um texto em que o tema não é específico, mas abrangente e sinalizador: “Já estamos em Brasília para uma série de agendas oficiais em benefício do povo de Natal. Há pouco, estive com o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin @geraldoalckmin.
Tratamos sobre projetos para a nossa capital e tivemos uma ótima receptividade. Em breve trago mais novidades para vocês”.
A sinalização política da pauta que seria puramente administrativa é dada pelo prefeito ao ‘marcar’ na publicação os ex-deputados federais Rafael Motta e Henrique Alves, que viriam a aparecer na foto seguinte da postagem do prefeito de Natal.
Aparentemente, nada demais um gestor participar de audiência com autoridades em Brasília. Porém, no caso de Álvaro Dias, é mais do que uma audiência, é um processo de aproximação política com o governo Lula através do PSB potiguar, cujo presidente é o ex-deputado Rafael Motta, que já foi citado pelo próprio Álvaro como bom nome para sucedê-lo na prefeitura de Natal.
Em política, nada acontece por acaso. Quando Álvaro citou publicamente Rafael Motta como bom nome para ser prefeito, omitiu deliberadamente o nome de seu aliado político Paulinho Freire, virtual candidato a prefeito pelo União Brasil. Na época, estava chateado por causa do apoio integral de sua bancada a Paulinho, sem a necessidade de sua ‘autorização’. Por conta disso, chegou a exonerar cargos comissionados indicados por Freire para ocupar espaços na gestão municipal.
Os movimentos de afastamento e aproximação de Álvaro com uns e com outros também têm seus significados. Ao se afastar de Paulinho, que pode ser o candidato apoiado pelo senador Rogério Marinho, adversário político do governo Lula, Álvaro sinaliza que está em curso a mudança de seu discurso radical contra Lula, quando anunciou na campanha que iria derrotar o petista na capital potiguar. Não conseguiu cumprir a promessa, mas reduziu a maioria de Lula sobre Bolsonaro em cerca de 10 mil votos.
Precisando de recursos para concluir obras prometidas e anunciadas com dinheiro federal, Álvaro sabe que a companhia de Rogério Marinho não ajuda na liberação de recursos na gestão petista. Eis que o prefeito faz o movimento de aproximação com um eleitor de Lula, presidente de um partido que tem o vice de Lula e que pode abrir portas em Brasília, justamente no governo Lula; portas que podem abrir as comportas de recursos fundamentais para Álvaro ter discurso de ‘legado administrativo’ no futuro. Obras em andamento lento que o prefeito visita regularmente para ‘marcar território’ no imaginário coletivo.
FLERTE POLÍTICO
O prefeito Álvaro Dias está claramente flertando politicamente com Rafael Motta, que poderá vir a ser seu candidato em 2024, haja vista que o gestor natalense precisa de respaldo administrativo e financeiro vindo de Brasília para viabilizar suas obras. E a reunião que ocorreu ontem com a presença de Rafael Motta e o vice de Lula, Geraldo Alckmin, mostra que Álvaro já escolheu o caminho que o leva de forma mais confortável à Brasília. Quem também ajuda na articulação aqui e na capital federal é o ex-deputado Henrique Alves, que militou durante décadas no PMDB e conhece os personagens da República de ontem e de hoje, com suas dificuldades e facilidades. Henrique não perdeu o traquejo com a ausência do mandato.
Álvaro Dias poderia ter ‘usado’ Paulinho Freire para chegar em Brasília e conseguir recursos? Sim, poderia. E por que não foi pelas mãos de Paulinho, deputado no exercício do mandato, filiado a um partido que comanda ministérios no governo Lula? A resposta para essa pergunta está na sinalização que Álvaro deu na postagem da foto com Rafael Motta. Ele prefere Rafael a Paulinho. Acha que Rafael consegue o que Paulinho não teria força para viabilizar.
Antes do prefeito definir seu apoio público a um candidato, ainda teremos muitas sinalizações de aproximações e afastamentos. Afinal, o aliado de ontem poderá ser o adversário de amanhã. Assim como o adversário de ontem, poderá virar o aliado de amanhã.
Traduzindo em nomes, o aliado de ontem, Paulinho Freire, poderá ser o adversário de 2024; e o adversário de ontem, Rafael Motta, poderá se transformar no aliado e candidato a ser apoiado na eleição de amanhã, mais conhecido como pleito do próximo ano.
O jogo sucessório ainda está na preliminar. O desenho do quadro ainda é um rabisco. Ainda haverá muitas conversas, aproximações e afastamentos, até que cheguemos no momento das definições inevitáveis.