Aliados do presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), negam que ele tenha feito acordo com a oposição bolsonarista para pautar o projeto de lei da anistia e a PEC (proposta de emenda à Constituição) de fim do foro privilegiado.
A versão de que se teria avançado para um acordo foi propagada por lideranças bolsonaristas, após Hugo ter conseguido entrar no plenário e abrir a sessão na noite de quarta-feira (6), escoltado pela tropa de choque de líderes e outros parlamentares do Centrão.
Deputados que ficaram ao lado de Hugo ao longo de todo o dia relataram que não houve nenhuma negociação com o presidente da Casa. O único ponto que teria avançado foi o compromisso estabelecido pelo União Brasil e pelo PP de manterem uma obstrução regimental até discutir as duas pautas.
“Hugo não aceitou discutir nada enquanto não assumisse a Presidência”, disse um parlamentar da Mesa.
Interlocutores de Hugo, no entanto, foram claros nos recados à oposição de que não iriam bancar desrespeito à presidência da Casa.
Na obstrução regimental, podem ser apresentados requerimentos com o intuito de protelar as atividades em plenário. A estratégia é frequentemente utilizada pela oposição, independente do campo ideológico, mas não inclui a obstrução física do espaço
Durante a quarta-feira, o ex-presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL) também ajudou a socorrer Hugo na prova de fogo com a oposição e chegou a receber parlamentares do PL.
No dia anterior, quando a ocupação bolsonarista começou, Hugo chegou a convocar uma reunião com todos os líderes da casa. O PL avisou que não iria, mas lideranças do partido se encontraram antes com Hugo Motta, em uma reunião que não produziu acordo.
No entorno de Hugo, a visão é de que o presidente só conseguiu finalmente sentar na cadeira e abrir a sessão após a ameaça de punição aos parlamentares. Cerca de meia hora antes do horário marcado para a abertura dos trabalhos, a Mesa Diretora baixou um ato com previsão de suspensão dos mandatos por até seis meses para os deputados que tentassem “impedir ou obstaculizar as atividades legislativas”.
Durante o dia, também se discutiu na Mesa que, se houver algum tipo de conflito físico com a Polícia Legislativa da Casa, a previsão é de que o deputado possa ser cassado.
Os bolsonaristas usaram a ocupação para fazer lives e publicações nas redes sociais. A deputada Júlia Zanatta (PL-SC) chegou a levar a filha, de apenas 4 meses, para o local e amamentou a criança na cadeira da presidência.
A entrada dos jornalistas ao plenário só foi liberada nas galerias e somente no momento em que Hugo estava prestes a retomar o controle do plenário.
Ironicamente, o último a sentar na cadeira e que precisou liberar espaço para Hugo foi Marcel Van Hattem (Novo-RS), que foi candidato à presidência da casa na última eleição, mas que acabou derrotado.
*Com informações da CNN