A morte do Papa Francisco evocará um dos ritos mais tradicionais da Igreja Católica Apostólica Romana: o conclave, processo de escolha de um novo sacerdote para o cargo mais importante da Igreja Católica. Tema de filme que concorre ao Oscar (Conclave, dirigido por Edward Berger), a eleição é marcada por procedimentos bem definidos, votos de sigilo e a simbólica cerimônia da fumaça.
O conclave, que tem séculos de história, mas só começou a ganhar o formato atual e a isenção de interferências externas ao longo do século XX, acontece na Capela Sistina, a portas fechadas. É da chaminé dela que saem a fumaça preta, quando ainda não houver a escolha de um novo Papa, e a branca, quando um novo Pontífice for definido.
O período de escolha, quando um Papa morre ou renuncia, é chamado de Sé Vacante. Enquanto não há um novo Papa, o Colegiado de Cardeais e o Camerlengo comandam a Igreja e as questões administrativas do Vaticano. Paralelamente, os cardeais são convocados para as reuniões pré-conclave, que definem as datas e todos os detalhes do processo. Giovanni Battista Re, atual decano do Colegiado de Cardeais, preside as reuniões.
Uma vez que o processo esteja alinhado, os cardeais se preparam para entrar em isolamento total do mundo exterior. O acesso a telefones, internet, TV, jornais e demais meios de informação não é permitido após o início do conclave. Eles se hospedam na Casa de Santa Martha, que assim como a Capela Sistina, fica trancada.
Na manhã do início, o colegiado se reúne na Basílica de São Pedro para a missa solene “Pro eligiendo Pontifice”. De lá, vão em procissão para a Capela Sistina entoando a oração “Litania sanctorum” (a Ladainha de Todos os Santos), seguida pelo “Veni, Creator Spiritus”, pedindo a intervenção do Espírito Santo e de todos os santos, enquanto assumem seus lugares diante da obra “Juízo Final”, de Michelangelo, que fica no altar da capela.
Os cardeais fazem um juramento de segredo — passível de excomunhão em caso de quebra — válido durante e após o conclave, jurando também não apoiar interferências no processo.
Dois terços dos votos
Feito o juramento, o condutor da cerimônia dá a ordem “Extra omnes” (“todos para fora”) e aqueles que não fazem parte do conclave deixam a capela. Cabe a um cardeal ler sobre as qualidades necessárias e os desafios do novo Papa. Permanecem nos arredores apenas funcionários de segurança, mestres de cerimônia e outros oficiais essenciais para a logística do rito.
O processo pode ter até 120 cardeais votantes e elegíveis — atualmente, a Igreja tem 252 cardeais, sendo 138 com direito a voto. Aqueles com mais de 80 anos não votam.
Para ser escolhido o novo Papa, é necessário conquistar dois terços dos votos válidos. Caso não haja consenso no primeiro dia, o conclave vai para um segundo dia, com mais quatro processos de votação: dois pela manhã e dois pela tarde. Se não houver um nome escolhido no terceiro dia, dá-se uma pausa de um dia para orações e o processo de quatro votações é repetido na sequência.
Cada um dos cardeais eleitores escreve sua escolha em um papel com os dizeres: “Eligo in summen pontificem” (elejo o Sumo Pontífice). Eles se aproximam do altar, um a um, e dizem: “Convoco como minha testemunha Cristo, o Senhor, que será o meu juiz, de que meu voto é dado àquele que, diante de Deus, eu acredito que deva ser eleito”.
Nove cardeais são sorteados para funções específicas: três para compor a mesa de votação, três para recolher votos (quando necessário) e outros três para supervisionar a mesa.
Para contar os votos, as cédulas são perfuradas na palavra “eligo” com uma agulha e uma linha, formando uma espécie de cordão, e são queimadas com substâncias químicas específicas. É aí que são produzidas as fumaças — preta ou branca.
Eleito, o novo Papa é perguntado se aceita o cargo e escolhe sua nomenclatura ainda durante o conclave. Ele então é apresentado na Praça São Pedro sob o anúncio “Annuntio vobis gaudium magnum: Habemus Papam” (Com grande alegria, anuncio que temos um Papa), encerrando o processo formal.
*Com informações do O Globo