A cada dia que passa, um novo e horrível capítulo sobre a tragédia humanitária que assola os povos ianomamis, em Roraima, assombra os brasileiros. Mortes e doenças evitáveis, abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes indígenas, violência e a destruição de matas e rios por ações do garimpo ilegal são algumas das atrocidades que vemos e ouvimos todos os dias. Já foram mais de 150 mortes somente por desnutrição nos quatro anos do governo Jair Bolsonaro (PL). Enquanto isso, a potiguar Midya Hemilly Gurgel de Souza Targino, ex-diretora do Departamento de Atenção Primária à Saúde Indígena do Ministério da Saúde, procurada pela reportagem do Diário do RN, há uma semana, para esclarecer alguns pontos sobre sua atuação não se pronunciou ainda.
Entre os questionamentos feitos à Mydia, o Diário do RN perguntou o que a qualificava para assumir a pasta específica das questões indígenas e se, durante os cinco meses que esteve no cargo, ela conhecia a realidade do povo Yanomami que veio à tona para todo o país na semana anterior. Outro questionamento foi em relação à sua viagem ao Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami (DSEI), no norte do país, entre os dias 7 e 10 de dezembro passado, conforme consta no Portal da Transparência do governo federal. Perguntamos o que ela encontrou lá e que ações foram propostas.
Também questionamos se ela, ocupando um cargo de alto escalão e que comandava o setor responsável pela condução das atividades de atenção integral à saúde dos povos indígenas, por meio da atenção básica, cometeu alguma falha (onde e por que falhou) já que, por prerrogativa do cargo, deveria justamente cuidar da atenção à saúde desses povos. Mydua, por meio de sua assessoria de imprensa, afirmou que nos responderia dentro do prazo estabelecido na época, mas, até o momento, passada uma semana, se mantém em silêncio.
Também foi questionado sobre as viagens internacionais a serviço do Ministério da Saúde e pagas com recursos públicos federais – somente duas viagens custaram aos cofres públicos mais de R$ 50 mil apenas em diárias pagas a Mydia -, quais teriam sido as práticas aprendidas e/ou propostas a partir destas interações, em benefício aos indígenas brasileiros.
Bem como o objetivo da viagem aos Estados Unidos, em que ela teria sido buscar outras possibilidades de desinfecção de água para atender a população indígena que possui rejeição ao cloro. “A senhora desconhecia os demais graves problemas relacionados a contaminação dá água naquela região?” perguntamos, sem resposta, até o fechamento desta edição.
CURRÍCULO
O cargo ocupado por Mydia Targino, que em seu currículo, no site do Ministério da Saúde, não apresentava nenhuma especialização ou experiência profissional em relação à saúde indígena, comandava o setor responsável pela condução das atividades de atenção integral à saúde dos povos indígenas, por meio da atenção básica, da educação em saúde e da articulação interfederativa da Secretaria Especial da Saúde Indígena.
“Diretora do Departamento de Atenção Primária à Saúde Indígena, na Secretaria Especial de Saúde Indígena, visando promover a proteção, a promoção e a recuperação da saúde desses povos de maneira participativa e diferenciada, respeitando-se as especificidades epidemiológicas e socioculturais dos povos indígenas e articulando saberes no âmbito da atenção”, traz o documento.
Mas, foi justamente ao longo do período em que Midya esteve no cargo que transcorreram as negligências. Calcula-se que, em quatro anos, 570 crianças da comunidade morreram por desnutrição, além de outras doenças evitáveis.
Entre os dias 7 e 10 de dezembro passado, Midya esteve presente no Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami (DSEI). No detalhamento da viagem, ea declarou que foi para “apoiar a coordenação do DSEI na promoção de estudo diagnóstico e proposição de ações destinadas à resolução de questões atinentes à saúde dos povos indígenas”.
Com remuneração mensal de pouco mais de R$ 13,6 mil, ela recebeu quase R$ 7,5 mil em diárias operacionais para a viagem, que deveria, conforme ela mesma disse, ter feito um diagnóstico da situação no local.
MAIS DE R$ 50 MIL EM DIÁRIAS
Nos meses de outubro e novembro, Midya Targino fez duas viagens internacionais pelo Ministério da Saúde, uma para os Estados Unidos, onde visitou a sede da empresa Silivhere Technologies Inc, em Charlottesville (Virgínia) e sua fábrica de produção, em Saxonburg (Pennsylvania), onde teia ido “buscar outras possibilidades de desinfecção de água para atender a população indígena” e pela qual recebeu mais de R$ 27,2 mil em diárias. A segunda, entre 11 e 18 de novembro, Midya integrou a delegação brasileira que viajou para Genebra (Suíça), tendo recebido pouco mais de R$ 31 mil em diárias.