O Brasil enfrenta um ano de temperaturas recordes, com impactos significativos em cidades, lavouras e na saúde humana, sendo o El Niño e o aquecimento global os principais protagonistas dessa crise climática. Dados analisados pela Folha revelam que o atual evento é extraordinariamente forte, resultando em anomalias térmicas sem precedentes no país.
Nos ciclos de El Niño mais intensos, a temperatura média no Brasil cresceu 0,14°C nos meses de inverno (junho a setembro). No atual evento, marcado por um aumento de 1,2°C nas águas do oceano Pacífico, o Brasil experimentou um aumento de 0,8°C nesse período, sendo 5,7 vezes maior do que observado em anos anteriores.
Especialistas apontam para a interação entre o El Niño e o aquecimento global, evidenciando que as ações antrópicas, como a queima de combustíveis fósseis e o desmatamento, estão alterando os padrões do clima, intensificando os efeitos do El Niño.
A análise, baseada em dados da NOAA e do INMET, destaca que a força do El Niño depende de várias anomalias nos padrões de calor, vento e pressão, com o Oceanic Niño Index (ONI) sendo um indicador crucial. Este índice revela que a água do Pacífico está 1,8°C acima da média, indicando um El Niño forte, mas ainda não alcançando a categoria de super El Niño.
Combinação “explosiva”
A combinação do El Niño robusto e o aquecimento global resultou em consequências severas. O inverno de 2023 foi o mais quente da história em dez capitais brasileiras, e o calor extremo se estendeu a novembro, com temperaturas atingindo 40°C e sensações térmicas chegando a 50°C em locais como o Rio de Janeiro.
As consequências incluem enchentes e chuvas incessantes no Sul, incêndios no Centro-Oeste, calor extremo no Sudeste e condições de seca no Norte e Nordeste. A análise da World Weather Attribution ressalta que, sem o aquecimento global, o calor extremo seria significativamente menor, e a ação humana aumentou em cem vezes a probabilidade de eventos extremos no país.
Especialistas alertam para uma mudança irreversível no El Niño, indicando que o fenômeno canônico, de fraco a moderado, está em extinção. Modelos climatológicos preveem uma intensificação do El Niño até fevereiro, com a possibilidade de um super El Niño.
O físico Alexandre Araújo Costa destaca a urgência de reduzir gradualmente o consumo de combustíveis fósseis globalmente. Ele aponta para a conferência climática da ONU em Dubai, onde o texto final propôs a redução do consumo global de combustíveis fósseis como uma medida crucial para enfrentar a crise climática.
Diante desse cenário crítico, a comunidade global é desafiada a adotar medidas concretas para mitigar os impactos do aquecimento global e do El Niño, buscando soluções sustentáveis para garantir a resiliência das comunidades frente às mudanças climáticas.

