O Dia de Finados, que ocorre nesta quinta-feira, 2 de novembro, costuma levar multidões aos cemitérios. Em Natal, eles tem horário especial a partir desta quarta-feira (01), a programação completa está no portal Diário do RN. Essa é uma época quando algumas dores acabam sendo revividas todos os anos, um momento que envolve um turbilhão de sentimentos ligados à morte e a perda de um ente querido. Sentimentos que devem ser vivenciados sem medo não só durante a data, mas que podem se prolongar por um tempo.
“Vivenciar o luto é um processo importante, pois ressignificamos a perda e podemos encarar a finitude como parte da vida com mais aceitação e leveza”, afirma Kimberly Lira, psicóloga especialista em Terapia Cognitiva Comportamental. Para algumas pessoas, este dia é um momento de reviver algumas dores, refletir sobre a vida, mergulhar em saudosas memórias dos entes queridos e fazer visitações em cemitérios. Envoltos em dor, por vezes, a morte traz inúmeras facetas e sentimentos de tristeza, confusão e raiva, mas que com a aproximação do período, reviver as dores pode ser um período difícil de lidar, embora, a psicóloga Kimberly Lira ressalte que o aprisionamento de emoções, é uma ação danosa que pode trazer problemas futuros.
“Isso nos torna refém de pesos como culpa e ressentimentos que podem de alguma forma nos adoecer. O sentir é individual, cada pessoa tem o seu processo”.
Kimberly Lira destaca que não há uma forma de lidar melhor com esses sentimentos, cada pessoa tem suas particularidades quando o assunto é a morte e revisitar esses traumas, por exemplo, não conseguem chorar ou expressar sentimentos.
“Algumas pessoas têm dificuldade de externar o sentimento e outras já têm uma outra forma de sentir. Todos nós vamos vivenciar momentos de luto, porém cada pessoa vai reagir de um modo”.
A psicóloga ainda afirma que existe um determinado ponto em que vivenciar o luto é ‘saudável’, mas que é necessário ter atenção aos fatores que podem desencadear sentimentos prejudiciais à saúde mental.
“Tem que respeitar o tempo de cada pessoa sem se preocupar com pressões externas sobre esse assunto. O fato de não ficar preso ao ente querido e as lembranças de forma excessiva pode ajudar a não desenvolver depressão é sobre ‘deixar ir’, sabe? Quando esse momento do luto estiver gerando sentimentos excessivos como culpa, ressentimentos ou melancolia pode ser importante buscar ajuda”.
A morte para quem trabalha com a dor do outro de forma cotidiana
Profissional do luto há 3 anos, Felipe Alex auxilia enlutados na Central de Acolhimento do Morada da Paz, ele dá as primeiras orientações sobre os processos fúnebres, para que em seguida, os clientes sejam encaminhados para os setores que contemplam cerimônias, sepultamento, velórios, tudo que envolve este último momento dos enlutados com seus entes falecidos.
Para ele, o profissional do luto precisa de preparo emocional para lidar de forma diária com os desafios pertinentes à sua profissão.
“Um profissional do luto se prepara para lidar com a dor do outro através de alguns pontos importantes, que a nossa área acredita que seja fundamental, a gente passa por treinamentos constantes com baixa de frequência, treinamento que inclui psicologia do luto, teorias para a gente poder atender esses clientes da melhor forma possível, essas famílias enlutadas, a gente utiliza técnicas de comunicação com conhecimento mais sólido sobre os processos emocionais, psicológicos associados nesta área do luto”.
Para Felipe, além da técnica, é necessário levar em consideração também os fatores humanizados, lidando com o público de modo que haja compreensão na perspectiva dos enlutados, demonstrar empatia sem nenhum tipo de julgamento.
“A gente preza também pelo autoconhecimento, somos incentivados a realizar o conhecimento para entender as nossas próprias reações emocionais diante do luto. Isso ajuda a gente a separar as nossas emoções da emoção dos enlutados. A estratégia que a gente utiliza é do autocuidado, para a gente lidar, devido a ser uma área que tem um desgaste emocional maior do que as outras áreas, somos incentivados a cuidar de nossa saúde mental”.
Mesmo que seja um sentimento rotineiro, é necessário que os profissionais não banalizem a dor do outro, respeitando também a individualidade de cada pessoa, que traz consigo uma vida e inúmeras vivências, não se trata apenas de um corpo para ser velado. Nesse caso, também, ele ressalta a importância do apoio da família.
“É preciso entender as diferentes culturas de cada indivíduo, cada enlutado, cada processo de luto, que é individual. Cada pessoa reage de uma forma diferente à morte, isso vai depender da cultura, da religião da pessoa, como a pessoa vê a morte, isso varia, a gente também tenta ter conhecimento para poder lidar com esse cliente se mantendo informado. Além desse acolhimento que o profissional do luto proporciona, a importância da família é muito maior nesse processo de acolhimento, de ajuda, de empatia que muitas vezes algumas famílias pecam nesse quesito, mas é um processo bastante importante para a pessoa enlutada”.

