O PERIGO DA FÉ PARTIDARIZADA
O cenário político brasileiro das últimas décadas consolidou um fenômeno de força inegável: a ascensão institucional de lideranças religiosas, especificamente no Congresso Nacional. A chamada “Bancada Evangélica” deixou de ser um grupo periférico para se tornar um dos blocos mais influentes na definição dos rumos legislativos do país. No entanto, o crescimento deste poder temporal levanta um debate urgente sobre a fronteira entre a devoção espiritual e a militância partidária.
Existe um paradoxo teológico no cerne desta movimentação. Ao analisarmos as escrituras que fundamentam a fé cristã, encontramos um Jesus Cristo que rejeitou sistematicamente o poder político de sua época. Sua célebre instrução, “Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”, não foi apenas uma resposta astuta a uma armadilha retórica, mas o estabelecimento de um princípio de separação de esferas. Cristo apontava que a fé opera em uma dimensão distinta da burocracia estatal e das disputas de poder terreno.
Contrariando essa premissa de separação, o que se observa hoje é uma simbiose preocupante. Muitos templos deixaram de ser apenas locais de refúgio espiritual para se transformarem em currais eleitorais. A autoridade eclesiástica de pastores e padres é frequentemente utilizada como capital político, conduzindo milhares de fiéis a um engajamento partidário radical.
O perigo reside na instrumentalização do sagrado. Quando um líder religioso aponta um candidato como “o escolhido de Deus” ou demoniza o oponente político, ele elimina a capacidade crítica do fiel e transforma a disputa democrática — que deveria ser baseada em propostas e debate cívico — em uma “guerra santa”. Essa radicalização não apenas polariza a sociedade, mas corrói a própria essência do Estado Laico.
A história e a teologia sugerem que a mistura entre Trono e Altar raramente termina bem. Para a democracia, o risco é a imposição de dogmas sobre a legislação civil. Para a fé, o risco é ainda maior: a perda de sua identidade transcendental, rebaixando-se a mero instrumento de manobra ideológica. Ao tentar ocupar o lugar de César, a igreja corre o risco de esquecer sua missão para com Deus.
INDEFINIÇÕES
Quem acompanhou o noticiário político durante a semana passada pode constatar de que o quadro para as eleições de outubro de 2026 ainda permanece indefinido para vários atores do cenário que começou a ser trabalhado em janeiro deste ano.
MUDANÇAS
As mudanças mais profundas foram verificadas a partir do noticiário comandado pelo Diário do RN, no momento em que publicizou a possibilidade de o vice-governador Walter Alves (MDB) não assumir o governo do estado com a renúncia da governadora Fátima Bezerra (PT) para disputar uma das duas cadeiras do Senado.
DIFICULDADES
Diante do quadro quase caótico das finanças do Estado, Waltinho disse ao presidente nacional do seu MDB, deputado Baleia Rossi, que haveria possibilidade real de não assumir o governo estadual, a partir do mês de abril. Assumir o governo nas atuais circunstâncias levaria Walter Alves a “queimar” todo o seu capital político, avaliam assessores.
RESPOSTA
A resposta do PT veio imediatamente, por intermédio do deputado federal Fernando Mineiro (PT).
“Elegeremos Cadu Xavier governador através da Assembleia Legislativa e ele vai para a reeleição”.
É como se descartasse Walter Alves, pois o PT já tinha a solução para o problema.
RECADOS
Entre “recados” enviados através da imprensa, os blocos dos atuais aliados – Fátima Bezerra e Walter Alves – se viu a possibilidade da dupla Walter e Ezequiel se juntar ao grupo do União Brasil e Partido Progressista em apoio às candidaturas de Alysson ao governo e Zenaide Maia ao Senado.
DESMENTIDO
Assessores mais próximos de Walter Alves confirmaram as adiantadas conversas com o candidatíssimo Alysson Bezerra e todo o grupo, mas desmentiu os boatos de que o acordo já estaria selado.
GOVERNO
A partir dessa constatação de conversas entre o grupo de Walter e Ezequiel com o pré-candidato Alysson Bezerra, é que a governadora Fátima Bezerra tomou a iniciativa de reabrir diálogo com o seu vice-governador especificamente sobre o assunto.
REUNIÃO
A reunião entre a governadora Fátima Bezerra, o vice-governador Walter Alves e o presidente da Assembleia Legislativa, deputado Ezequiel Ferreira de Souza ainda não tem data definida, mas deverá acontecer antes mesmo do Natal.
PREVISÃO
Como diz o jornalista Tulio Lemos em suas avaliações do quadro político. “Ainda há tempo de consertar o desentendimento no grupo, mas se essa reunião demorar mais tempo, poderá servir apenas para Walter fazer o comunicado de seu rompimento com o governo”. Sinal de que os entendimentos com o outro grupo já estão bastante adiantados.

