Por Fernanda Sabino
Um dos bairros mais antigos e simbólicos de Natal, o Alecrim completa, nesta quinta-feira (23), 114 anos de história. Com uma trajetória marcada pela diversidade cultural, pela fé e pelo comércio vibrante, o bairro se consolidou como o coração econômico da capital potiguar, onde convivem, lado a lado, a tradição centenária e o dinamismo do maior centro comercial do Estado.
De acordo com registros históricos, a origem do Alecrim é datada do ano de 1856, quando uma epidemia de cólera levou à criação de um novo cemitério fora da área central da cidade, o atual Cemitério do Alecrim, que abriga restos mortais de diversas personalidades do Estado. Ao redor dele começaram a surgir as primeiras moradias e, com o tempo, o local se transformou em um núcleo urbano efervescente. Ainda segundo os registros e lendas, o nome do bairro, teria surgido do cultivo da erva chamada de mesmo nome nas janelas das casas ou do uso nos velórios, como forma de purificação e perfume no período da epidemia.
Oficialmente fundado em 1911, o Alecrim cresceu de forma acelerada e, atualmente, abriga cerca de 30 mil moradores e um dos maiores fluxos diários de pessoas e veículos de toda a cidade, estima-se que mais de 150 mil pessoas circulem por suas ruas todos os dias, número que ultrapassa 3 milhões por mês.
Para Matheus Feitosa, presidente da Associação dos Empresários do Bairro do Alecrim (AEBA), o aniversário é motivo de orgulho, mas também de reflexão sobre o futuro. “Temos muito a celebrar por tudo o que já construímos, mas também seguimos na luta por melhorias estruturais essenciais, como o ordenamento público, o estacionamento rotativo e a reforma do camelódromo.
São obras fundamentais para modernizar o Alecrim, atrair mais clientes, gerar mais emprego, renda e desenvolvimento para quem investe aqui”, afirma.
Mais de seis mil empresas formalizadas fazem do Alecrim um impulsionador da economia natalense. Além disso, o bairro concentra mais de mil camelôs e ambulantes, sendo que somente o camelódromo abriga cerca de 400 deles. A movimentação é intensa e calcula-se que o comércio do bairro contribua com mais de R$ 3 milhões por mês em arrecadação, impulsionado pela diversidade de segmentos que se espalham pelas suas principais avenidas.

O comércio do bairro é setorizado – a Avenida Presidente Quaresma (Av. 1) abriga a tradicional feira livre e setores voltados ao agro, festas e descartáveis. Já a Avenida Presidente Bandeira (Av. 2) concentra clínicas, bancos, lojas de vestuário, joalherias e o famoso relógio do Alecrim. Outras vias se destacam pela especialização, como a Rua José Bento (Av. 3), reduto de eletrônicos e autopeças, a Rua Amaro Barreto, que reúne lojas de móveis e eletrodomésticos, a Av. 8, conhecida como “Vuco Vuco”, referência em produtos usados, e a Av. 10, que abriga o shopping do bairro e diversas lojas de celulares, decoração e tecidos.
“O Alecrim é um polo econômico único. Aqui você encontra desde produtos importados da China e da Europa até itens regionais produzidos por potiguares. É um espaço que conecta o comércio local com o mundo”, destaca Matheus. Ele acrescenta que 37% dos clientes vêm da Zona Norte de Natal, e muitos outros chegam de cidades do interior em busca da variedade e dos preços competitivos. “O Alecrim é democrático. É o bairro onde todos se encontram para comprar, vender e empreender”, observa.
Matheus, ainda lembra que ao longo dos anos, o Alecrim aprendeu a se reinventar. Com isso, muitos lojistas têm investido em tecnologia e vendas digitais, buscando competir com grandes redes e o comércio eletrônico.
“Mesmo com as dificuldades, a gente não desiste. O Alecrim é feito de luta e de alegria. É um bairro que pulsa, que ensina e que acolhe. Celebrar 114 anos é celebrar a nossa história, mas também o nosso futuro”, conclui Matheus.
Além do comércio, o bairro também é lar de instituições e símbolos históricos que fazem parte da memória da cidade, como o Alecrim Futebol Clube, o Instituto dos Cegos, o Instituto Padre Miguelinho, clubes de escoteiros e igrejas centenárias, entre elas, a Igreja de São Pedro, ponto de referência religiosa e cultural. “Tudo isso forma um ecossistema vivo, feito de gente batalhadora, de famílias que passam o bastão de geração em geração. O Alecrim é resistência e renovação”, resume o presidente da AEBA.
Feira do Alecrim é centenária e patrimônio do Rio Grande do Norte

Nenhuma história sobre o Alecrim estaria completa sem mencionar a sua feira livre, a maior e mais antiga de Natal. Fundada em 18 de julho de 1920, a Feira do Alecrim acontece todos os sábados, das 6h às 15h, no cruzamento das avenidas Coronel Estevam e Presidente Quaresma.
Em 2020, ano do centenário de fundação, foi reconhecida pela Assembleia Legislativa como Patrimônio Cultural Imaterial do Rio Grande do Norte.
Nos barracões que compõem a feira, é possível encontrar de tudo, desde frutas, verduras, carnes, aves vivas, peixes, grãos a granel e comidas típicas como tapioca, cuscuz, bolo de fubá e pastel com caldo de cana – até mercadorias variadas como roupas, calçados, brinquedos, eletrônicos, utensílios domésticos, artesanato, plantas, doces, remédios naturais e até mesmo literatura de cordel.
Mas, mais do que um ponto de compras, o espaço é um encontro social, onde o diálogo e a negociação fazem parte da cultura. “A feira é a alma do Alecrim. Ela simboliza a nossa força, nossa tradição e a conexão entre gerações de comerciantes e clientes”, comenta Matheus Feitosa.