Por Carol Ribeiro
Foi numa sala da governadoria, com um tradicional cafezinho com bolo, que se reuniram a governadora Fátima Bezerra (PT), o secretário-chefe do gabinete civil, Raimundo Alves, o vice-governador Walter Alves (MDB) e os deputados estaduais, Francisco do PT, Divaneide Basílio (PT), Hermano Morais (PV), Vivaldo Costa (PV), Bernardo Amorim (PSDB) e Kleber Rodrigues (PSDB).
Na pauta, entre os aliados, política. O contexto da gestão no Rio Grande do Norte e os desafios que podem vir por aí para o governismo e o PT.
O deputado Vivaldo, que voltou há poucos meses a ocupar assento na Assembleia Legislativa, graças à articulação de nomes como Fátima e Ezequiel para que tivesse vaga de volta garantida, após aprovação de George Soares ao TCE, tomou a palavra. Deixou claro a todos da mesa que, para ele, Fátima Bezerra foi a grande vencedora da eleição 2024. Enfatizou a vitória de aliados em mais de cem municípios potiguares. Após uma pausa, com a plateia surpresa, explicou fazendo as contas, contabilizando os eleitos pelo PT, PP de João Maia, PDT de Márcia Maia, PSB de Larissa Rosado, PSDB de Ezequiel Ferreira e MDB de Walter Alves.
O raciocínio de Vivaldo é o mesmo que lideranças e articuladores do PT defendem. Em entrevista ao Diário do RN, após o segundo turno das eleições, Raimundo Alves, que também é articulador político do grupo, afirmou que esta campanha foi uma das que o partido teve o melhor desempenho da história no Estado. “Elegeu sete prefeitos, 13 vice-prefeitos e 62 vereadores e vereadoras. Participou ativamente das eleições em mais de 120 municípios onde privilegiou alianças com partidos da base de sustentação do governo da professora Fátima, tática que se provou acertada”, pontuou Raimundo.
No entanto, Vivaldo, seguindo o raciocínio, após os elogios rasgados à Fátima, disparou, relembrando frase que teria sido dita pelo ex-governador Dinarte Mariz: “Agora, é preciso dividir melhor esse bolo”. A questão, segundo ele, é que, agora, é preciso pensar para frente. E não adianta contabilizar a vitória dos aliados como sendo parte do PT e excluir estes mesmos parceiros da divisão do bolo. Para viabilizar 2026, “é para todo mundo comer e ficar satisfeito”.
O veterano da Assembleia Legislativa se referiu aos poucos espaços cedidos pelo partido para os aliados no Governo. O MDB, por exemplo, maior partido do Rio Grande do Norte, principal aliado do partido de Lula no país e no RN, e peça-chave para viabilizar votações do PT no Estado, só ocupa uma secretaria na gestão de Fátima, a de Recursos Hídricos. O secretário é Paulo Lopes Varella Neto.
O PSDB, comandado pelo presidente da Assembleia Legislativa, que confere sustentação ao Governo e possui 15 prefeituras, também só ocupa um espaço no primeiro escalão, na secretaria de Agricultura, com Guilherme Saldanha.
Pastas estratégicas dentro da gestão são conduzidas por filiados ou por nomes indicados pelo partido. A secretária da Saúde é Lyane Ramalho, que ocupa o lugar que já foi do petista Cipriano Maia. A secretária de Educação é Socorro Batista, que compõe o núcleo do PT. A Administração tem Pedro Lopes como secretário; a Fazenda, Carlos Eduardo Xavier, que chegou a ser cotado como nome a deputado federal pelo partido; o Gabinete Civil é conduzido por um dos articuladores do PT, Raimundo Alves.
A secretaria de Trabalho e Assistência Social (Sethas), que conduz pautas importantes para o PT, como inclusão social, trabalho e o Programa do Leite, tem a petista Iris Oliveira como secretária.
Já a Agricultura Familiar, Alexandre Oliveira; Cultura, Maryland Brito; Gestão e Projetos Especiais, Vírginia Ferreira; todos nomes de filiados ou muito ligados ao Partido dos Trabalhadores.
Com um lanche regado a bolo, a reação à análise de Vivaldo rendeu sorriso cúmplice dos presentes, mas pode ter deixado uma pulga atrás da orelha da governadora, com o recado do sábio seridoense, que também já governou o Estado do RN.