“Estigmatizar a representação feminina, que é pouca, muito pouca, em apenas comparar ao uso de uma saia e um batom, sinceramente, é desqualificar toda a construção política e social que foi feita e já foi conquistada até aqui pelos direitos das mulheres”, declarou o vereador de Mossoró, Pablo Aires (PSB), ao repudiar a fala machista proferida pelo vereador Adjailson Fernandes Valdeger, o Marrom Lanches (Democracia Cristã), durante sessão na Câmara Municipal de Mossoró, nesta quarta-feira (24).
O fato aconteceu quando o novato respondeu às reclamações de parlamentares sobre o fato dele ter assumido no lugar de Larissa Rosado (União Brasil), após o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) cassar a chapa do PSDB (pelo qual Larissa se elegeu em 2020) por fraude na cota de gênero. Para ele, não é sua responsabilidade ter assumido no lugar de uma mulher. “Se vocês quiserem, porque é mulher, eu vou vir de saia, um batonzinho, peruca e venho trabalhar”, debochou.
Antes, o vereador Naldo Feitosa (PSC), que também teve o mandato cassado após o TSE anular os votos do Partido Social Cristão por fraude na cota de gênero, afirmou ter sido vítima do processo e de estar pagando pelo erro dos outros. Em sua fala, ele pediu que a lei que estabelece os 30% de candidaturas femininas nas eleições proporcionais fosse alterada, e citou o caso de Larissa Rosado. “Tiraram uma mulher e colocaram um homem, onde está a coerência, onde está a proteção das mulheres?”, questionou.
Para Pablo Aires, as falas proferidas hoje na Câmara de Mossoró são absolutamente desrespeitosas com toda a sociedade, e principalmente, com as mulheres, que sempre tiveram seus direitos limitados e somente agora, têm conquistado um pouco de espaço por força da lei. Ele afirmou ainda que a maioria dos partidos ainda são liderados por homens, assim como ocorre em outros espaços de poder, de uma forma geral.
“Ouvir de um vereador que está saindo agora do mandato, que os homens estão pagando pelas mulheres. E de um parlamentar que está entrando agora, na sua primeira semana na Câmara, que se o problema for falta de mulheres, ele vem de saia, de peruca e batom, é uma coisa ridícula. Porque as mulheres tiveram seus direitos limitados por muito tempo”, desabafou.
Quem também se revoltou com as declarações machistas de Marrom e Naldo foi a vereadora Marleide Cunha (PT), que afirmou que a questão de cota de gênero terá que ser aceita pelos partidos e atores políticos. Ela lamentou a “concepção rasa e limitada do nobre vereador, quando ele diz que não é culpa dele a questão de ter ocupado a vaga de uma mulher” e repudiou o fato dele ter feito discurso transfóbico.
“É democracia. Esse espaço de decisão política não cabe a homens, a uma cultura machista, patriarcal, homofóbica e racista. Esse espaço é a casa de representação de todas as parcelas da sociedade, sejam homens, mulheres, negros, negras, LGBTs, jovens. Esse tipo de fala não vai passar. Não vamos silenciar com essas falas preconceituosas, homofóbicas e que diminuem a condição de gênero. É preciso respeitar a lei”, afirmou Marleide.