Por Fernanda Sabino
No mês de outubro é celebrado o Dia Nacional da Vacinação, que segue como uma das medidas mais eficazes para proteger a saúde da população e evitar o retorno de doenças já erradicadas no Brasil. Desde 1973, o Programa Nacional de Imunizações (PNI), do Ministério da Saúde, coordena as políticas públicas de imunização, garantindo o acesso gratuito às vacinas por meio do Sistema Único de Saúde (SUS).
O PNI oferece atualmente 47 imunobiológicos, entre vacinas, soros e imunoglobulinas, que protegem a população em geral e grupos com condições clínicas especiais. O calendário nacional inclui 19 vacinas aplicadas rotineiramente, prevenindo doenças como poliomielite, sarampo, rubéola, tétano e coqueluche. O Ministério da Saúde atua em parceria com estados e municípios para ampliar a cobertura vacinal e garantir acesso igualitário em todo o país.
No Rio Grande do Norte, a Secretaria de Estado da Saúde Pública (Sesap) tem intensificado ações para recuperar os índices de vacinação. Segundo a coordenadora de Vigilância em Saúde da Sesap, Diana Rego, o Estado apresentou melhora nas coberturas em 2024 e 2025, mas alguns grupos ainda preocupam. “Houve um avanço importante de 2023 para cá, entretanto alguns imunizantes ainda estão abaixo do ideal. Os grupos com maior atraso são os idosos e as gestantes”, afirma.
Diana explica que o Estado tem investido em estratégias locais, como o microplanejamento e o monitoramento presencial nos municípios prioritários, para identificar pessoas não vacinadas. O combate à desinformação também é uma prioridade. “Temos utilizado as redes sociais e a imprensa para divulgar informações corretas. É fundamental o papel da comunicação, e trabalhamos com notas técnicas, vídeos curtos e mensagens simples, para alcançar a população de forma direta”, pontua.
A coordenadora alerta para o risco de reintrodução de doenças como o sarampo e a poliomielite, caso as coberturas permaneçam baixas. “Quando identificamos uma baixa cobertura, isso já representa um risco. Os profissionais de saúde notificam casos suspeitos e, a partir daí a vigilância atua em conjunto com o CIEVS estadual [Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde]”, explica.
Entre os principais desafios, segundo Diana, estão as dificuldades de acesso e as barreiras sociais que impedem parte da população de se vacinar. “Levar a vacina ao braço das pessoas é o maior desafio. Enfrentamos a desinformação, mas também barreiras de acesso que variam conforme cada município. É essencial compreender a realidade das famílias e adaptar as estratégias. Não dá para repetir as ações dos anos 1980, porque as dinâmicas sociais mudaram”, destaca.
Ela cita ainda a resistência em torno da vacina contra o HPV, por exemplo, ainda marcada por estigmas. “Precisamos falar claramente que a vacina protege contra o câncer e não tem relação alguma com sexualização precoce”, reforça.
AVANÇOS EM NATAL
Em Natal, a Secretaria Municipal de Saúde tem registrado melhorias significativas nas coberturas, especialmente após a adoção do sistema “RN Mais Vacina” e do microplanejamento municipal. Segundo dados da Sesap, até 10 de outubro deste ano, 6.463 pessoas haviam recebido a primeira dose da vacina Qdenga, contra a dengue, mas 4.102 ainda não retornaram para completar o esquema vacinal. O público-alvo são crianças e adolescentes entre 10 e 14 anos.
Em relação à gripe, 176.751 doses da vacina Influenza foram aplicadas na capital potiguar. As coberturas registradas são de 34,64% no total, com 28,41% entre crianças, 35,76% entre idosos e 57,14% entre gestantes.
A chefe do Núcleo de Agravos Imunopreveníveis (NAI) da SMS Natal, Veruska Ramos, explica que o aumento nas coberturas se deve à intensificação das ações nas escolas e à busca ativa de crianças e adolescentes com a caderneta desatualizada. “Essas estratégias têm sido fundamentais. Com o novo sistema, o registro das doses é feito automaticamente e as informações são enviadas à base nacional, evitando perdas e inconsistências”, destaca.
Veruska acrescenta que o microplanejamento, com cada unidade básica atuando em seu território, permite identificar pessoas não vacinadas. “Estamos conseguindo alcançar as populações mais vulneráveis e corrigir falhas de registro. Ainda não atingimos a cobertura ideal de 95%, mas estamos próximos. Esperamos encerrar o ano com resultados expressivos”, diz.
Ela também ressalta o esforço conjunto com organismos internacionais. “O resgate da vacinação contra o HPV tem contado com o apoio de entidades como a OPAS e o Unicef. A busca pelo selo Unicef, inclusive, tem impulsionado as ações e ajudado a aumentar as coberturas, não apenas de crianças, mas também de adolescentes”, acrescenta.
IMPORTÂNCIA DA IMUNIZAÇÃO
Para a imunologista Janeusa Trindade, os avanços recentes indicam um esforço conjunto entre governos, profissionais de saúde e sociedade, mas ainda há muito a ser feito. “É importante ver esse aumento, especialmente com as estratégias de microplanejamento que permitem identificar necessidades locais. No entanto, ainda não atingimos as coberturas ideais. Em 2024, apenas três vacinas infantis alcançaram a meta nacional”, observa.
Ela destaca que o funcionamento pleno das salas de vacina é essencial para garantir o acesso. “É fundamental que todas as unidades básicas mantenham suas salas de vacinação abertas durante o horário de funcionamento. Muitas pessoas só têm o horário de almoço para levar os filhos, e não podem chegar lá e encontrar a sala fechada. É preciso garantir equipes disponíveis e reposição quando houver ausências”, defende.
Janeusa conclui reforçando que a vacinação é uma responsabilidade coletiva e o principal instrumento para evitar a volta de doenças graves. “A imunização salva vidas e fortalece a saúde pública. Garantir o acesso e combater a desinformação são passos essenciais para que o Brasil continue sendo referência mundial em imunização”, afirma.

