Por Renata Carvalho
“A questão que levanto é a seguinte: qual seria o objetivo desse vídeo que expõe crianças a falarem palavrões de forma tão desinibida?”, questiona a psicóloga Michele Lima, ao abordar a controvérsia em torno de uma nova tendência nas redes sociais, em que os pais colocam seus filhos em frente a um espelho e pedem que as crianças falem todos os palavrões que conhecem. Posteriormente, o vídeo é compartilhado nas redes sociais e alguns chegam a ter milhares de curtidas.
Os pais que participam da trend do momento afirmam que a prática é uma forma de “liberar o estresse” e “permitir que as crianças expressem suas emoções”, independentemente do que vão falar. A psicóloga destaca que essa brincadeira pode gerar implicações no desenvolvimento psicológico e emocional das crianças expostas: “A criança está em fase de desenvolvimento, não possui maturidade cognitiva e emocional para compreender plenamente suas ações. Como ficará a cabeça dessas crianças, sendo induzidas a expressar-se dessa maneira?”.
Com mais de cinco milhões de seguidores, a atriz Ingrid Guimarães usou suas redes sociais para criticar a postura dos pais que envolvem seus filhos nessa brincadeira: “Gente que coisa boba é essa de deixar a criança olhando para a câmera falando palavrão? É tipo: pode falar, mas só gravado para a mamãe ganhar likes. Depois não pode mais, tá? ”
“O vídeo claramente mostra que essas crianças foram induzidas a esse comportamento. Isso não é algo natural para elas e a pergunta que não quer calar é: a que ponto chegamos ao normalizar algo que, de um ponto de vista negativo, não contribui em nada para a educação infantil?”, indaga Michele Lima, evidenciando sua preocupação com a mudança de padrões educacionais.
A psicóloga aponta para as possíveis repercussões a longo prazo. “Expor crianças a comportamentos que, normalmente, são considerados inaceitáveis na sociedade é algo que precisa ser refletido. Qual será o impacto quando essas crianças se tornarem adultos e forem tratadas com normalidade ao proferirem palavrões em ambientes como salas de aula ou locais de trabalho?”
A preocupação da psicóloga Michele Lima vai além da mera análise de um vídeo específico; ela levanta questões profundas sobre os limites que a sociedade está disposta a tolerar em nome do entretenimento nas redes sociais e o potencial impacto na formação e comportamento das futuras gerações.
NA CONTRAMÃO
A influenciadora digital Sammy Sampaio escolheu um caminho diferente para seguir com o filho Jake, deixando claro ser contra o tipo de conteúdo viralizado na trend da moda. Mostrando ser adepta do método da educação respeitosa com o herdeiro, ela criou uma versão própria da trend, convidando a criança a falar as palavras mais bonitas que conhece.
Dias antes, o ex-marido de Sammy e pai de Jake – o hipnólogo e influenciador digital Pyong Lee – publicou um vídeo onde entra na trend, mas diferente do que acontece com a maioria das crianças, o menino não sabe dizer palavrões. “A trend afirma que os pais são as maiores referências para os filhos, e eles replicam atitudes e falas que veem e ouvem. Muito cuidado com o que falam e fazem perto dos pequenos”, escreve Piong na legenda da publicação.