GIRO PET
O Giro Pet registrou em cliques adoções de gatinhos com suas novas famílias que serão eternamente gratos por serem amados e poderem retribuir o amor de uma maneira que só eles sabem. Alegrando a vida de seus novos tutores!
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com Jasmine e Tigrino
História da minha vida com pet, contada pelo poeta e escritor Antônio Francisco
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OS ANIMAIS TÊM RAZÃO
Quem já passou no sertão e viu o solo rachado, a caatinga cor de cinza, duvido não ter parado pra ficar olhando o verde do juazeiro copado. E sair dali pensando: Como pode a natureza num clima tão quente e seco, numa terra indefesa com tanta adversidade criar tamanha beleza. O juazeiro, seu moço, é pra nós a resistência, a força, a garra e a saga.
O grito de independência do sertanejo que luta na frente da emergência. Nos seus galhos se agasalham do periquito ao cancão. É hotel de retirante que anda de pé no chão o general da caatinga e o vigia do sertão. E foi debaixo de um deles que eu vi um porco falando, um cachorro e uma cobra e um burro reclamando, um rato e um morcego e uma vaca escutando. Isso já faz tanto tempo que eu nem me lembro mais se foi pra lá de Fortim, se foi pra cá de Cristais, eu só me lembro direito do que disse os animais. Eu vinha de Canindé com sono e muito cansado, quando vi perto da estrada um juazeiro copado. Subi, armei minha rede e fiquei ali deitado. Como a noite estava linda procurei ver o cruzeiro, mas, cansado como estava, peguei no sono ligeiro. Só acordei com uns gritos debaixo do juazeiro. Quando eu olhei para baixo eu vi um porco falando, um cachorro e uma cobra e um burro reclamando, um rato e um morcego e uma vaca escutando. O porco dizia assim: “Pelas barbas do capeta se nós ficarmos parado a coisa vai ficar preta do jeito que o homem vai, vai acabar o planeta. Já sujaram os sete mares do Atlântico ao mar Egeu, as florestas estão capengas, os rios da cor de breu e ainda por cima dizem que o seboso sou eu”. Os bichos bateram palmas, o porco deu com a mão, o rato se levantou e disse: “prestem atenção”, eu também já não suporto ser chamado de ladrão. O homem, sim, mente e rouba, vende a honra, compra o nome. Nós só pegamos a sobra daquilo que ele come e somente o necessário pra saciar nossa fome. Palmas, gritos e assovios ecoaram na floresta, a vaca se levantou e disse franzindo a testa: Eu convívio com o homem, mas sei que ele não presta. É um mal-agradecido, orgulhoso, inconsciente. É doido e se faz de cego, E não sente o que a gente sente, e quando nasce e tomando a pulso o leite da gente. Entre aplausos e gritos, a cobra se levantou, ficou na ponta do rabo e disse: também eu sou perseguida pelo homem pra todo canto que vou.
Pra vocês o homem é ruim, mas pra nós ele é cruel. Mata a cobra, tira o couro, come a carne, estoura o fel, descarrega todo o ódio em cima da cascavel. É certo, eu tenho veneno, mas nunca fiz um canhão. E entre mim e o homem, há uma contradição o meu veneno é na preza, o dele no coração. Entre os venenos do homem o meu se perde na sobra… Numa guerra o homem mata centenas numa manobra, inda cego que diz: Eu tenho medo de cobra. A cobra inda quis falar, mas, de repente, um esturro. É que o rato, pulando, pisou no rabo do burro e o burro partiu pra cima do rato pra dar-lhe um murro.
Mas, o morcego notando que ia acabar a paz, pulou na frente do burro e disse: calma rapaz!… Baixe a guarda, abra o casco, não faça o que o homem faz. O burro pediu desculpas e disse: muito obrigado, me perdoe se fui grosseiro, é que eu ando estressado de tanto apanhar do homem sem nunca ter revidado. O rato disse: seu burro, você sofre porque quer. Tem força por quatro homens, da carroça é o chofer… Sabe dar coice e morder, só apanha se quiser. O burro disse: eu sei que sou melhor do que ele, mas se eu morder o homem ou se eu der um coice nele é mesmo que está trocando o meu juízo no dele os bichos todos gritaram: Burro, burro… muito bem! O burro disse: obrigado, mas aqui ainda tem o cachorro e o morcego que querem falar também. O cachorro disse: amigos, todos vocês têm razão… O homem é um quase nada rodando na contramão, um quebra-cabeça humano sem prumo e sem direção. Eu nunca vou entender por que o homem é assim: Se odeiam, fazem guerra e tudo quanto é ruim e a vacina da raiva em vez deles, dão em mim. Os bichos bateram palmas e gritaram: vá em frente. Mas o cachorro parou, disse: obrigado, gente, mas falta ainda o morcego dizer o que ele sente. O morcego abriu as asas, deu uma grande risada e disse: eu sou o único que não posso dizer nada porque o homem pra nós tem sido até camarada. Constrói castelos enormes com torre, sino e altar, põe cerâmica e azulejos e dão pra gente morar e deixam milhares deles nas ruas, sem ter um lar. O morcego bateu asas, se perdeu na escuridão, o rato perdeu a vez, mas não ouvi nada, não, peguei no sono e perdi o fim da reunião. Quando o dia amanheceu, eu desci do meu poleiro. Procurei os animais, não vi mais nem o roteiro. Vi somente umas pegadas debaixo do juazeiro. Eu disse olhando as pegadas: Se essa reunião tivesse sido por nós, estava coberto o chão de piubas de cigarros, guardanapos e papelão.
Botei a maca nas costas e sai cortando vente. Tirei a viagem toda sem tirar do pensamento os sete bichos zombando do nosso comportamento. Hoje, quando vejo na rua um rato morto no chão, um burro mulo piado, um homem com um facão agredindo a natureza, eu tenho plena certeza: OS ANIMAIS TÊM RAZÃO!