O Rio Grande do Norte conhece o próprio potencial turístico?
O Rio Grande do Norte é, sem dúvidas, um dos estados com maior diversidade e beleza no turismo nacional. Mas a pergunta que precisa ser feita — com a seriedade que ela exige — é: os próprios potiguares conhecem, de fato, esse potencial? O estado sabe o tamanho da força econômica, cultural e identitária que existe em seu território? A resposta, infelizmente, ainda é parcial. E é justamente por isso que a construção de um turismo interno fortalecido, regionalizado e bem governado é uma urgência.
Belezas naturais que vão além do litoral
É fácil lembrar de Natal, Ponta Negra, Genipabu e Pipa. Mas o Rio Grande do Norte é muito mais do que sua capital e suas praias urbanizadas. São 400 km de litoral com dunas, falésias, águas cristalinas e recifes, que se estendem de Baía Formosa a Tibau, passando por lugares como Tabatinga e Camurupim em Nísia Floresta, São Miguel do Gostoso, Touros e Maracajaú. São destinos prontos para atrair não só visitantes de fora, mas o próprio potiguar, que muitas vezes não conhece sua geografia com profundidade. O turismo interno, quando valorizado, ajuda a distribuir renda, a gerar autoestima e a ocupar territórios com propósito.
Turismo religioso: um gigante que desperta

O estado também é terra de fé. Os santuários de Santa Rita de Cássia (em Santa Cruz), dos Mártires de Cunhaú e Uruaçu, e a Festa de Sant’Ana de Caicó, Patrimônio Cultural do Brasil, mostram que o turismo religioso no RN não é apenas um segmento — é uma vocação. Peregrinos do Brasil inteiro visitam os lugares de fé, mas os roteiros ainda são pouco articulados, e o envolvimento do setor turístico precisa ser mais planejado. Canguaretama, Nísia Floresta, São José de Mipibu, São Gonçalo do Amarante, Mossoró e Currais Novos guardam não apenas igrejas, mas tradições, romarias e espiritualidades que devem ser valorizadas.
Interiorização: a alma do turismo regional

Falar em turismo no RN é também falar em interiorização. O Seridó, com sua cultura sertaneja, o Geoparque reconhecido pela UNESCO, as trilhas ecológicas e as festas religiosas, tem identidade própria e poder de atrair visitantes por sua autenticidade. Regiões como o Agreste e o Trairi reúnem engenhos, sítios históricos, artesanato e turismo rural, que ainda são pouco promovidos.
O litoral é a porta de entrada, mas o interior pode ser o lugar do encantamento e da permanência.
Governança: sem união, não há turismo duradouro
Nenhum desses potenciais se sustenta sem governança. E governança, no turismo, significa articulação real entre poder público, agências, empresários, lideranças religiosas e comunidades locais. O turismo não acontece por decreto nem por improviso: ele precisa de planejamento, infraestrutura, acolhimento, capacitação e continuidade. E, acima de tudo, precisa de pessoas que acreditem nele como política de estado.
É preciso olhar para dentro
O turismo potiguar tem potência internacional, mas o que falta é consciência local. Falta olhar para dentro, entender que o morador também é turista, que o jovem do interior pode empreender com turismo, que a fé pode gerar trabalho digno e que o turismo não é só lazer: é economia, cultura, evangelização, valorização do território. O Rio Grande do Norte tem tudo para ser modelo — basta se reconhecer como tal.