Ônibus lotados, quantidade insuficiente de linhas e atrasos são alguns dos desafios para quem precisa utilizar o transporte público para se deslocar por Natal, é o que nos relatam os usuários com quem conversamos sobre a solicitação de aumento de tarifa feita pelos integrantes do Conselho Municipal de Transporte e Mobilidade Urbana (CMTMU), entre eles o Sindicato das Empresas de Transportes Urbanos (Seturn) e a Cooperativa dos Transportadores Autônomos de Natal (Transcoop-Natal).
Integrantes do conselho reclamam que a tarifa atual está desatualizada, dado que o valor, de R$ 3,90 para pagamento no cartão eletrônico e R$ 4 para pagamento em espécie, é o mesmo desde maio de 2019, portanto, pedem a Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana (STTU) que a revisão dos valores seja discutida na próxima reunião do CMTMU, marcada para esta quinta-feira (26), às 10h, na sala de reuniões da STTU, no bairro da Ribeira. Entretanto, a Secretaria afirma que o aumento na tarifa não será tratado e a pauta é metodologia adotada para o pagamento do subsídio das gratuidades das pessoas idosas. O pedido, assinado por outros 14 participantes do conselho, é que a passagem seja reajustada para R$ 6,25, um aumento de cerca de 60% na tarifa.
Para Bruna Gomes, de 26 anos, o pedido de aumento na tarifa do transporte público na capital potiguar, por si só, é revoltante: “Praticamente todo ano eles querem reajustes, mas os usuários não veem as melhorias. Então, não é justo eu pagar mais caro por algo [as melhorias] que não vejo acontecer. Teve vez que, devido à demora, o ônibus passou por mim muito lotado e não parou.
Isso é frustrante, todo mundo quer chegar ao seu destino”, avalia a jovem autônoma, que também reclamou da retirada de várias rotas do itinerário por parte da Seturn.
Vale destacar que a manutenção dos valores na passagem ao longo dos últimos anos foi uma das contrapartidas pedidas pelo Governo do Estado e pela Prefeitura do Natal para dar uma série de isenções de impostos aos permissionários do transporte público. ICMS e ISS foram os tributos desonerados, respectivamente.
De acordo com Edileuza de Queiroz, que é membro da Transcoop-Natal e lidera a solicitação, é urgente a inclusão da discussão da apresentação da planilha tarifária, que trata do reajuste no valor da passagem, à STTU na pauta do próximo encontro do CMTMU, para que “a entidade se posicione sobre a real situação tarifária da prestação do serviço de transporte coletivo urbano na capital, antes que o sistema entre em colapso”, comenta.
Para a estudante Milenne Barbosa, quem depende dos ônibus em Natal enfrenta a precarização total do sistema de transporte, com uma frota velha e sucateada e que, por vezes, quebram durante o trajeto. “Infelizmente, isso ocorre porque a prefeitura de Natal, assim como a STTU, não se importa com o povo que precisa do transporte coletivo, mas atuam para beneficiar o grande empresariado do SETURN, que lucra milhões. Desde a pandemia, a frota não retornou 100% e o prefeito Álvaro Dias se nega a abrir a licitação do transporte público de Natal”, salienta Millene, que complementa afirmando que um aumento deveria significar melhoria no serviço prestado, algo que, segundo ela, não acontece quando se fala do transporte coletivo de Natal.
Nilson Queiroga, consultor técnico do Seturn, argumenta que a deterioração dos serviços é reflexo da postura da gestão municipal que não é transparente sobre a defasagem nos custos do transporte público. “É estranho a STTU esconder a planilha dos gastos do transporte. Todos os custos aumentaram desde o último reajuste 44 meses atrás, mas a tarifa não. Isso tem como consequência a piora nos serviços prestados”, afirma Queiroga ao comentar a decisão da STTU, de não discutir o aumento na próxima reunião conselho.