O reajuste nas tarifas de ônibus solicitado pelo Sindicato das Empresas de Transportes Urbanos (Seturn) à Prefeitura de Natal ainda está sob análise. Caso aprovado, as viagens passam dos atuais R$ 4 para R$ 4,85. Mais de 20% numa só tacada, um aumento polêmico entre os usuários do transporte coletivo, que já se mostram insatisfeitos com o serviço ofertado. “Eles não estão pensando no trabalhador, apenas nos empresários. A situação é precária. Eles reduziram bastante a frota. Antigamente eu passava de 10 a 15 minutos na parada, hoje passo quase o dobro. Na situação dos ônibus a gente não vê nenhuma melhora, cada dia piora. E sem o cobrador também, somente o motorista, colocando em risco a vida dos passageiros nessa dupla função” relata Augusto Carvalho, autônomo.
E não para por aí. Nos pontos de parada de ônibus, sobram reclamações seja pela demora, pela superlotação ou pela falta de manutenção da frota. “É inadequado. Além de pagar uma passagem cara, a gente anda muito apertado. Temos que andar aglomerados porque precisamos trabalhar”, desabafa Cícera Maria, funcionária pública. “Para receberem o aumento, as empresas precisam dar uma melhor qualidade. Os ônibus muitas vezes são enferrujados, sujos, as cadeiras quebradas, não tem manutenção”, diz.
Helena dos Santos é universitária. Para estudar e trabalhar, ela precisa usar mais de um ônibus para se locomover de uma zona à outra da capital potiguar. São quatro passagens que pesam no bolso e um possível aumento vai sobrecarregar ainda mais o orçamento. “Eu faço estágio, às vezes preciso pegar essa quantidade de quatro ônibus por dia e com esse aumento irei pagar ainda mais caro. Ao invés de gastar R$ 4, agora estou pagando R$ 6 em passagens. Tem estudantes que nem têm bolsa e nem renda, isso complica ainda mais a situação”.
Nesta quarta-feira (7), a reportagem do Diário do RN encontrou paradas lotadas na BR-101. A lista de reclamações não parava e ainda foi presenciado o momento quando Helena e Cícera enfrentaram uma situação desagradável, mas segundo relatos, corriqueira: o motorista deixou Cícera e Helena. Mesmo após as duas chegarem às pressas para alcançar o coletivo, o motorista deu partida, deixando-as para trás. O jeito foi continuar aguardando o próximo veículo para voltar para casa.
NA CONTRA MÃO DO AUMENTO
Enquanto o Seturn alega que as tarifas estão defasadas, um projeto de autoria do vereador Milklei Leite (PV) defende a redução dos valores em Natal. Milklei foi motorista de ônibus por mais de 20 anos, atuou em várias linhas e conhece bem a rotina. Em entrevista à 98 FM, nesta quarta-feira (7), o vereador afirmou que é possível reduzir valor e ainda assim otimizar o serviço oferecendo mais qualidade com uma tarifa alternativa, com redução do valor fora dos horários de pico. “A tarifa é calculada pelas viagens, ela pode ser uma viagem lotada ou vazia. O horário que não tem pico, tem menos fluxos de pessoas, seria de nove a meio-dia, de 15h às 17h. A gente quer estimular as pessoas a se adequarem a um novo horário. A gente vai chamar essa reunião, uma audiência pública na Câmara para que as pessoas realmente saibam como é calculado o custo do pneu, do diesel, do desgaste do carro, do funcionário, inclusive da viagem que vem vazia”.
O vereador também chamou atenção para a importância da licitação dos transportes públicos. “Só vamos resolver esse problema do transporte quando houver a licitação. A STTU pagou uma nova empresa para fazer um novo estudo. Está em andamento, esse ano não sai, mas no próximo ano não posso afirmar. Eu quero incentivar outras empresas a se interessarem por Natal.”