O secretário do Comércio dos Estados Unidos, Howard Lutnick, citou o Brasil como um dos países que precisam ser “consertados” para garantir uma dinâmica comercial mais favorável aos americanos.
Durante entrevista à emissora NewsNation publicada no sábado, 27, Lutnick também mencionou Suíça, Índia e Taiwan entre os governos dos quais Washington ainda espera concessões. “Esses são países que precisam reagir corretamente aos EUA, abrir seus mercados, parar de tomar ações que prejudicam os EUA”, afirmou.
O comentário aconteceu dias após uma rápida interação entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente dos EUA, Donald Trump, durante a Assembleia Geral da ONU. O republicano disse ter tido “excelente química” com o petista e informou que os dois concordaram em se encontrar nesta semana. A diplomacia brasileira ainda negocia o formato da reunião.
Como tudo começou
A guerra tarifária de Donald Trump começou logo no início de seu segundo mandato. Entre 7 e 12 de julho de 2025, o presidente americano anunciou tarifas para mais de 50 países, incluindo o Brasil. A justificativa oficial era reverter uma balança comercial que, segundo ele, havia sido “extremamente deficitária para os Estados Unidos ao longo de décadas”.
O Brasil recebeu uma taxa adicional de 40%. Somada aos 10% que já existiam, a tarifa total chegou a 50%. Mas, diferentemente de outros países, a lógica econômica não se aplicava ao caso brasileiro. A balança comercial entre Brasil e EUA tem sido favorável aos americanos desde 2009. No primeiro semestre de 2025, registrou novo superávit para os Estados Unidos, de US$ 1,674 bilhão.
Em determinado momento, Trump admitiu que a motivação era política. O presidente americano disse haver uma “caça às bruxas” no Brasil contra Jair Bolsonaro, que respondia no STF por acusações relacionadas à tentativa de golpe após sua derrota em 2022. Era, na prática, uma “punição” ao País.
Em 30 de julho, Trump oficializou o decreto. A justificativa baseou-se em “políticas, práticas e ações recentes do Brasil que ameaçam a segurança nacional, a política externa e a economia dos EUA”. No dia seguinte, elevou as tarifas sobre o Canadá de 25% para 35% e divulgou uma lista com taxas para 69 parceiros comerciais, totalizando mais de 90 países.
O tarifaço entra em vigor
As tarifas de 50% entraram em vigor em 6 de agosto de 2025, à 0h01 (horário de Washington). Uma lista de 694 exceções poupou produtos como suco de laranja, celulose e aviões da Embraer. Mas itens importantes como carne, café, máquinas e pescados ficaram de fora da proteção. Os efeitos foram imediatos.
Para a economia brasileira como um todo, o impacto foi significativo, mas não catastrófico. O UBS BB projetou um efeito no PIB de no máximo 0,6 ponto percentual. O Goldman Sachs estimou 0,25 ponto percentual. A avaliação considerava que 74% das exportações brasileiras para os EUA poderiam ser redirecionadas para outros mercados.
O Brasil, afinal, é um país relativamente fechado e menos dependente do comércio exterior. Mas para empresas diretamente ligadas ao mercado americano, especialmente pequenas e médias que fabricam produtos específicos sob demanda, o cenário se mostrou bem mais grave.
O governo Lula respondeu com o programa “Brasil Soberano”, oficializado em 13 de agosto. A principal medida foi uma linha de crédito de R$ 30 bilhões com juros reduzidos. O pacote incluiu ainda ampliação de seguros à exportação, adiamento da cobrança de impostos e compra de produtos perecíveis destinados aos EUA.
A tensão continua
Diplomaticamente, Lula adotou uma posição de confronto medido. Afirmou que o tarifaço “não ficaria impune” e que Trump e o povo americano “sofreriam as consequências”. Rejeitou conversas telefônicas com o presidente americano sobre as tarifas, mas se dispôs a convidá-lo para a COP sobre questões climáticas.
No contexto global, o Brasil recebeu o tratamento mais severo. Outros países enfrentaram tarifas menores: Índia com 25%, Canadá com 35%. A China manteve uma trégua tarifária por mais 90 dias.
Apesar das tensões, Trump demonstrou abertura para diálogo após encontrar Lula na Assembleia Geral da ONU. Disse ter tido “excelente química” com o presidente brasileiro e concordou com um encontro bilateral. A diplomacia brasileira ainda negocia os detalhes.
*Com informações do Estadão