Por Carol Ribeiro
O PSOL Natal foi um dos primeiros partidos a marcar as convenções partidárias. Para o primeiro dia permitido pelo calendário eleitoral, sábado, 20. No mesmo dia, foi levado a cancelar o evento que consolidaria a candidatura própria do partido à Prefeitura de Natal, apresentando Camila Barbosa candidata. A ordem de cancelamento do evento veio da Executiva Nacional, assinada pela presidente nacional do PSOL Paula Bermudes Morais Coradi. A provocação foi do presidente estadual do partido e presidente da Federação PSOL-Rede no RN, Sandro Pimentel, que defende o apoio a Natália Bonavides (PT), em vez do nome do seu partido.
O vereador do PSOL, Robério Paulino, “lamenta” a ordem da Executiva Nacional: “Eu lamento profundamente essa intervenção do Diretório Nacional. Ainda mais eu sendo um dos 101 fundadores nacionais do PSOL. Essa intervenção foi provocada por um setor antidemocrático do PSOL RN, inclusive contra uma decisão tomada democrática e coletivamente. Essa intervenção foi provocada por um setor antidemocrático, autoritário do PSOL RN contra uma decisão democrática em Natal”, afirma em conversa com a reportagem do Diário do RN.
Segundo Robério, Sandro Pimentel tem “interesses”: “Ele está fazendo cálculos que a candidatura da Natália é mais conveniente para ele no sentido de eleger os candidatos que ele está defendendo dentro do partido”.
Para o parlamentar que representa o partido na Câmara de Natal, pode haver uma articulação interna do PT em relação a isso. Na opinião dele, “hoje existem setores na direção nacional do PSOL que tem contato direto com a direção do PT e que pode muito bem ter havido uma interlocução para essa intervenção”.
E complementa: “Mas o problema, do nosso lado do diretório municipal, achamos que é inviável o apoio a Natália (Bonavides) por alguns motivos. Primeiro que nacionalmente o PT tem votado políticas contra os trabalhadores como o arcabouço fiscal, que é a mesma política do teto de gastos do ministro Guedes de Bolsonaro. Segundo, esse novo ensino médio é inaceitável. O pessoal não aceita isso”.
Ele, pontua, ainda, temáticas que o partido quer levar ao debate durante a campanha e que “o PT não vai fazer”. “Por exemplo, vamos defender o ensino integral em todas as escolas de Natal, nós vamos defender a criação de uma empresa pública de transporte”.
Em nota encaminhada no sábado, o Diretório Municipal do PSOL Natal classifica a decisão como “uma intervenção inédita que ataca frontalmente a democracia interna do partido”. Repudiando “qualquer intervenção nacional sobre as instâncias de direção municipal” e afirmando que “não será intimidada’, a nota complementa: “A intervenção da Executiva Nacional aconteceu por provocação de um recurso assinado por Sandro Pimentel, que teve sua posição de apoio à Natália Bonavides derrotada na direção do PSOL Natal. Sandro apelou para uma intervenção burocrática e inédita no PSOL Natal, sufocando a democracia interna do partido em prol de suas posições individuais”.
Em conversa com o Diário do RN, o presidente estadual do PSOL RN defende que não houve intervenção: “Intervenção seria se o Diretório Nacional dissesse ‘Em Natal vocês vão ter que apoiar A B ou C. Está dizendo é para fazer uma consulta. Se na consulta os filiados disserem que deve ter candidatura própria, vai ter candidatura própria e eu serei o primeiro vou fazer questão de estar com a bandeira da candidatura própria pedindo voto”. A decisão pelo nome de Camila foi tomada por votação, por seis a três, entre os nove membros do Diretório Municipal.
No entanto, Sandro Pimentel acha que o nome de Natália Bonavides é melhor que o nome de Camila Barbosa. “Porque a Natália é um nome que já é muito conhecido em Natal, já foi vereadora de Natal, deputada federal pela segunda vez, chegou a ser a mais votada de Natal. É um nome que tem um acúmulo muito maior, já estão com ela todos os partidos de esquerda, nós entendemos que o PSOL não deve ficar indo isoladamente fora dessa disputa. O meu entendimento é de que é o único nome que está posto capaz de ir para o segundo turno e derrotar a direita”, explica.
Segundo Pimentel, que afirma ter montado 70% da nominata, dos 29 pré-candidatos do PSOL-Rede, 23 concordam com seu posicionamento; todos os doze pré-candidatos a vereador da Rede e 11 do PSOL. “Mas é que a gente tem mais de 12 mil filiados. O que eu pedi é que os filiados decidam, ou seja, eu estou pedindo a ampliação da democracia”, completa defendendo que seu posicionamento é “legítimo”.
Em junho, após decisão pela pré-candidatura própria, Camila Barbosa explicou ao Diário do RN que a definição se deu para “superar a estrutura ‘oligárquica’, o Partido Socialismo e Liberdade tomou a decisão de não integrar frente ampla da esquerda em Natal”. Na ocasião, a pré-candidata afirmou que as alianças eleitorais apresentadas ultrapassavam seus “limites de princípios”: “Existe também uma resolução Nacional do nosso partido que não estimula e proíbe coligação com o MDB, com o PRD, que são partidos que fizeram parte em algum momento também da base do ex-presidente Bolsonaro”.
Em conversa com a reportagem após a suspensão da convenção, Camila afirma que “nunca na história do PSOL em Natal a decisão foi encaminhada através do voto dos filiados”, e que resolução de tática eleitoral, emitida em março, diz que o diretório das cidades com mais de 200 mil eleitores, o diretório é a instância outorgada para definição da candidatura. “Por isso é uma intervenção tão grave da parte do diretório nacional”, afirma ela.