O Rio Grande do Norte tem potencial eólico onshore (em terra) duas vezes maior que o estimado em 2003 e capacidade de expandir a geração dessa fonte de energia em pelo menos 93 Gigawatts (GW) a 200 metros de altura – o equivalente a 15 vezes o que está em operação atualmente em seu território. O estado é o maior produtor brasileiro de energia eólica. O potencial para futura geração offshore – com parques eólicos no mar – alcança, por sua vez, 54,5 GW e seria suficiente para suprir cerca de ⅓ de toda energia elétrica brasileira em 2020 (aproximadamente 651TWh).
As áreas mais promissoras estão no Litoral Norte. Mas, a uniformidade de cor que salta aos olhos em mapas que indicam o recurso eólico no estado não deixa dúvidas: o offshore potiguar inteiro é um oásis e o estado também tem abundância de energia solar.
A fonte de todos os dados e análises é o novo Atlas Eólico e Solar do estado. O documento é fruto de um Termo de Colaboração firmado entre o governo, através da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico (Sedec), e a Federação das Indústrias (FIERN), com execução do SENAI-RN, por meio do Instituto SENAI de Inovação em Energias Renováveis (ISI-ER).
“As análises apresentadas neste trabalho consideram alturas de até 200 metros e medições realizadas por um conjunto de estações que instalamos em campo, entre elas, uma torre de 170 metros, a maior existente no Brasil, seis estações solarimétricas, e uma torre offshore (no mar), no Porto-Ilha de Areia Branca. O resultado são dados inéditos possibilitados pela evolução da tecnologia utilizada e por técnicas mais avançadas de análise do que as que estavam disponíveis no início dos estudos sobre o setor”, diz o diretor do SENAI-RN e do Instituto SENAI de Inovação em Energias Renováveis, Rodrigo Mello. Ele ainda fala sobre o impacto em futuros investimentos.
“O nível de precisão para a tomada de decisão dos investimentos passa a ser outro a partir de agora. É uma evolução de 100% e com mais uma vantagem: Os dados são permanentemente atualizados e ficam disponíveis online para a sociedade”, diz Mello.
Na análise da governadora Fátima Bezerra, “o Atlas Eólico e Solar do Rio Grande do Norte eleva nosso estado a um patamar ainda maior na agenda global das energias renováveis e permite aos investidores, e aos centros de pesquisa, acesso aos parâmetros necessários às tomadas de decisões”.
Produção
Em áreas com velocidades de ventos maiores que 8 m/s, a 200 metros, mais de 26% da área territorial do RN é apontada com condições ótimas para geração eólica.
Medições acima de 140 metros, com essa mesma velocidade, indicam uma capacidade instalável de 24,4 GW, o dobro da capacidade instalada e contratada atual do RN, de 12,2 GW.
A produção anual de energia nessas condições é estimada em 104 TWh/ano, o que representa mais de 70% de toda a energia elétrica gerada na região Nordeste no ano de 2021 (147 TWh) e mais de 4 vezes a energia eólica gerada atualmente no estado (24 TWh). Se elevada a altura para 200 metros esse valor sobe para 286 TWh/ano.
Na análise dos/as pesquisadores/as, esse potencial “deve fomentar a implantação de novas linhas de transmissão e incentivar a instalação de projetos voltados ao mercado livre que possam gerar energia a um custo competitivo, capaz de incentivar a instalação de novas indústrias no estado e fomentar a geração de novos empregos”.
Áreas de expansão eólica
O estudo mostra que “o Estado possui muitas áreas aptas para expansão do potencial eólico. Os destaques são as regiões imediatas – conforme definição do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – de Açu e Mossoró, Currais Novos, João Câmara e Natal, apontadas como as que apresentam maiores áreas aptas ao desenvolvimento de novos projetos”.
A região imediata de Natal é apresentada como a mais promissora. A área, segundo o Atlas, “apresenta um grande potencial de desenvolvimento eólico para a altura de 200 metros, sendo que mais da metade dessas áreas podem ser viáveis para instalação de parques eólicos no futuro”.
Na chamada área intermediária de Natal, que compreende 75 municípios, totalizando mais de 24% do território do Estado, a capacidade instalável para projetos de energia eólica vai de 35 GW a 51 GW – a maior do estado. Destacam-se, além da região imediata de Natal, também a de João Câmara.
Energia solar
O Rio Grande do Norte tem potência instalável de 82 Giga Watt pico (Gwp) para geração de energia solar centralizada – geração que inclui projetos acima de 5 Megawatts (MW), como usinas de grande porte. O valor estimado em potência é mais de 2,5 vezes o consumo de energia elétrica de todo o Nordeste brasileiro em 2019. O número sobe para 57 GWp de capacidade instalável se considerados apenas terrenos planos, o que corresponderia a aproximadamente 25 vezes o consumo total de energia do estado em 2019.
Em geral, todas as áreas do RN são muito promissoras para geração de energia centralizada, segundo o Atlas. A região intermediária de Mossoró aparece, entretanto, como destaque, com mais de 50% da capacidade instalável total.
O Atlas destaca ainda que as condições favoráveis no estado podem viabilizar projetos híbridos eólico-solar em municípios que já possuem muitos parques eólicos em operação, a exemplo de regiões como João Câmara e Mossoró.
Pesquisadores e pesquisadoras também avaliaram a integração sobre açudes e lagoas monitorados. Os estudos consideraram 10% da área útil em um conjunto de reservatórios e identificaram uma capacidade instalável de 5,4 GWp, o que equivale a 80% do consumo residencial, comercial, rural e industrial em 2019.
Para geração distribuída – frente do setor que engloba sistemas de geração de energia para residências e estabelecimentos comerciais e industriais de micro, pequeno e médio portes – o potencial potiguar também é apresentado como “abundante”. O potencial de capacidade instalável é de mais de 718 Megawatts pico (MWp), o dobro do que, em 2022, está instalado no estado. “Neste cenário”, estima o Atlas, é possível gerar entre 1 e 1,3 TWh de energia, o que representa quase 20% da energia consumida no estado em 2019”.
O documento também traz projeções sobre o uso de energia solar em imóveis públicos.