A Secretaria de Saúde de Parelhas, no Seridó potiguar, informou, na quarta-feira (1º), que acompanha a investigação de um caso suspeito da Doença de Creutzfeldt-Jakob (DCJ), uma doença neurodegenerativa rara, progressiva e fatal. O paciente, um homem de 72 anos, está internado em um hospital da rede privada em Natal, onde passou por exames e avaliações médicas. A Prefeitura destacou que o caso segue em investigação pelas autoridades de saúde do Estado e do Ministério da Saúde.
A Prefeitura reforçou ainda que não existe evidência científica de “relação da doença com o consumo de carne bovina ou seus derivados”. Isso porque a suspeita levantou dúvidas sobre a possível relação com a chamada “doença da vaca louca”, que afetou bovinos em diferentes países nos anos 1990. Apesar da associação popular entre os dois nomes, a pasta ressalta que se tratam de situações distintas. Nunca houve registros da “doença da vaca louca” no Brasil.
O médico neurologista Marcelo Marinho explica que a DCJ é uma enfermidade rara e grave que pertence ao grupo das doenças priónicas, causadas por uma proteína anormal chamada príon. “Ela provoca degeneração acelerada das células nervosas. Os sintomas costumam começar de forma sutil, com alterações de memória, dificuldades de concentração, mudanças de comportamento e desequilíbrios na coordenação motora. A progressão é rápida, colocando esta doença no grupo das demências rapidamente progressivas”.
O especialista destacou que existem diferentes formas da doença. “A mais comum é a forma esporádica, que surge sem causa conhecida e representa a maioria dos casos no mundo. Outros tipos são a genética, a iatrogênica, relacionada a procedimentos médicos do passado, e a variante, associada ao consumo de carne contaminada pelo agente da encefalopatia espongiforme bovina, a chamada doença da vaca louca. Mas não temos casos registrados desta forma no Brasil”.
Caso progrediu rapidamente, diz família
Apesar dos órgãos de Saúde tratarem o caso como “suspeito”, a família acredita que já existem elementos que confirmam o diagnóstico da DCJ. De acordo com a filha do paciente, os sintomas surgiram em julho com um formigamento na mão, que depois progrediu para perda completa dos movimentos, da fala e sinais de demência. Atualmente, o idoso está em coma e permanece internado em uma unidade privada de Natal.
“Há dois meses, meu pai começou com alguns sintomas, bem sintomas leves, e a gente não imaginava que chegaria ao estado que ele está hoje. Ele começou a sentir um formigamento na mão, e a gente achava que era problema ortopédico, como a síndrome do túnel do carpo, e começou a investigação. Então, tudo foi muito rápido”, disse a filha do paciente, que preferiu não se identificar.
Ela relatou que a evolução clínica ocorreu em poucos dias. “Ele foi formigando a mão, no outro dia ele já não controlava mais a mão para levar comida até a boca, no outro dia a mão já não respondia por ele, e o neurologista que nós procuramos mandou fazer a eletroneuromiografia, onde foi diagnosticado com a síndrome da mão alienígena. E essa síndrome da mão alienígena era já um sintoma da doença degenerativa que ele estava”, relata.
O neurologista Marcelo Marinho esclarece que diante de casos de demência rapidamente progressiva, deve-se fazer uma investigação minuciosa para Creutzfeldt-Jakob.
“Exame de ressonância magnética do crânio, eletroencefalograma e coleta do liquor através da punção lombar, buscando a presença da proteína 14-3-3, sendo esta uma proteína normal do sistema nervoso que, em condições de dano neuronal agudo (lesão rápida das células nervosas), pode ser liberada para o líquor, levando ao diagnóstico desta doença. Outra ferramenta moderna é o exame RT-QuIC também analisado no liquor, que detecta diretamente a forma anômala do príon e hoje é considerada de alta acurácia para confirmar casos suspeitos”.
A família contou que já fez exames que apontaram para o diagnóstico da DCJ. “Diante de eletroencefalograma, foi feita uma ressonância magnética bem detalhada do cérebro dele e de uma proteína que foi retirada do liquor da coluna 14-3-3, que é o exame principal, e foi confirmada a doença DCJ, que é a doença priônica, que no humano ela é chamada assim, mas nos animais, na zoonose, é chamada doença da vaca louca”, destaca a filha do paciente.
Marinho acrescentou que já houve casos de DCJ em diferentes Estados do Brasil, sempre da forma esporádica, mas não da variante associada à carne bovina. “O RN já teve outros casos nos últimos anos de Doença de Creutzfeldt-Jakob, assim como também em outros Estados do país, entretanto, não temos até o momento nenhum dado publicado que sugira existir a forma variante em território nacional, tratando-se usualmente do subtipo mais comum, a forma esporádica”.
Sesap pede orientações ao Ministério da Saúde
A reportagem da TRIBUNA DO NORTE apurou que a Secretaria de Estado da Saúde Pública do Rio Grande do Norte (Sesap) se reuniu com a família do paciente com suspeita de Doença de Creutzfeldt-Jakob. No encontro, em 26 de setembro, ficou definido, entre outras coisas, que a secretaria solicitaria novos exames e uma reunião com o Ministério da Saúde. Representantes das áreas técnicas de epizootias, vigilância em saúde e do Centro de Informações Estratégicas de Vigilância em Saúde (CIEVS), estiveram no encontro. A Sesap pediu novo exame da proteína 14-3-3, e que este seja feito pelo Laboratório Central de Saúde Pública do RN (Lacen). Também foi agendado contato com o Ministério da Saúde para orientações adicionais, garantindo acompanhamento técnico e padronizado do caso. A Saúde estadual informou aos familiares que planeja ainda articular uma reunião com o Instituto de Defesa e Inspeção Agropecuária do RN (Idiarn) e acionar a Subcoordenadoria de Vigilância Sanitária do município para adoção das providências necessárias. A TN solicitou esclarecimentos à Sesap e ao Ministério da Saúde, mas não houve resposta até o fechamento desta reportagem. O espaço segue aberto.
*Com informações de Tribuna do Norte

