A convite do Governo do Rio Grande do Norte, por meio da Secretária Extraordinária de Cultura, Mary Land Brito, e do diretor geral da Fundação José Augusto (FJA), Gilson Matias, a estreia do projeto “Rimas Potiguares” ocorrerá nesta sexta-feira (22), na Pinacoteca do Estado, com as repentistas e violeiras Santinha Maurício (PE) e Maria Soledade (PB). O evento contará também com a participação das cordelistas potiguares Tonha Mota e Cláudia Borges, das poetas da SPVA – Sociedade dos Poetas Vivos e Afins, Adélia Costa e Lúcia Eneida, além dos poetas Felipe Pereira e Helânio Moreira.
Cantoria é um evento cultural que reúne poetas repentistas que fazem desafios de forma improvisada, ao som da viola. Como a maioria dos gêneros da cultura popular, este ambiente não tem dado tanto espaço à participação feminina. Mas, como as mulheres não se cansam de “furar as bolhas”, a primeira edição, realizada no mês da mulher, vem suprir essa lacuna e traz dois nomes de peso, da região Nordeste.
“O Projeto ‘Rimas Potiguares’ é um projeto que nasce com a finalidade de percorrer o estado do Rio Grande do Norte, com edições mensais, promovendo apresentações artísticas de poetas, repentistas, emboladores, cordelistas, romancistas, rappers e outros artistas de linguagens afins”, destacou Gilson Matias.
Segundo o poeta Felipe Pereira, um dos colaboradores do projeto, “a dinâmica de cada edição terá como cargo chefe a cantoria de viola, dialogando com outras ramificações culturais, que envolvam a rima no seu conteúdo como por exemplo: coco de embolada, cordel, repente, mesa de glosa e Hip-hop”, explicou. Cada apresentação contará com a participação de poetas repentistas do estado potiguar e da região Nordeste, assim como representantes de outras manifestações da arte popular.
As edições serão mensais, sempre na última sexta-feira do mês, nos equipamentos culturais geridos pela FJA. A edição do mês de abril será no dia 27, na Casa de Cultura Sobrado da Baronesa, em Assú, conhecida como terra de poetas potiguares. O projeto é uma realização do Governo do Estado, por meio do gabinete da Secretária Extraordinária de Cultura e a Fundação José Augusto. A entrada é franca para todos os amantes da boa poesia.
SANTINHA MAURÍCIO
Santinha Maurício, é o nome artístico de Josefa Maria da Silva, que nasceu em 1951, na cidade de Limoeiro (PE). Herdou de seu pai, Seu Maurício, o pseudônimo que a acompanha. Passou a infância na fazenda Pedra Tapada, onde participou dos trabalhos na agricultura familiar e encarou a ausência de estudos formais. Na década de 1970, participou da gravação de um disco de vinil e de um vídeo, mas, segundo ela, não foi remunerada por isso.
Talentosa na arte do repente e da cantoria, Santinha, atualmente, vive em Abreu e Lima (PE), trabalha como costureira e não perde oportunidades de participar de apresentações e festivais com a sua viola.
“Comecei na profissão com 18 anos de idade, ano de 1968. Eu aprendi fazer versos, ouvindo os cantadores na rádio de Limoeiro e Carpina. Ouvindo-os, eu admirava e ficava imitando-os, minha irmã começou, aos dois anos depois entrei também. Levei uma vida sofrida, muito trabalho, mas com vitória, até hoje estou na profissão. Reclamar de alguma coisa se tem, mas eu acho que a vitória está sendo maior do que as perdas”, declarou.
MARIA SOLEDADE LEITE
Conhecida pela desenvoltura com que maneja a viola e o verso improvisado, a repentista é bastante aplaudida e elogiada por onde passa. Uma referência no Nordeste do Brasil. Natural de Alagoa Grande (PB), nasceu no ano de1942. Quando era criança, antes mesmo de aprender a ler, Soledade já fazia versos, ouvindo os violeiros que se apresentavam no sítio Genipapo onde morava. Das incursões dos poetas violeiros por aqueles rincões, ficaram as melhores lembranças de sua meninice e a aspiração de seguir a carreira de cantadeira e poeta popular.
Naturalmente, queria ser poeta repentista, mas não encontrou vida fácil no mundo masculino da cantoria. Na medida em que crescia e abria os olhos para o mundo, ela sabia que aquele era seu destino, seu emprego e direção. Encontrou em Minervina uma parelha para seu mister. Até hoje as duas mulheres repentistas brilham em festivais e cantorias de pé-de-parede por este Nordeste afora.
Segundo ela, o universo do repente é restrito ao mundo masculino. As mulheres só são chamadas para fazer participações especiais, nunca para competir. Soledade quando começou não teve apoio da família, diziam que era profissão de homem. E apesar disso, a repentista criou três filhos. “Nos anos de 1980, aconteceram diversos encontros apenas com mulheres. Não deixávamos os homens competir, apenas como convidados. Por isso, diziam que eram encontros feministas”, declarou a artista, que diz que está começando a viver agora.