A influência dos norte-americanos em Natal durante a II Grande Guerra
No ano de 1943, Natal estava repleta de contingentes de nosso Exército, Marinha e Aeronáutica, além de tropas da Marinha e do Exército dos Estados Unidos. Nesse ano aconteceu o famoso encontro do presidente Getúlio Vargas com o presidente norte-americano Franklin Delano Roosevelt a bordo do “Humboldt”, navio da Marinha de guerra americana.
Aquele ano até o final da guerra foi um período de lutas intensas contra as forças do Eixo. Mudaram-se os hábitos da cidade, influenciada por forte sentimento de liberdade. A Coca-Cola já era experimentada pelos natalenses, que eram convidados para as festas nos quartéis americanos.
A moda entre as mulheres ainda era ditada pela França – de dia, seda francesa e estampas florais, e musselinas para a noite. Laços drapeados e fricotes. As luvas ainda eram artigos indispensáveis.
As mulheres usavam meias e as saias eram mais generosas. As mulheres mais jovens passaram usar calças compridas, fruto da influência americana.
Cabelos frisados, batom, rouge e pó de arroz estavam na moda. As marcas poderiam ser Coty, Helena Rubinstein, ou a popular Royal Briar.
Por seu lado, os homens adotaram o “slack” (sileque), camisa de tecido bem mais leve.
O jogo e os cassinos funcionavam livremente. No Wonder Bar, na Rua Chile, aconteceram brigas violentas entre brasileiros e americanos, nas quais o excesso de álcool sempre era o motivo das contendas.
O jazz e o blues tomaram conta dos bailes nos clubes e tornaram-se populares, em virtude dos toca-discos existentes em todos os bares, predominantes na rua Dr. Barata. Ouviam-se Harry James, Glenn Miller, Tommy Dorsey e Benny Goodman.
O gosto pelo idioma inglês propagou-se e surgiram diversos professores e estudantes interessados no seu aprendizado. O vocabulário de Natal foi enriquecido com palavras novas: “Fox/show”, “yankees”, “money”, “drink”, “big”, “cocktail”, “short”, “boy friend”, “golf”, “relax”, “whisky on the rock”. Outras palavras eram mais usadas pela necessidade de uso constante: “blackout”, “all right”, “ok” e “slack”.
Os gêneros alimentícios subiram de preço e o setor imobiliário atingiu cifras alarmantes em nossa capital.
Tudo subiu repentinamente e a especulação tomou conta da cidade, chegando inclusive a faltar alimentos, que eram reservados aos que pagavam mais caro.
No ano anterior (1942) tinha havido a mudança no padrão monetário – mil-réis passaram a valer um cruzeiro.
O dólar valia 20 cruzeiros ou 20 mil-réis. O meio dólar (half dollar) equivalia a 10 cruzeiros. O quarto de dólar (quarter) valia 5 cruzeiros. O dime, pequena moeda americana de prata, equivalia a 2 cruzeiros. O dólar rolava solto pela cidade.
Os americanos nos ensinaram novos hábitos, como aproveitar melhor o nosso clima, nosso sol, nossas praias, de sentir a boa música e curtir boas amizades.
Dos americanos ficou a Base Aérea de Parnamirim, com sua respectiva estrada asfaltada, construída em três meses para servir durante a guerra, e que foi a única via de acesso àquela Base e à cidade de Parnamirim por mais de 30 anos, até a construção da Rodovia BR 101.
A hidrobase da Limpa, em Santos Reis, e o oleoduto para o transporte subterrâneo de combustíveis entre o Canto do Mangue e a Base de Parnamirim também foram notáveis empreendimentos de engenharia construídos pelos americanos em nossa capital.
Durante a II Grande Guerra a indústria eletrônica teve grande expansão – foi nessa época que surgiu o rádio valvulado de ondas curtas, longas e extralongas. Os modelos preferidos eram o “Crosley”, que acompanhava gratuitamente o indicador de estações, e o “Koerting”, mais raro por ser de procedência alemã.
Na foto acima, vemos americanos tomando cerveja na varanda do Grande Hotel, na Ribeira, em 1941. Ao fundo, é possível observar a Igreja do Bom Jesus. Foto: Hart Preston.
Bons tempos aqueles – dizem os saudosistas.
Com informações e imagem livro: Antiqualha – Elísio Augusto de Medeiros e Silva.
Pesquisa e Edição: Ricardo Tersuliano – Historiador Independente –e-mail: ricardotersuliano@yahoo.com.br